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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Será inevitável uma palestina independente, diz o primeiro-ministro palestino Salam Fayyad


Em entrevista ao “Spiegel”, o primeiro-ministro palestino Salam Fayyad, 59, discute a controversa ideia dos palestinos de pedirem status de Estado à Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira (23/9) e por que ele acredita que a ação não deve ser considerada um movimento unilateral.
Salam Fayyad
Der Spiegel: Senhor primeiro-ministro, o senhor entrará para a história como fundador da Palestina?
Fayyad: Não sei se haverá um Estado palestino durante meu mandato, mas não tenho dúvidas de que acontecerá um dia.
Nos últimos anos, o senhor tem estado ocupado construindo escolas e estradas, reformando o governo e combatendo duramente o terrorismo. A Palestina está pronta para a independência?
Fayyad: Sim, estamos prontos. E não sou o único a dizer –também o afirmam organizações como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a ONU. Eles já confirmaram em abril que a Autoridade Palestina cruzou a linha de relevância para ser um Estado. Para mim, é a certidão de nascimento de nosso Estado. Mesmo que Israel não tenha posto fim à sua ocupação, a realidade do Estado palestino projetada em terra vai criar tanta pressão que a Palestina independente é inevitável.
O senhor batizou seu programa político de dois anos, que expira nos próximos dias, de “Fim da Ocupação, Início do Estado”. O senhor prometeu demais?
Fayyad: Muitas pessoas descreveram este programa como ambicioso e fui uma delas, no início. Mas agora estamos muito mais próximos da liberdade do que estaríamos de outra forma. É claro que estou desapontado com o fato de o processo político não ter dado resultado e de ser improvável que nos livremos da ocupação israelense em setembro ou pouco depois disso.
O presidente palestino Mahmoud Abbas deve proferir um discurso na Assembleia Geral da ONU no dia 23 de setembro e pedir o reconhecimento da Palestina como Estado membro do Conselho de Segurança da ONU. O senhor é a favor de ir ao Conselho de Segurança, mesmo que isso signifique um confronto com os EUA, que anunciaram que vetariam o pedido?
Fayyad: Se eu achasse por um momento que seria possível ingressar na ONU dessa forma, definitivamente eu o faria. Mas há uma distância entre o que eu gostaria e o que posso ter. É tão certo que será uma moção fracassada no Conselho de Segurança, como em geral se acredita, que eu diria: vamos buscar um caminho mais inclusivo, que garanta que agimos de mãos dadas com nossos amigos na comunidade internacional. Devemos ter conosco a maior aliança possível para que a União Europeia não se divida com este voto.
A Europa já está dividida. A Alemanha falou no início do ano contra a iniciativa da ONU, mas a França e a Espanha tendem a apoiá-la.
Fayyad: Não posso chamar isso de divisão. O que estamos fazendo é coerente com o consenso da União Europeia de 2009, que foi afirmado no ano passado. O que aconteceria se fossemos para a Assembleia Geral da ONU e apresentássemos uma proposta de resolução na qual o preâmbulo é tirado verbatim da posição do Conselho Europeu de 2009? Ninguém saberia me dizer por que a União Europeia deveria se opor.
No máximo, a ONU poderia dar à Palestina o status de Estado observador não membro –similar ao do Vaticano.
Fayyad: Se a ONU afirmar que a Palestina está pronta para ser um Estado, então essa validação por si só será uma grande realização para nós palestinos.
Mas a Palestina ainda estaria longe de se tornar um Estado independente.
Fayyad: Não é a própria ONU que reconhece os países –os países se reconhecem entre si. Após a declaração de nossa independência feita pelo falecido presidente Iasser Arafat, em 1988, muitos países reconheceram a Palestina. Nos últimos meses, houve uma adição significativa à longa lista de países que reconhecem a Palestina. Os países estão nos reconhecendo e estão atualizando nossas representações em suas capitais. Estruturas criativas estão sendo encontradas para lidar com a Autoridade Palestina como se fosse um Estado soberano. O mundo já nos reconheceu.
Ainda assim, muitos países importantes ainda negaram apoio a seu pedido na ONU, especialmente a Alemanha, que o está fazendo por consideração a Israel. O senhor fica desapontado com isso?
Fayyad: De forma alguma eu posso me dizer desapontado com amigos como a Alemanha. Eu digo o que geralmente me desaponta: a resposta reativa, com o argumento que estamos agindo unilateralmente. Isso não é unilateralismo! Não é uma declaração unilateral de Estado. Nosso objetivo político é um Estado soberano em 22% do Mandato Britânico para a Palestina. Este é o corpo da solução de dois Estados. Não é isso que o governo de Israel diz querer?
