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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A ascensão dos populistas europeus de direita

Geert Wilders
Ele é um político que alega não ter nada contra os muçulmanos, e que diz detestar apenas o islamismo. Um homem carismático, de cabelos louros oxigenados, elegante, eloquente; e ele é também precisamente aquele tipo de político que nas últimas semanas tem amedrontado os principais partidos políticos da Alemanha.

O nome dele é Geert Wilders, um político holandês de uma espécie que não existe ainda na Alemanha: um populista que estimula o ódio contra o islamismo e o establishment, e que tirou muitos votos dos partidos tradicionais na sua nativa Holanda. Na verdade, ele tirou tantos votos que esses partidos não são mais capazes de formar um governo sem ceder a Wilders uma parcela do poder.

Wilders é a figura central de um movimento que há anos vem contando com um número cada vez maior seguidores na Europa, penetrando nos poderes legislativo e executivo, e fazendo com que os minaretes muçulmanos sejam proibidos na Suíça e as burcas na Bélgica. O fenômeno é uma espécie de rebelião popular contra o islamismo, dirigida por políticos e jornalistas de direita em toda a Europa. Estes indivíduos se apresentam como pessoas que desejam expressar um sentimento que, segundo alegam , ninguém mais ousa expressar: o sentimento de que os muçulmanos estão minando a Europa e de que o Ocidente precisa ser salvo. E essa abordagem tem tido sucesso.

“Uma ideologia oposta a tudo o que tem importância para nós”

O homem que convidou Wilders para discursar em Berlim, a capital alemã, no próximo sábado, gostaria de imitar o político holandês. René Stadkewitz, 45, um homem bem vestido de cabelos curtos, foi recentemente expulso do diretório de Berlim do partido alemão de centro direita União Democrata Cristã (em alemão, Christlich Demokratische Union Deutschlands, ou CDU), que ele representou durante anos como membro ordinário do parlamento da cidade-Estado de Berlim. Agora ele fundou um novo partido chamado “Die Freiheit” (“A Liberdade”), em uma alusão ao Partido da Liberdade, a agremiação de Wilders.

Wilders está viajando para Berlim para ajudar Stadtkewitz a lançar o novo partido. Quem quiser ver o proeminente convidado tem que se registrar online e pagar com antecedência uma taxa. Por motivos de segurança, o local em que se dará o evento só é revelado àqueles participantes registrados que pagaram a taxa.

Stadkewitz está com pressa. Ele está prestes a levar uma equipe de televisão holandesa para um passeio por Berlim no seu automóvel BMW. Ele deseja mostrar aos jornalistas a sociedade paralela muçulmana que não estaria sendo revelada pela mídia alemã.

Um para-raios para a raiva popular

Na Alemanha há um novo debate desencadeado por um novo livro de Thilo Sarrazin, um político polêmico do Partido Social Democrata da Alemanha (em alemão, Sozialdemokratische Partei Deutschland, ou SPD), no qual ele descreve os imigrantes muçulmanos como uma ameaça existencial à Alemanha. Desde que o livro foi publicado e recebido com grande aprovação popular, muitos colunistas, acadêmicos e políticos têm se perguntado se a Alemanha continuará sendo uma exceção no que se refere ao seu cenário político. Este é ainda o único país da Europa Ocidental que não tem um partido populista de direita atuando como um para-raios para a raiva popular dirigida contra o Islamismo e o establishment político.

Nos últimos meses, partidos populistas de direita impossibilitaram a formação de governos de maioria em três países da União Europeia: Bélgica, Holanda e, mais recentemente, Suécia. Embora os populistas de direita neste último país tenham obtido apenas 5,7% dos votos, isso foi suficiente para privar a atual coalizão governista de centro-direita de uma maioria absoluta. Todos os três países foram conhecidos durante muito tempo pelo liberalismo político que praticavam, mas agora quem está ganhando influência são os partidos políticos que veem o islamismo como “a maior ameaça estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial”, conforme diz Jimmie Akesson, 31, o presidente do Democratas Suecos (em sueco, Sverigedemokraterna, ou SD).

