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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Americanos consideram chanceler como "Teflon" e ministro das Relações Exteriores da Alemanha "imprevisível"


Angela Merkel, chanceler alemã, discursa na Cúpula dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, na sede da Organização
das Nações Unidas, em Nova York
Os despachos do Departamento de Estado que foram divulgados mostram o modo crítico como os Estados Unidos veem a Alemanha. Eles veem a chanceler Merkel como “avessa a risco” e o ministro Westerwelle como “imprevisível”. A embaixada americana em Berlim possui informantes em todos os níveis do governo alemão.

O informante secreto que entregou documentos internos das negociações para formação da coalizão alemã aos americanos, em outubro de 2009, não deseja ser revelado. E os americanos têm sido cuidadosos na proteção de sua identidade. Eles simplesmente o chamam de “fonte bem posicionada”.

A fonte é um membro do Partido Democrata Livre (FDP), o parceiro júnior da coalizão com a União Democrata Cristã (CDU) de Merkel. Philip Murphy, o embaixador americano em Berlim, o descreve como sendo “um membro jovem, leal e em ascensão do partido”. O cabograma é de número 229153, enviado em 9 de outubro de 2009 e está marcado como sendo “confidencial”. Murphy nunca achou que ele se tornaria público.

O cabograma foi enviado 12 dias depois das eleições gerais alemãs, quando a chanceler alemã, Angela Merkel, estava no processo de negociação de uma coalizão de governo com o presidente do FDP, Guido Westerwelle. A Alemanha estava buscando traçar um novo curso e agora parece que o governo americano era uma mosca na parede. Murphy, os cabogramas deixam claro, estava orgulhoso disso.

Em 7 de outubro, o informante se encontrou com diplomatas americanos. Ele trouxe consigo uma pilha de documentos internos: as listas de grupos de trabalho e seus membros, agendas e memorandos escritos à mão. Ele também anotou quem disse o que durante as reuniões –ele foi encarregado pelo FDP de manter minutas das negociações.

Ele contou aos americanos que ocorreu uma discussão interna a respeito de desarmamento, e que Westerwelle queria que os Estados Unidos removessem suas armas nucleares de solo alemão. O ministro do Interior, Wolfgang Schäuble, dos democratas-cristãos de Merkel, rebateu que as armas serviam como dissuasão contra o Irã. Westerwelle, segundo o informante, respondeu que aquilo não era verdade, porque as ogivas nucleares não podiam alcançar o Irã.

Merkel, Murphy escreve em seu memorando, no final interrompeu o debate ao apontar que um unilateralismo alemão na questão do desarmamento não levaria a lugar nenhum.

‘Feliz em compartilhar suas observações’

A revolta subsequente do FDP com Schäuble foi intensa. A fonte disse que Schäuble era “neurótico” e “via ameaças em toda parte”. O FDP, ele acrescentou posteriormente, o via como “um velho zangado” que buscava retratar a si mesmo como a “eminência parda” da CDU, visando expandir sua influência. O informante do FDP esperava que a CDU também visse o papel de Schäuble como sendo “contraproducente”. No final da reunião, ele entregou várias cópias dos documentos de seus arquivos sobre as negociações de formação da coalizão. “Buscaremos reuniões com a fonte após as rodadas de negociação no plenário, para ver se leituras adicionais são possíveis”, um Murphy obviamente satisfeito informou Washington.

O informante desconhecido do governo alemão deve ser ousado e inescrupuloso, ou talvez apenas ingênuo e com sede de poder. Quem sabe o que exatamente motiva um funcionário do partido a revelar detalhes das negociações da coalizão de seu partido para diplomatas americanos?

Murphy se esforçou para fornecer uma explicação à sua chefe, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. A fonte, ele escreve, “ofereceu (ao funcionário da embaixada) documentos internos do partido no passado. Empolgado com seu papel como tomador de notas das negociações do FDP, ele parecia feliz em compartilhar suas observações e entendimentos, assim como em ler para nós diretamente de suas anotações”.

Poucos dias depois, em 15 de outubro, o informante estava pronto para entregar seu próximo lote de informação. Desta vez ele trouxe consigo uma lista de 15 itens que o FDP queria ver incluído no acordo da coalizão. Novamente, eles incluíram pedidos para “início de negociações com nossos aliados” para retirada das armas nucleares da Alemanha no futuro próximo. Quão importante é o desarmamento nuclear para Westerwelle, perguntaram os diplomatas americanos? Muito importante, respondeu a fonte do FDP. Mas ele também disse que Westerwelle queria fazer o favor a Merkel de permitir que ela fosse eleita chanceler antes da viagem dela para Washington, em 2 de novembro.

Detalhes do processo de tomada de decisão alemão

Novamente, Murphy envia um despacho para Washington –o cabograma confidencial é intitulado: “Alemanha pode ter nova coalizão de governo em duas semanas”. Ele é codificado “Noforn”, o que significa que não deve ser visto por governos estrangeiros, e está marcado como prioritário.

