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sexta-feira, 11 de março de 2011

Rebeldes recebem novas armas e haxixe para enfrentar forças de Gaddafi

Opositores de Gaddafi oram em Ras Lanuf
Os jovens insurgentes da frente do leste líbio agora dispõem de canhões e de lança-mísseis comparáveis aos das forças leais a Muammar Gaddafi

Foi o dia em que as manobras dos insurgentes líbios, que combatem o governo do coronel Gaddafi, mudaram irremediavelmente de dimensão militar. Ao lançarem um novo ataque, na quarta-feira (9), contra as posições do exército líbio, na estrada que separa Ras Lanouf e Ben Jawad, os rebeldes revelaram suas novas armas.

Os chabab (jovens) do leste do país haviam sido reunidos discretamente, na noite anterior, em Ras Lanouf, por militares líbios que escolheram o lado dos rebeldes. Esses oficiais, saídos de Benghazi, quartel-general da oposição em Trípoli, não vieram com tropas: aparentemente ainda não era hora de ofensivas de infantaria. Em compensação, eles vieram com canhões e lança-mísseis.

O posto fronteiriço de Ras Lanouf, na estrada da frente de Ben Jawad, foi fechado pela primeira vez durante algumas horas, na quarta-feira. Tempo de fazer os preparativos. Quando finalmente foi possível avançar cerca de cinco quilômetros, por volta do meio-dia, foi para revelar um lança-mísseis Katyusha abaixo da estrada, atrás de uma duna.

Enquanto não chega a guerra, uma pequena inspeção de cinco posições, no deserto, permite compreender que os chabab não receberam somente armas. Alguns se jogam ao chão, com o olhar brilhante, e sorrisos idiotas nos lábios. “Gaddafi é louco!”, diz um. “Gaddafi é estúpido”, reforça o outro. “E Gaddafi é também muito, muito bonito!”, exclama o primeiro, morrendo de rir. Não há dúvidas: o haxixe chegou ao mesmo tempo que os Katyusha.

Depois da calma da manhã, nessa estrada desértica do Golfo da Síria, veio a tempestade. Um míssil rebelde, atirado de uma posição afastada da estrada, foi lançado ao céu. E depois um segundo. E um terceiro. Mísseis SAM (terra-ar), segundo um chabab. Os primeiros tiros foram mal mirados. Os mísseis explodiram em posições rebeldes, longe do exército líbio.
E depois os Katyusha entraram em ação. Dessa vez, os mísseis chegaram até as posições inimigas, a cerca de dez quilômetros de distância.

Os chabab de Ras Lanouf não conseguem acreditar no poder de fogo que adquiriram. A cada disparo de míssil, eles gritam “Alá é grande!” Depois de terem sofrido na véspera um bombardeio ao qual eles não podiam replicar, dessa vez eles têm as mesmas armas que os batalhões de Trípoli. “Gaddafi deveria deixar o poder. Assim, ele está levando a Líbia para uma guerra terrível. Ele é louco”, pensa um combatente.

A réplica do exército líbio chega cerca de quinze minutos mais tarde, e é terrível. Disparos de canhão, de morteiros, de foguetes: um dilúvio de fogo cai sobre os rebeldes. Quando um projétil cai na areia, os danos são limitados, mas quando cai na estrada ou pedregulhos, os  fragmentos são devastadores. Picapes são atingidas, e carros são traspassados. Foguetes passam em rasantes por toda a estrada, buscando seus alvos.

Estendidos no chão, insurgentes rezam. Muitos apontam um dedo para cima, sinal de que Alá é único, e que ele é o único, naquele momento, que pode decidir se eles viverão ou morrerão. Um homem permanece de pé, com os braços estendidos para o céu: ele se remete a seu Deus. Ele sobreviverá. Pelo menos à primeira salva.

Aviões passam, e nesse momento as explosões são tantas que é impossível saber se eles soltaram bombas.

Três colunas de fumaça sobem ao céu, sendo que uma delas emana de uma refinaria, que pode ter sido atingida tanto de um lado como de outro. Depois de um incêndio de uma hora, há uma explosão, com chamas de dezenas de metros de altura. O céu escurece. Quando o Sol cair, ele estará preto das fumaças de petróleo bruto.

No hospital de Ras Lanouf, no final do dia, o desfile das ambulâncias é incessante. Os feridos chegam às dezenas. Um homem tem metade do rosto arrancada, e muitos foram atingidos nas pernas por fragmentos. Nenhum ferimento por bala: não houve nenhum combate direto no deserto, nenhum avanço. Foi um dia de duelo de artilharia, a primeira dessa dimensão para os insurgentes.

Cada vez que um ferido sai de uma ambulância, os chabab gritam “Alá é grande!”. Os enfermeiros tentam passar com as macas entre os combatentes furiosos e em lágrimas. Dois homens têm crises nervosas e colapsam, gritando.

O alto-falante da mesquita de Ras Lanouf crepita, mas não é hora da prece. É outra coisa, um longo apelo à grandeza de Alá, um agradecimento por seu apoio nessa jornada de devastação.

Na encruzilhada da entrada de Ras Lanouf, principal posto fronteiriço na estrada de Ben Jawad, centenas de combatentes estão reunidos, quando a noite começa a cair. Eles atiram para cima rajadas de kalashnikov, para comemorar sua nova potência militar.

Eles também atiram para criar coragem para o dia seguinte, porque junto com esse poder também vem o medo. Muitos são amedrontados por rumores, que se revelarão falsos, de que o exército líbio estaria avançando na direção de Ras Lanouf. As tropas de Trípoli também tiveram de sofrer perdas, e não devem estar contentes de descobrir as armas das quais os insurgentes agora dispõem.

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