Partidos populistas de direita têm feito parte há anos de coalizões governamentais na Itália e na Suíça, e eles contam com cadeiras nos parlamentos da Dinamarca, da Áustria, da Noruega e da Finlândia. A Frente Nacional (em francês, Front National, ou FN) de Jean-Marie Le Pen, conquistou 9% dos votos nas eleições regionais francesas da última primavera, com uma campanha anti-islâmica. Em março deste ano, a Liga Norte (em italiano, Lega Nord per l'Indipendenza della Padania, ou simplesmente Lega Nord) conquistou o controle político sobre as regiões de Veneza e Piemonte. Durante a campanha eleitoral, os apoiadores do partido distribuíram pedaços de sabão, para serem usado, conforme eles instruíram, “após contatos físicos com imigrantes”.

Os partidos políticos descobrem o poder da islamofobia

O populismo de centro-direita, em si, não é nenhuma novidade. Ele faz parte do cenário político de vários países europeus há 30 anos, às vezes com sucesso, outras vezes não. Porém, o que é novidade é o fato de os populistas de direita terem descoberto uma questão que atrai bem mais a atenção dos eleitores do que o ódio usual contra estrangeiros e a classe política. Eles descobriram uma nova e poderosa bandeira política na resistência contra a crescente visibilidade do islamismo na Europa. Esses partidos se apresentam aos eleitores como os defensores de valores europeus e, no entanto, tanto eles quanto os seus eleitores parecem pouco se importar com o fato de esses valores como, por exemplo, a liberdade de religião, estarem sendo pisoteados durante a sua luta.

O temor de que os imigrantes muçulmanos possam modificar a natureza da sociedade europeia penetra profundamente no seio da sociedade. Nas pesquisas de opinião pública realizadas na Alemanha, cerca de três quartos dos entrevistados afirmaram estar preocupados com a influência do islamismo. Sentimentos similares são manifestados em outros países, ainda que a imigração na Europa esteja em queda há anos.

As práticas bárbaras em alguns países muçulmanos – nos quais as mulheres são obrigadas a usar burcas, os homossexuais masculinos e femininos são perseguidos e as adúlteras apedrejadas, tudo isso em nome da religião – são, sem dúvida alguma, profundamente contrárias aos modernos valores europeus. E é muito claro também que muitos países enfrentam sérios problemas para integrarem imigrantes às suas sociedades. Mas esses fatores por si sós não explicam todo esse desconforto. Esse mal-estar parece ser derivado do fato de os partidos tradicionais não terem sido capazes de transmitir aos eleitores a sensação de que estão tentando resolver esses problemas. A crise econômica dos últimos dois anos também deixou a classe média nervosa. A população europeia está envelhecendo, e as regiões do mundo com populações mais jovens estão alcançado a Europa. Muita gente anda preocupada quanto ao futuro em um mundo globalizado, no qual o equilíbrio de poder está sofrendo modificações.

Declínio dos partidos tradicionais de centro-esquerda

Nos países do norte da Europa, em particular, a ascensão dos populistas é acompanhada pelo declínio do apoio aos partidos social-democratas tradicionais de centro-esquerda. Isso se deve em parte ao fato de os imigrantes terem a mesma propensão exibida por quaisquer outros indivíduos de abusar do sistema de bem-estar social promovido pelos partidos social-democratas. Mas o problema deve-se também ao fato de os partidos tradicionais não terem feito progressos em relação aos detalhes das políticas de integração.

Eles criaram especialistas em integração, departamentos de imigração e conferências de integração, mas perderam de vista as preocupações dos seus cidadãos. E por serem também favoráveis à liberdade de expressão, ao feminismo e ao secularismo, eles são incapazes de se defender da retórica dos populistas de direita, que citam esses mesmos valores ao defenderem a sua batalha contra símbolos muçulmanos como os lenços de cabeça, os minaretes e as mesquitas. A única diferença é que os populistas de direita são mais barulhentos e simplificam essas questões até que a sua posição pareça ser lógica.

Os Democratas Suecos, que têm as suas origens na extrema direita, aprenderam as suas lições com modernos populistas de direita como Wilder, e também com o Partido do Povo Holandês (em holandês, Dansk Folkeparti, ou DF) e a sua líder, Pia Kjaersgaard. Durante a recente campanha eleitoral, os democratas suecos colocaram na televisão uma propaganda eleitoral mostrando uma mulher idosa caminhando penosamente com o auxílio de um andador e sendo quase pisoteada por mulheres de burca empurrando carrinhos de bebê. As mulheres de burca seguem apressadamente na direção de um balcão com a inscrição “Orçamento do Governo”. “Em 19 de setembro você poderá pisar no freio da imigração – e não no freio da aposentadoria”, diz uma voz na propaganda.