Os cabogramas claramente indicam que a fonte forneceu detalhes aos Estados Unidos do processo de tomada de decisão do governo alemão antes mesmo do acordo de coalizão ter sido fechado. O governo Merkel deveria começar a procurar por um traidor dentro de suas próprias fileiras? E como Berlim deveria reagir em relação a diplomatas americanos que mantêm fontes nos mais altos escalões da política alemã, se comportando em Berlim como se fossem funcionários de uma agência de inteligência?

Os dois cabogramas de Murphy fazem parte do vazamento mais abrangente na história da diplomacia. Eles vêm de dentro do Departamento de Estado americano, dois de um total de 251.287 cabogramas do departamento que a organização WikiLeaks obteve, provavelmente da mesma fonte que os documentos anteriores sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão. Após os segredos militares que viraram manchete em todo o mundo, mais recentemente no final de outubro, essas novas revelações se concentram na segunda coluna da política de poder americana: a diplomacia.

Para o governo americano, a sensação deve ser como se tivessem roubado suas roupas. Os Estados Unidos foram expostos no mercado da política global. Os despachos confidenciais começam com um cabograma de 28 de dezembro de 1966 e terminam em 28 de fevereiro de 2010. Eles incluem relatórios de situação de embaixadas americanas de todo o mundo enviados para Washington. Alguns também são instruções do Departamento de Estado enviadas para seus postos no exterior. A maioria deles é do governo do presidente George W. Bush e do início da presidência de seu sucessor, Barack Obama. Apenas do ano de 2008, o ano da vitória eleitoral de Obama, há 49.446 despachos. Um total de 1.719 deles vem da embaixada americana em Berlim.

Um rede de informantes da embaixada americana

A revelação dos documentos é um desastre de proporções globais para a política externa americana, uma que também afetará as relações de Washington com Berlim. A fé na capacidade dos americanos de proteger seu tráfego diplomático está profundamente abalada –isso por si só mudará as relações alemãs-americanas. Uma diplomacia de uma superpotência nunca foi revelada dessa forma.

Mas os documentos secretos também pintam um quadro de uma paisagem política na Alemanha coberta por uma rede de informantes da embaixada americana, que chega até mesmo às capitais estaduais alemãs. É um retrato vergonhoso de uma classe política que não tem nada melhor para fazer, exceto agir pelas costas uns dos outros com os americanos –e praticar conspiração, denúncia e obstrução.

Os diplomatas americanos informaram a Washington quando o ministro da Economia, Rainer Brüderle, se queixou a respeito do ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg. Eles registraram quando Guttenberg entrou em choque de novo com Westerwelle, ou quando a secretária-geral do SPD, Andrea Nahles, criticou o também social-democrata Frank-Walter Steinmeier. Os relatos nada lisonjeiros foram enviados para Washington. Os Estados Unidos, os documentos deixam claro, sabem mais a respeito dos segredos da política alemã do que muitos políticos alemães.

Os cabogramas diplomáticos também revelam algo mais: o relacionamento transatlântico não está em boa forma. A visão dos Estados Unidos da política alemã é distanciada e cautelosa. Os diplomatas americanos nunca realmente se entenderam com a chanceler Angela Merkel. Eles desconsideram Horst Seehofer, o presidente do partido bávaro irmão da CDU, a União Social Cristã (CSU), por causa de sua ignorância e populismo. Eles sentem que o ministro do Desenvolvimento, Dirk Niebel (FDP), foi uma escolha estranha para o cargo. E o ministro das Relações Exteriores, Westerwelle? Os emissários americanos criticam em particular o chefe da diplomacia alemã. Os cabogramas secretos o descrevem como incompetente, vaidoso e crítico dos Estados Unidos, assim como um fardo para o relacionamento transatlântico.

Parte 2

A ‘falta de seriedade’ do ministro das Relações Exteriores alemão

As preocupações dos Estados Unidos cresceram à medida que as eleições gerais de 2009 se aproximaram. Westerwelle fez um discurso naquele ano ao Conselho Alemão de Relações Exteriores (Dgap), um ensaio para seu possível futuro papel como ministro das Relações Exteriores. Além disso, os diplomatas americanos falaram com funcionários do governo em Berlim sobre Westerwelle, conversaram com líderes do FDP e convidaram o próprio Westerwelle para visitar a embaixada americana –o que provou ser mais difícil do que o esperado. O presidente do FDP insistiu que só iria ao encontro se o embaixador se encontrasse com ele pessoalmente. Nove dias antes da eleição, em 18 de setembro de 2009, o embaixador Murphy enviou suas conclusões em um cabograma para Washington.

“Os comentários de Westerwelle no Dgap nos forneceram um vislumbre do pensamento westerwelliano. Eles carecem de substância, sugerindo que o comando por Westerwelle de questões complexas de política exterior e de segurança exigirá um aprofundamento, caso ele venha a representar de forma bem-sucedida os interesses alemães no palco mundial. (...) Por sua própria admissão, Westerwelle nunca nutriu seriamente um fascínio por assuntos internacionais. A integrante do FDP no Bundestag, Marina Schuster, disse (a um funcionário da embaixada) recentemente que a política externa não é o ‘verdadeiro amor’ de Westerwelle, mas que ele assumirá o cargo devido à sua visibilidade e por estar ligado ao posto de vice-chanceler.”

