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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Força relativa


Quando um país decide se meter na vida de outro sua voz será ouvida na medida dos meios à disposição para fazer valer o que acha.

Países dos Brics destacados em verde
Representantes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China) emitiram ontem em Moscou um comunicado conjunto sobre a situação no Oriente Médio e Norte da África.

É movimento com significado político claro: buscar algum protagonismo em cenário até agora dominado pelos Estados Unidos e aliados mais orgânicos.

O documento reafirma alguns posicionamentos conhecidos, como a oposição a ingerências externas na crise síria e a novas sanções unilaterais ao Irã.

As posições não são novas mas a reafirmação vem num momento delicado.

Pois na Síria as condições amadurecem para um desfecho à Líbia.

E Estados Unidos e Europa escalam pressões contra Teerã, após a Agência Internacional de Energia Atômica ter atestado o que já se sabia: que o "caráter pacífico" do programa nuclear iraniano é para inglês ver.

Os Brics têm lá seu poder de fogo no terreno diplomático, mas enfrentam uma dificuldade prática. Não parecem contar com as cartas decisivas na manga.

Se Estados Unidos e Otan mostram disposição crescente para ações militares, é impensável forças russas, chinesas, indianas ou brasileiras em combate na defesa da tirania cleptocrática de Bashar Assad ou do condomínio nuclear entre Mahmoud Ahmadinejad e os aiatolás.

No limite, é disso que se trata. Quando um país decide se meter na vida de outro sua voz será ouvida na medida dos meios à disposição para fazer valer o que acha.

Fora isso, é a diplomacia pela diplomacia. Sujeita à ameaça permanente de atropelamento pela vida real.

O clima entre Brics e Estados Unidos/Otan já esteve melhor.

Aqueles consideram que estes usaram a resolução do Conselho de Segurança da ONU para impor pela força a mudança de regime na Líbia. Quando a ideia era só impedir que Muamar Gadafi massacrasse a oposição.

A Rússia anda inquieta com o escudo antimísseis projetado pelos Estados Unidos na Europa Oriental. Washington diz que é para conter o Irã, mas Moscou enxerga como ameaça a si.

E ameaça apontar mísseis para o sistema antimísseis. Bem ali ao lado da Polônia.

E a China não deve ter ficado especialmente feliz com a explícita intenção americana de reforçar posições no Extremo Oriente.

Barack Obama não poderia ter sido mais claro a respeito quando anunciou o estacionamento de marines na Austrália.

Novo

Mas pelo menos num aspecto a posição divulgada ontem pelos Brics aproximou-se do que defende Washington.

Tomar as fronteiras pré-1967 apenas como referência para o desenho dos limites de um eventual Estado Palestino, e não como linhas pétreas.

O texto é claro. "Os Estados dos Brics apoiam a retomada nas negociações israelense-palestinas para o estabelecimento de um Estado Palestino independente, viável e territorialmente contíguo, com plena soberania no interior das fronteiras de 1967, com trocas territoriais mutuamente acordadas e com Jerusalém Oriental como sua capital."

"Trocas territoriais mutuamente acordadas" foi precisamente a carta nova que Barack Obama colocou na mesa quando discursou meses atrás para relançar a estratégia americana para o conflito.

Uma novidade que nunca constara das posições oficiais brasileiras. Ainda que o Brasil sempre tenha enfatizado, como lembra o Itamaraty, a necessidade de negociações para solucionar os impasses centrais entre israelenses e palestinos.

O Itamaraty argumenta que comunicados conjuntos não definem políticas nacionais, mas o texto de ontem dos Brics tem originalidade quando analisado à luz do que o Brasil vem dizendo desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a Palestina nos limites pré-1967.

A posição brasileira estrita é inaplicável. Um exemplo: pelas linhas pré-1967 o Muro das Lamentações, referência sagrada para os judeus, ficaria sob controle árabe-palestino. E é só um exemplo. Há também novas realidades demográficas a considerar.

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