O conservadorismo encontra-se com as políticas de esquerda

Jogar imigrantes contra pensionistas é uma das táticas usadas por Wilder. Ele mistura políticas de direita e de esquerda, a islamofobia e o medo da exploração do estado de bem-estar social. “Este é um dos nossos maiores sucessos, esta combinação de conservadorismo cultural e esquerdismo em relação a outras questões”, afirma Wilders, que se considera um indivíduo contrário à imigração, mas “com um espaço no coração para os fracos e os idosos”.

Wilders foi um dos primeiros políticos a utilizar consistentemente o islamismo como questão eleitoral, e muita gente seguiu esse exemplo. É revelador o fato de o movimento anti-islâmico não ter crescido logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2010, ainda que os atentados tenham sido o principal desencadeador do medo e da incerteza atuais em relação ao terrorismo muçulmano. Na verdade, esse movimento só chegou ao seu clímax nos dias de hoje, anos depois dos ataques.

Aparentemente, a nova direita tem pouca coisa em comum com a velha direita, ainda que o primeiro político europeu direitista tenha investido contra os muçulmanos já nas décadas de setenta e oitenta. Esse político foi Jean-Marie Le Pen, o fundador da Frente Nacional da França, que escolheu como alvos os imigrantes oriundos das ex-colônias francesas do Norte da África. Le Pen construiu a sua carreira apresentando-se como uma furiosa figura política que não pertencia ao establishment político tradicional. Ele era primitivo e antiquado, muitas vezes racista e antissemita, e mesmo assim conseguiu provocar um impacto no cenário político francês. No primeiro turno das eleições presidenciais de 2002, Le Pen chegou a obter mais votos do que o candidato socialista, Lionel Jospin. Isso foi um choque para a elite francesa.

O que aconteceu na França ocorreu também, desde então, em vários outros países; nações nas quais os partidos tradicionais procuraram neutralizar a extrema direita: os políticos centristas deslocaram-se para a direita. Foi isso o que ocorreu na Dinamarca, onde o Partido do Povo Dinamarquês apoia no parlamento um governo minoritário de direita liberal desde 2001. E ainda que os populistas não façam parte do governo, a Dinamarca adotou leis de imigração consideravelmente mais rígidas.

A Nova Frente Nacional da França


Quando o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, deu início à sua campanha eleitoral em 2007, foi difícil distinguir parte da sua retórica daquela usada por Le Pen. Por exemplo, ele afirmou que pessoas que “matam carneiros em banheiras” não são bem vindas na França, e ganhou a eleição porque uniu os votos da direita. Agora Sarkozy provavelmente irá se confrontar em breve com uma nova Frente Nacional, uma versão diluída – mas talvez mais perigosa – da frente original. Marine Le Pen, a filha do fundador do partido, fará campanha para o líder do partido em janeiro do ano que vem e pretende criar um partido que seja também capaz de atrair o centro político.

Marine Le Pen se considera uma pessoa não dogmática e intelectual. Ela usa trajes executivos e distribui beijos durante as suas peregrinações de campanha pelos mercados na área metropolitana de Paris. “Eu quero unir todos os franceses”, afirma Marine Le Pen. Ao mesmo tempo, da mesma maneira que Wilders, ela ataca a burca e a islamização do país. Ela foi mais uma a reconhecer que o apelo à islamofobia é uma tática mais promissora do que a tradicional xenofobia.

Marine Le Pen representa uma ameaça a Sarkozy, cuja guinada para a direita neste ano demonstra como o presidente francês leva essa ameaça a sério. O debate lançado por ele na França sobre a “identidade nacional” é claramente dirigido contra os muçulmanos, e ele também deu início a uma campanha pela deportação dos ciganos. Até o momento essas táticas em nada beneficiaram Sarkozy nas pesquisas eleitorais.

Tomando ideias emprestadas

A transformação da Frente Nacional é apenas um dos exemplos da nova onda anti-islâmica que varre os partidos populistas de direita da Europa Ocidental. Essa é a questão que une todos esses partidos através da Europa, que chegam até a tomar emprestadas as ideias de marketing dos seus congêneres de outros países. Por exemplo, o Partido Libertário da Áustria (em alemão, Freiheitliche Partei Österreichs, ou FPÖ) copiou um jogo do website do Partido do Povo Suíço (em alemão, Schweizerische Volkspartei, ou SVP; em francês, Union Démocratique du Centre; e em italiano, Unione Democratica di Centro, ou UDC), no qual os jogadores atiram contra minaretes muçulmanos que se destacam em uma paisagem familiar. A única diferença é que a versão austríaca inclui também uma opção que possibilita atirar nos muezins.