“Como disse um renomado analista de política externa em Berlim (a um funcionário da embaixada), ele carece de seriedade e é visto como oportunista demais para merecer confiança como ministro das Relações Exteriores. No conclusão de seu discurso no Dgap, vários funcionários (do Ministério das Relações Exteriores alemão) comentaram (com o funcionário da embaixada) que ainda não tinham sido persuadidos de que Westerwelle tinha a ‘experiência em política exterior e de segurança necessária’ para se tornar um ministro das Relações Exteriores bem-sucedido, apesar de não terem dúvidas a respeito de sua capacidade de aprender rapidamente. Havia um consenso entre os funcionários –causado, talvez, por inclinação política– de que Westerwelle era arrogante e concentrado demais na manutenção de seu ‘culto da personalidade’.”

Diplomacia de amor exigente

“Westerwelle tem dificuldade em esconder seu ressentimento em relação a Washington, devido ao seu sentimento de que nem seu alto escalão e nem a embaixada em Berlim o cortejaram durante seu período na oposição. (...) Também revelador foi o senso de humor levemente afiado de Westerwelle, primeiro nos encantando ao perguntar sobre a saúde da secretária Clinton após ter machucado seu cotovelo, e em seguida brincando que perguntaria à secretária (de Estado) se a embaixada tinha transmitido seus votos de melhora.”

O relatório termina com um panorama um tanto otimista: “Se Westerwelle se tornar Ministro das Relações Exteriores, nós podemos esperar uma diplomacia de amor exigente por parte de alguém que se orgulha de ser nosso amigo ‘próximo’, mas que na verdade permanece cético a respeito dos Estados Unidos e dos objetivos de sua política externa. Westerwelle será um amigo, mas ele não hesitará em nos criticar se interesses vitais alemães estiverem em jogo ou sendo contestados. A irritabilidade de Westerwelle em relação aos Estados Unidos provavelmente seria neutralizada pela atenção de Washington há muita desejada que ele receberia caso se tornasse ministro das Relações Exteriores. A elite da política externa alemã continuará a vê-lo com ceticismo.”

Murphy, claramente não impressionado com Westerwelle, conclui seu despacho com uma sentença reveladora: “Ele não é nenhum Genscher”, uma referência ao altamente capaz ministro das Relações Exteriores alemão do ex-chanceler Helmut Kohl.

O embaixador repetiu sua avaliação negativa várias vezes. Em um briefing escrito poucos dias antes da eleição, Murphy chama Westerwelle de “um enigma que foi incapaz de se estabelecer como voz significativa nas relações exteriores”. Em um despacho posterior de setembro de 2009, o embaixador escreve: “Westerwelle se torna rapidamente defensivo e quando contestado diretamente, especialmente por seus pares políticos, se torna agressivo e desdenhoso em relação às opiniões os outros”.

A experiência superior de Merkel em política externa

Murphy escreve que os americanos se verão diante da questão de como melhor lidar com alguém que ele descreve como tendo um relacionamento ambivalente com os Estados Unidos. Ele declara: “Westerwelle é imprevisível; sua personalidade exuberante não se presta a ficar atrás da chanceler Merkel em qualquer assunto. Caso ele se torne o ministro das Relações Exteriores, há uma maior possibilidade de desacordo entre a chancelaria e o Ministério das Relações Exteriores”. Mesmo meses após a eleição, a imagem de Westerwelle mudou para os Estados Unidos, mas pouco. O ministério de Westerwelle, deixa claro um despacho de 5 de fevereiro de 2010, “ainda pergunta (de modo privado para nós) de onde ele tira a direção de suas políticas”.

A avaliação negativa do embaixador foi refletida na atividade política diária entre Berlim e Washington. O Departamento de Estado passou a tratar a chancelaria como seu ponto preferido de contato. Em comparação a Westerwelle, escreve Murphy, Merkel tinha “mais experiência em governo e política externa”, acrescentando: “Nós não devemos subestimar o desejo dela de deixar um legado político para si mesma (...) seu domínio provavelmente terá um benefício líquido para os interesses americanos”.

Em questões-chave, os diplomatas americanos começaram a recorrer a Christoph Heusgen, o conselheiro de política externa da chanceler. Do ponto de vista americano, Heusgen se transformou  em uma espécie de ministro das relações exteriores paralelo. Em um encontro em Berlim em novembro de 2009, um funcionário da embaixada americana perguntou a Heusgen como o governo pretendia lidar com exigência do parceiro de coalizão para que todas as armas nucleares táticas fossem retiradas da Alemanha. O informante da FDP disse à embaixada quão importante a questão era para Westerwelle. Foi uma das poucas questões na qual o novo ministro das Relações Exteriores não apenas se manteve fiel a seus princípios, mas também refletia a posição de grande parte da população alemã.