As negociações mais recentes com Israel colapsaram há um ano. O senhor ainda acredita no processo de paz?
Fayyad: É claro. As negociações com Israel são necessárias. Não pode haver uma solução sem um processo político.
O primeiro-ministro , Benjamin Netanyahu, e o presidente Mahmoud Abbas não se encontraram desde então.
Fayyad: O problema das negociações não é a falta delas. Acho mais infeliz que, após 18 anos, perdeu-se a clareza sobre o que está sendo discutido. Negociamos princípios em vez de garantias e acordos. Mas o que precisamos são acordos firmes em vez de perder tempo extraindo declarações.
Enquanto isso, Israel continua a expandir os assentamentos na Cisjordânia e no Leste de Jerusalém. Um número crescente de palestinos está começando a achar cada vez menos realista a ideia de um Estado palestino. A solução de dois Estados ainda tem chance de acontecer?
Fayyad: Temos toda consciência dos fatos adversos, inconsistentes com a necessidade de um Estado palestino. Não apenas acredito que a solução de dois Estados é possível, mas também que as pessoas não devem tampouco se apressar em declará-la morta . Afinal, qual seria a alternativa? Esta é uma pergunta que Israel deve se fazer.
Sem negociações e sem o ingresso na ONU, seu projeto de construção de um Estado se evaporaria.
Fayyad: Concordo. Talvez eu tenha sido o primeiro a dizer: o que quer que façamos deve ser visto como um exercício que levará ao fim da ocupação israelense. Não faz parte de um esforço de adaptação à realidade de uma ocupação prolongada.
Israel anunciou que vai tomar medidas de retaliação em resposta à iniciativa da ONU. O senhor teme uma nova onda de violência?
Fayyad: A não violência é uma escolha estratégica nossa, e é algo que eu pessoalmente acredito que tem imenso poder. Não abro mão desse caminho. Ao mesmo tempo, nosso povo tem o direito de se expressar. Não é crime nosso povo se manifestar em favor de sua liberdade.
Muitos palestinos estão olhando com inveja para o Egito e a Líbia, dois países onde as pessoas conseguiram se levantar e obter sua liberdade. Talvez pensem: por que não podemos fazer o mesmo?
Fayyad: A primavera árabe começou na Palestina muito antes de irromper no resto do mundo árabe. Esses levantes são o que? São expressões sobre governo e direitos dos cidadãos. Isso exatamente é o que lançamos em nosso programa há dois anos: direitos plenos aos cidadãos, libertação e governo para o povo. Mas você tem algo diferente em mente: as pessoas que vão para as ruas para se manifestar contra a ocupação. Não sou hostil a isso. Sou defensor ardente da resistência pacífica. Faz parte do que temos que fazer.
Como você impediria essas manifestações de fugirem ao controle?
Fayyad: Tenho que responder com uma pergunta: por que o governo de Israel não lida com as manifestações pacíficas do lado palestino da mesma forma que lida com as manifestações pacíficas nas ruas de Tel Aviv?
Onde centenas de milhares de israelenses vem protestando por mudança em política interna há semanas.
Fayyad: Não há tiros de borracha em Tel Aviv, não há gás lacrimogêneo; e se houvesse, então tenho certeza que não iam jogar os tanques de gás nas pessoas. Ninguém aceita isso. Os israelenses não aceitam isso. A ocupação nos oprime, mas também é corrosiva para a sociedade israelense.
Israel está ameaçando parar de transferir os tributos e a arrecadação da alfândega para a Autoridade Palestina, se esta continuar com seu pedido de ingresso na ONU. Vocês podem ficar sem dinheiro muito rápido.
Fayyad: Já estamos no meio de uma crise. O pagamento de salários está difícil, mesmo agora.
A Autoridade Palestina cairia se Israel parasse o fluxo de dinheiro?
Fayyad: Já estamos reduzindo nosso orçamento para reduzir substancialmente nossa dependência de ajuda. Algumas pessoas usam a crise como evidência de que não podemos existir em nosso próprio Estado. Elas dizem: vejam como eles não têm nem dinheiro para pagar os salários. Mas dezenas de países passaram por décadas em que tiveram que passar por crises similares. Nem por isso perderam seu status de Estado.
Este é seu quarto ano como primeiro-ministro, e o senhor nunca foi eleito. A palestina é democrática?
Fayyad: Eu me considero democrata. E portanto, fiquei animado quando houve um acordo entre duas facções palestinas, o Hamas e a Fatah para por fim à separação entre elas. Queremos superar essa separação para nos tornarmos uma democracia em pleno funcionamento.
Haverá um governo unido com a Fatah na Cisjordânia e o Hamas na Faixa de Gaza?
Fayyad: Por que não? O que vamos fazer? Dividir o país? Sou uma pessoa que anseia pelo dia da reconciliação.

Um comentário:

  1. quando a proposta palestina entrar para ser votada no conselho de segurança existe chance dos EUA supeender a humanidade e nao vetar essa proposta?

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