Esse fenômeno não é novo, e ele não é capaz de ocultar o fato de que ainda existem várias diferenças entre os partidos que estão sendo agregados sob a égide do populismo de direita. É verdade que a maioria desses partidos sempre foi contrária à imigração, posicionou-se contra a elite política, contou com líderes carismáticos e teve um desempenho particularmente bom em países nos quais os partidos tradicionais cultivam uma cultura de consenso. Mas um neoliberal de raízes rurais como o político suíço Christoph Blocher, do SVP, tem pouca coisa em comum com Marine Le Pen, a demagoga francesa. As suas origens são muito diferentes, da mesma forma que vários detalhes referentes às suas políticas.

O que faz deles aliados ideológicos é a visão comum do islamismo como o inimigo. Mesmo assim, é improvável que esses partidos continuem a cooperar no futuro através das fronteiras nacionais, apesar do sonho de Wilders de liderar um movimento desse tipo por toda a Europa. A “Aliança Internacional da Liberdade”, criada por ele em julho último, tem duas metas: “defender a liberdade” e “conter o islamismo”. Em um vídeo que atualmente é o único conteúdo do website da aliança, Wilders afirma que deseja agregar as forças contra o islamismo existentes na Alemanha, na França, no Reino Unido, no Canadá e nos Estados Unidos.

Quando foi questionada sobre a iniciativa de Wilders, Marine Le Pen declarou a “Der Spiegel”: “Sem uma revolução conjunta, a nossa civilização estará condenada”. Isso pode ser um reconhecimento de metas comuns, mas não dá a impressão de que ela necessariamente deseje juntar-se à organização de Wilders.

Cobrando preços elevados para discursar

Até o momento, Wilders só teve sucesso no exterior junto a grupos islamófobos de direita nos Estados Unidos. A convite desses grupos, ele viaja há anos pelos Estados Unidos, coletando contribuições para a sua suposta batalha pela defesa da liberdade de expressão e fazendo palestras para fãs entusiasmados – e também cobrando, no decorrer deste processo, um preço elevado pelos seus discursos.

David Horowitz, um jornalista conservador milionário com posições anti-islâmicas, disse à rede de televisão holandesa Avro que paga US$ 20 mil (R$ 34,2 mil), para assistir a cada palestra de Wilders. Horowitz descreve Wilders como o “Winston Churchill da guerra contra o islamismo”. No nono aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, Wilders participou de uma manifestação no Marco Zero, quando pronunciou-se contra a planejada construção de uma centro comunitário muçulmano a dois quarteirões do local dos atentados terroristas.

As plateias norte-americanas são mais entusiasmadas do que as de qualquer outro país em relação a Wilders, que conta a elas histórias de horror sobre como os muçulmanos se infiltraram na Europa. Os muçulmanos representam apenas 1% da população total dos Estados Unidos, e enquanto o ódio dos eleitores dos populistas direitistas europeus é direcionado contra imigrantes reais nos seus países, os grupos conservadores norte-americanos cultivam uma “islamofobia sem muçulmanos”. Cerca de 50% dos norte-americanos afirmam atualmente ter uma impressão negativa em relação ao islamismo, uma percentagem superior àquela registrada logo após os atentados de 11 de setembro de 2001.

“Obrigado, Thilo Sarrazin!”

Neste final de semana, Wilders estará em Berlim como representante de um movimento político para o qual já parece existir um mercado na Alemanha, ainda que atualmente esse movimento careça de um divulgador eficiente.

Sem dúvida haverá uma plateia quando o ex-político da CDU, René Stadtkewitz, saudar Wilders em Berlim. O polêmico site alemão “Politicamente Incorreto”, há anos um local de encontro para os críticos mais radicais do islamismo, está promovendo intensamente a visita de Wilders. O website está até vendendo camisetas, a 19,90 euros (R$ 46,16) cada, com a inscrição “Geert Wilders – Berlim – 2 de outubro de 2010” - disponível em 19 cores diferentes.

Não há camisetas de Stadtkewitz à venda, embora o website venda camisetas com a inscrição, “Obrigado, Thilo Sarrazin!”.

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