Mas ao falar com os americanos, Heusgen se distanciou da exigência e alegou que Westerwelle impôs a meta ao partido de Merkel durante as negociações para formação da coalizão. Um cabograma americano nota: “Heusgen disse que segundo seu ponto de vista, não fazia sentido uma retirada unilateral ‘das 20’ armas nucleares táticas ainda na Alemanha, enquanto a Rússia mantém ‘milhares’ delas”.

A importância cada vez menor da Europa

O relacionamento difícil entre o governo americano e vários altos funcionários alemães piora relações políticas que já passavam por uma fase difícil. Do ponto de vista americano, o papel de países como a Alemanha mudou desde a Segunda Guerra Mundial. A Europa não é mais tão importante quanto já foi.

Os Estados Unidos agora veem a China como poder que mais provavelmente desafiará o domínio americano no século 21. Há especulação em Washington sobre se uma ordem mundial G2 é realista –uma em que duas superpotências estabelecerão o curso. Os europeus, incluindo os alemães, exercem um papel secundário na nova ordem mundial.

Ampliando a situação está o fato do presidente Obama carecer de um laço emocional com a Europa. Ele passou sua juventude na Indonésia e no Havaí, e tende a olhar para o outro lado do Oceano Pacífico em vez do outro lado do Atlântico. Seus relacionamentos com os políticos europeus são profissionalmente frios.

Isso também é verdadeiro em relação ao seu relacionamento com Angela Merkel. A chanceler mantinha uma boa afinidade com o ex-presidente George W. Bush, apesar de discordarem em muitos assuntos. Bush gostava do entusiasmo com que Merkel, uma ex-cidadão da Alemanha Oriental, abordava o conceito da liberdade. Para a chanceler alemã, os Estados Unidos ainda eram a “terra das oportunidades ilimitadas”. Merkel gostava do fato de que seu charme funcionava com Bush. Em troca, ela até mesmo suportou a massagem que ele fez no pescoço dela em público.

Parte 3

O entendimento americano das disputas internas alemãs


Merkel é mais reservada em relação ao seu sucessor, Barack Obama. Ele é imune à ofensiva de charme dela e a antítese da abordagem dela à política. Obama demonstrou que a política pode inspirar as pessoas. Merkel, por outro lado, aborda a política com a precisão de um cientista. Ela gosta de apontar que Obama anunciou várias reformas, mas conseguiu muito pouco.

O governo americano sente esta distância –ela foi repetidas vezes assunto de discussões internas. Nos preparativos para a visita da secretária Clinton a Berlim, no primeiro semestre de 2009, o embaixador Murphy escreveu o seguinte a respeito de Merkel: “Ela ainda está tentando entender o modo de trabalhar do novo governo em Washington e às vezes parece incerta”.

Merkel se encontraria com Obama durante um encontro de cúpula da Otan, na cidade turística de Baden-Baden, no sudoeste alemão, em abril de 2009. Nos preparativos para o encontro, John Koenig, o ex-chargé d’affaires da embaixada americana em Berlim, escreveu um memorando sobre Merkel para o novo presidente americano: “Merkel é metódica, racional e pragmática”, diz o memorando. “Quando encurralada, Merkel pode ser tenaz, mas é avessa a risco e raramente criativa”, ele prossegue, concluindo que “ela permanecerá uma aliada muito cautelosa até a eleição”.

Os diplomatas americanos notam sua visão de que a chanceler aborda a diplomacia internacional visando determinar como pode lucrar com ela domesticamente. Ela é “conhecida por sua reticência em adotar políticas agressivas, preferindo permanecer em segundo plano até a ‘correlação de forças’ estar clara e então buscar conduzir o debate em sua direção preferida”. Nos relatórios confidenciais, a chanceler é citada várias vezes como Angela “Teflon” Merkel, aparentemente por pouca coisa aderir nela.

Uma chanceler furiosa


Mas, notam os despachos, Merkel pode ser muito enérgica após se decidir. Em novembro de 2009, no auge da luta em torno do futuro da fabricante de automóveis alemã Opel, a chanceler voou para Washington, onde descobriu que a General Motors (GM) tinha decidido, contrário aos anúncios anteriores, em não vender a Opel para a fabricante canadense de autopeças Magna. Merkel ficou chocada e, graças à rede de informantes, a embaixada americana soube rapidamente de sua fúria. Segundo relatos da embaixada, “uma fonte de alto nível indicou que a chanceler Merkel está furiosa com a decisão da GM e se recusa a falar com o comando da empresa”. Um assessor de Merkel disse ao embaixador que a chanceler estava tão furiosa que até mesmo se recusou a atender um telefonema do presidente-executivo da GM, Fritz Henderson.

Ao analisar o curso da chancelaria de Merkel, os americanos a dividiram em três fases. No início, após chegar ao poder em 2005, Merkel era vista como uma grande chanceler, cuja postura calma a tornava popular entre os alemães. Sua popularidade estava em “níveis estratosféricos”. Em abril de 2007, antes de uma visita aos Estados Unidos, os diplomatas escreveram: “Angela Merkel chega a Washington em uma posição invejável de força política, tanto em casa quanto na União Europeia. Mas ela está consciente de que sua força vem em grande parte da fraqueza de seus pares”.

A segunda fase descreve a desilusão dentro de sua primeira coalizão de governo, um casamento dos conservadores de Merkel com os social-democratas de centro-esquerda, conhecida como Grande Coalizão. A chancelaria não é mais agradável, notaram os diplomatas americanos em um despacho. “Os conservadores de Merkel e os social-democratas de Steinmeier lembram aquele casal que se odeia, mas permanece junto pelo bem das crianças”, escreveu o então embaixador William Timken Jr. para sua chefe, a então secretária de Estado, Condoleezza Rice. Ainda assim, o conflito dentro da coalizão era visto como pouco importante, desde que não ameaçasse as relações transatlânticas.

As atuais preocupações, na fase 3, são mais significativas. “Cem dias após a coalizão preta e amarela (nota do editor: conservadores e FDP) da Alemanha tomar posse, um governo forte e unificado liderado pela chanceler Merkel ainda não se materializou”, escreveu a embaixada em um cabograma datado de 3 de fevereiro. “A chanceler Merkel pode ter se livrado do fardo da Grande Coalizão, mas agora está sobrecarregada com o novo fardo duplo do FDP-CSU, restrita por um FDP disposto a cumprir promessas de campanha e uma CSU distraída por sua rivalidade com o FDP e problemas internos.”

O debate do Afeganistão


E há o ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg (CSU). Ele é o oposto de Merkel, personificando a esperança para os americanos, um “especialista em política externa, um transatlanticista e um amigo próximo e conhecido dos Estados Unidos”.

O relacionamento entre Guttenberg e as autoridades americanas é estreito, e eles se encontram regularmente. O ministro sente que está entre amigos com os americano, que o encorajam a falar francamente. Em dezembro de 2008, ele se queixou, por exemplo, que “Merkel não está sendo assertiva o suficiente na economia”.

Ele também denegriu seu colega de Gabinete, Westerwelle, como as minutas de uma discussão entre Guttenberg e Murphy, em 3 de fevereiro de 2010, demonstram. O encontro ocorreu poucos dias após uma conferência internacional sobre o Afeganistão em Londres, onde o número de soldados alemães no Afeganistão foi tema de discussão. O governo alemão prometeu enviar apenas 850 soldados adicionais, mas os Estados Unidos buscavam um compromisso maior. Westerwelle, queixou-se Guttenberg, impedia um engajamento maior. “Ao explicar o aumento menor do que o esperado no número de soldados alemães no Afeganistão, Guttenberg disse ao embaixador que a posição inicial de Westerwelle, nas negociações para formação da coalizão, a respeito do novo mandato era de ‘nenhum soldado adicional’. Naquele contexto, foi difícil obter um acordo um aumento.”

Após o encontro, Murphy enviou um cabograma para Clinton, no qual ele escreve que segundo Guttenberg, “o ministro das Relações Exteriores, Westerwelle –e não o Partido Social Democrata (SPD) de oposição– é o maior obstáculo para o governo buscar um maior aumento de soldados alemães no Afeganistão”.

Mas não era apenas Guttenberg que fazia comentários desdenhosos a respeito de Westerwelle. O FDP também tinha algumas coisas pejorativas a dizer sobre Guttenberg. “Apesar de Guttenberg ter dito que está evitando fazer comentários públicos sobre se o resultado das negociações da coalizão para o novo mandato é uma ‘vitória’ dele ou de Westerwelle, uma porta-voz do FDP disse (a um funcionário da embaixada) separadamente que a linha-dura de Westerwelle contra tropas adicionais foi motivada em parte para “ensinar uma lição a Guttenberg”, escreve Murphy. “Ela alegou que Guttenberg foi presunçoso demais no final do ano passado, nos discursos no Canadá e nos Estados Unidos sobre como a Alemanha aumentaria significativamente sua contribuição de tropas para a ISAF (Força Internacional de Assistência à Segurança). Ele poderia ter obtido um acordo para um teto maior caso tivesse falado primeiro com os parlamentares e demonstrado ‘maior respeito pelo processo político’.”

Um retrato da elite política alemã

O denegrir mútuo parece ser comum entre os políticos alemães. Se os relatos escritos das conversas forem fiéis, os tomadores de decisões alemães conversam abertamente com os diplomatas americanos e até mesmo parecem desfrutar da oportunidade de atacarem uns aos outros sem inibição. Neste sentido, os cabogramas também pintam um retrato da elite política deste país.

Há Andrea Nahles, que aparentemente não teve escrúpulo em criticar fortemente o candidato de seu partido à chancelaria antes das eleições gerais do ano passado: “A vice-presidente do SPD, Andrea Nahles, a principal crítica na esquerda da abordagem centrista de Steinmeier, disse estar descontente com o fato de ‘os Estados Unidos saberem mais sobre Steinmeier do que eu’, se referindo ao papel de Steinmeier como chefe de Gabinete da chancelaria e coordenador de inteligência sob Gerhard Schroeder. Nahles sugeriu fortemente que a esquerda do SPD poderia retratar Steinmeier como próximo demais dos Estados Unidos em questões ligadas a inteligência (...) minando assim sua candidatura”.

E há Rainer Brüderle (FDP), o atual ministro da Economia que, com membro da oposição em 2009, comentando sobre a escolha de Karl-Theodor zu Guttenberg como ministro da Economia, disse que a CSU estava aparentemente satisfeita por ter conseguido encontrar alguém “capaz de ler e escrever”.

Queixas a respeito da chanceler também foram relatadas aos americanos. Segundo uma análise da embaixada de novembro de 2006, importantes figuras da CDU, como Johannes von Thadden, e membros do Parlamento, como Ursula Heinen e Philipp Missfelder, disseram a funcionários da embaixada a respeito da “profunda insatisfação” com Merkel e o governo dentro da CDU.

Parte 4

O cavalo de Troia americano na Europa


Um influente funcionário da sede da CDU também ofereceu uma avaliação negativa do último candidato da CDU a prefeito de Berlim, Friedbert Pflüger, que figura repetidamente como fonte para os americanos, que reconhecem quão valioso ele é. As palavras “por favor, protejam” estão anotadas em parênteses após seu nome.

Os relatos e avaliações foram incorporados nas análises que a divisão política da embaixada americana preparou a respeito dos partidos e políticos alemães. Eles frequentemente são altamente críticos. Os diplomatas americanos, está claro, não têm em alta consideração os políticos alemães, particularmente aqueles da esfera estadual.

Por exemplo, um cabograma descrevendo um encontro com o governador da Baviera, Horst Seehofer, em fevereiro de 2010, enviado pelo consulado americano em Munique, nota que Seehofer “revelou apenas conhecimento raso de política externa” quando se encontrou com Murphy durante a Conferência de Segurança em Munique. Segundo o relato, o governador não estava nem mesmo ciente de quantos soldados americanos estavam estacionados na Baviera. “Em geral, Seehofer tinha pouco a dizer em relação à política externa e parecia desinformado a respeito de coisas básicas.” Segundo o cabograma, Seehofer pareceu surpreso quando um oficial que participou da conferência apontou que 20 mil dos 40 mil soldados americanos na Alemanha estavam estacionados na Baviera. Além disso, o cabograma nota que “a queda no apoio da população à CSU nas últimas eleições encorajou ainda mais os instintos naturais de Seehofer de ceder a pronunciamentos completamente populistas”.

Às vezes, até mesmo os colegas de partido de Seehofer se queixam das escapadas do governador. Após Seehofer ter feito comentários críticos a respeito da missão no Afeganistão em dezembro de 2009, funcionários da embaixada relataram que “um contato na CSU nos telefonou na mesma manhã, da sede do partido, para expressar sua frustração com Seehofer, que ‘novamente não consultou ninguém antes de dar sua opinião’”.

Um bom amigo dos EUA

Os diplomatas americanos fizeram críticas ainda mais agudas a Günther Oettinger (CDU), quando o então governador do Estado de Baden-Württemberg assumiu um novo posto como Comissário de Energia da UE em Bruxelas. O propósito da indicação foi “remover um pato manco não amado de um importante baluarte da CDU”, nota o despacho. “A crescente perda de apoio por Oettinger dentro do partido em Baden-Württemberg levou Merkel a remover Oettinger, para proteger sua base de apoio lá.” Além disso, Merkel “queria nomear um comissário alemão que não brilhasse mais do que ela”. Oettinger, que a embaixada descreve como tendo “um estilo de falar em público sem brilho”, não precisava ser temido.

Essas análises eram fornecidas a Washington dia a dia. Os cabogramas são a matéria-prima, os documentos não processados, da política externa americana. Seu apelo está tanto em sua natureza direta quanto incompleta. Eles descrevem os blocos de construção das políticas e, em alguns casos, quando o Departamento de Estado envia suas instruções para seus escritórios diplomáticos de campo, a metodologia da política de poder também se torna visível. Durante o governo Bush, isto ficou especialmente aparente quando se tratava do então ministro do Interior, Wolfgang Schäuble, um membro importante da CDU de Merkel. Para Washington, Schäuble é a segunda luz brilhante da política alemã depois de Guttenberg. “Nenhum alto funcionário alemão pressiona tanto, ou discute de forma pública, por uma cooperação bilateral mais estreita em assuntos de segurança, do que o ministro do Interior, Wolfgang Schäuble”, escreveu o embaixador William Timken em 2008.

O governo Bush via Schäuble como uma espécie de cavalo de Troia na Europa, um homem que poderia ajudar Washington a atingir suas metas. Os Estados Unidos, por exemplo, sentem que os europeus não são suficientemente cooperativos quando se trata de trocar informação para o combate ao terrorismo. “A missão na Alemanha buscou (...) o compartilhamento de informação com as autoridades alemãs por vários meses, até o momento sem sucesso”, diz um despacho de julho de 2006. “Mas recentes desenvolvimentos e um futuro contato de alto nível pode fornecer um avanço.” Esses comentários estão relacionados a uma visita de Schäuble aos Estados Unidos, que, como escrevem os funcionários da embaixada, oferecerá uma oportunidade “para influenciar a posição alemã”.

‘Encontre uma forma legal de fazê-lo’


Os Estados Unidos veem Schäuble como potencialmente “disposto e capaz de quebrar impasses e encontrar novas formas de trabalhar mais estreitamente com os Estados Unidos”. Às vezes, essa disposição pode forçar os limites do Estado Constitucional alemão. Em um caso em que a UE não concordou em compartilhar dados relacionados aos passageiros de companhias aéreas com destino aos Estados Unidos, Schäuble aparentemente instruiu sua equipe a “encontrar uma forma de compartilhar bilateralmente os dados do Registro de Nome de Passageiro das companhias aéreas com os Estados Unidos”, segundo um dos cabogramas. “O comissário de privacidade de dados alemão é contrário e alega que isso não pode ser feito legalmente, mas Schäuble disse ao seu ministério para que encontre uma forma legal de fazê-lo.”

Schäuble era experiente em soluções questionáveis. Segundo os documentos americanos, em 2006, antes da Copa do Mundo de futebol na Alemanha, o Escritório Federal de Investigação Criminal (BKA) empregou o banco de dados de terrorismo do FBI para checar os nomes das 147 mil pessoas que foram credenciadas para o evento: voluntários, jornalistas, fornecedores e outros. Os cabogramas descrevem como ambos os governos contornaram os obstáculos do Estado Constitucional para fazê-lo: “Durante o compartilhamento de informação na Copa do Mundo de 2006, o BKA temia que os tribunais alemães poderiam forçá-lo a revelar a fonte americana de informação de uma possível suspeita. Mas os tribunais alemães não possuem a mesma jurisdição sobre os serviços de segurança alemães como o Escritório para Proteção da Constituição, ou BfV –o serviço de segurança doméstico. Portanto, durante a Copa do Mundo, os dois lados decidiram compartilhar qualquer fonte de informação via BfV”. Diferente da polícia, o BfV, como serviço de inteligência, pode citar a necessidade de proteger suas fontes.

O governo americano registrou a transferência de Schäuble do posto de ministro do Interior para o de ministro das Finanças com preocupação. Thomas de Maizière (CDU), o novo ministro do Interior, é mais moderado, o que os americanos não deixaram de notar. Ele tem buscado evitar citar publicamente cenários sombrios, como Schäuble fazia. Para De Maizière, a segurança é apenas um dos vários aspectos de suas políticas.

Do ponto de vista americano, a nomeação de De Maizière significou que as coisas agora estavam regredindo em vez de avançando. Em quase toda descrição do novo ministro do Interior, eles o criticam por supostamente ter menos experiência e demonstrar menos entusiasmo do que Schäuble no combate ao terror. O embaixador Murphy caracteriza os comentários de De Maizière ao seus funcionários, no seu primeiro dia no cargo, nos quais ele se distanciou acentuadamente das posições de Schäuble, como sendo “peculiares”. O cabograma é intitulado: “Novo ministro do Interior da Alemanha terá pela frente uma curva acentuada de aprendizado”

A ‘campanha’ americana pelo Swift

Apesar das dúvidas de Murphy, as negociações em torno do acordo Swift mostrou que De Maizière estava de fato no lado dos americanos. As negociações são um importante exemplo da abordagem adotada por uma superpotência determinada a promover seus interesses.

A organização financeira conhecida como “Swift” processa cerca de 15 milhões de transferências internacionais de dinheiro diariamente –monitorada pelos Estados Unidos. Em 2008, a Swift anunciou sua intenção de transferir seu centro de computação dos Estados Unidos para a Europa, para impedir que as autoridades americanas tivessem acesso direto aos dados. O governo americano, temendo que a mudança o privaria de uma importante ferramenta de contraterrorismo, pediu por um acordo com a Europa para garantir o acesso americano a dados sensíveis.

A situação chegou ao ponto crítico em novembro de 2009. Uma votação do novo acordo estava pendente em Bruxelas e o governo americano não poupou esforços para convencer os políticos alemães e europeus a assinarem o acordo.

Segundo um dos despachos, houve “semanas de engajamento em Berlim, Bruxelas e Washington, assim como intervenções de alto nível da secretária Clinton, do secretário do Tesouro, Geithner, do secretário de Justiça, Holder, do conselheiro de segurança nacional, o general Jones, e do embaixador Murphy”. O próprio Murphy a chamou de “campanha”. Ela também incluiu conversas por telefone entre a secretária de Estado, Hillary Clinton, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e do secretário de Justiça, Eric Holder, e seus pares alemães. James Jones, o conselheiro de segurança nacional de Obama, também telefonou para a chancelaria alemã. Murphy escreveu duas cartas para cada ministro do Gabinete alemão envolvido no assunto.

O acordo foi extremamente controverso dentro da coalizão de governo. O FDP queria defender o sigilo bancário e sentia que o processo de vasculhar sistematicamente todas as transações era excessivo. Ele era contrário a esse acordo e recebeu garantias a respeito em seu acordo de coalizão com a CDU.

Parte 5

Procedimento diplomático padrão?

Mas a pressão americana teve o efeito desejado. Ao se abster de votar em Bruxelas, De Maizière assegurou que o novo acordo poderia seguir em frente. Murphy nota orgulhosamente que De Maizière o fez mesmo ciente de que sua decisão causaria problemas significativos na nova coalizão de Merkel. Mas, alerta o embaixador, o ministro alemão não apreciaria uma repetição de “nosso esforço total de lobby” na próxima fase do acordo Swift. “De Maizière certamente considera toda esta experiência lamentável, por colocá-lo na posição exata em que não queria estar: aparentemente ao lado dos Estados Unidos, em detrimento dos interesses alemães.”

A rodada seguinte logo teve início. Em fevereiro de 2010, o Parlamento Europeu mais crítico chegou à sua decisão sobre o Swift. Antes da votação, o embaixador Murphy enviou um “pedido de ação” urgente a Washington. A embaixada “recomenda fortemente” que Washington envie especialistas para discutir o assunto com o governo alemão. Novamente, era o FDP que estava causando problemas. “Figuras-chave do governo não têm experiência prática em lidar com problemas de segurança na era da Internet”, escreve Murphy.

Para tratar de suas preocupações, Murphy requisitou um encontro pessoal com Westerwelle. O ministro das Relações Exteriores respondeu que não podia influenciar o comportamento de votação os membros alemães do Parlamento Europeu, uma resposta que o embaixador caracterizou como “um tanto insincera”. Ao menos Murphy contava com o apoio da chanceler.

Apesar desse apoio, o acordo não passou em Estrasburgo. Segundo um cabograma subsequente, o então prefeito de Hamburgo, Ole von Beust, disse aos diplomatas americanos que Merkel estava “muito, muito furiosa” a respeito, “furiosa como nunca a vi”. Merkel, disse Von Beust, fez “lobby pessoalmente” junto aos membros conservadores do Parlamento Europeu, mas ainda assim eles votaram contra a medida.

‘Por favor, protejam’

Agora que seus relatos se tornaram públicos, Murphy terá muitas explicações para dar. Apesar de o governo americano ser um dos principais aliados da Alemanha, o governo alemão agora terá que decidir quanta latitude deve dar a um bom amigo. Há uma linha tênue entre interesse diplomático justificado e gestão de fontes para fins de inteligência. Caso diplomatas russos ou chineses tivessem abordado funcionários dos partidos políticos alemães, particularmente os do governo, esse seria um caso para as autoridades de contraespionagem. Em 1997, quando um funcionário da embaixada americana foi pego tentando convencer um alto funcionário do Ministério da Economia alemão a entregar cópias de documentos internos, ocorreu um conflito diplomático. A chancelaria arquivou a queixa e o funcionário americano, que fazia parte da CIA, teve que deixar a Alemanha.

A diferença entre este caso e o do tomador de notas do FDP que passou documentos internos das negociações para formação da coalizão para a embaixada americana é marginal. A embaixada está ciente disso, caso contrário não distinguiria entre contatos diplomáticos abertos e fontes secretas. Até mesmo a linguagem dos cabogramas aponta para a diferença sutil entre os dois. Informantes particularmente valiosos são tratados apenas como fontes anônimas, ou seus nomes são seguidos pelas palavras “por favor, protejam”. Murphy diz se tratar de mero procedimento diplomático padrão, como é comum “em todo o mundo”.

Os diplomatas de muitos países, incluindo os alemães, enviam relatórios semelhantes para casa. Mas uma das regras não escritas da profissão é que nenhuma dessas informações pode vir a público. A visão negativa que os Estados Unidos têm de Westerwelle pode ser um problema para as relações políticas entre os dois países –mas sua revelação é ainda pior. Ela transforma um problema interno limitado em um problema público incalculável.

Um ministro das Relações Exteriores que fala inglês
O fato de os cabogramas do Departamento de Estado terem vazado e sido publicados pelo WikiLeaks para que todos os vejam terá seu próprio impacto político. Westerwelle é retratado como alguém que os Estados Unidos consideram inadequado, arrogante e duvidoso. Esta imagem o acompanhará em futuras recepções de Estado no exterior. Os relatórios secretos americanos poderiam minar sua autoridade já reduzida no palco internacional. Provavelmente não ajudará o fato das opiniões de Westerwelle terem abrandado um pouco desde que assumiu o cargo.

Após uma reunião em 5 de fevereiro, Murphy nota que o ministro das Relações Exteriores alemão “estava animado e mais confiante em seus assuntos”, apesar dos problemas substanciais dentro da coalizão.

E pelo menos os cabogramas esclareceram um assunto. Westerwelle foi amplamente ridicularizado após sua primeira coletiva de imprensa como ministro das Relações Exteriores, quando se recusou a responder uma pergunta de um repórter da “BBC” em inglês. Murphy, entretanto, elogia o ministro. Westerwelle, ele escreveu, “fala inglês fluentemente”.

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