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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Seul deseja alterar pacto com aliado, mas Washington teme proliferação


Planta nuclear sul-coreana de Uljin 


Ao longo do último ano, Washington e Seul têm realizado negociações discretas, mas altamente sensíveis, sobre se a Coreia do Sul deve ser autorizada a fazer algo que os americanos há muito tentem impedir a Coreia do Norte de fazer: enriquecer urânio e reprocessar o combustível nuclear usado.

As negociações, que serão retomadas em Seul na terça-feira, visam rever um tratado bilateral de cooperação nuclear pela primeira vez em quatro décadas. E as expectativas dos dois aliados divergem tanto quanto seus pontos de vista sobre o que significaria a adoção pela Coreia do Sul das tecnologias, que podem ser usadas para criação de combustível para reatores, mas também para fazer armas nucleares.

 “Os Estados Unidos são contrários à disseminação do enriquecimento e reprocessamento, mesmo para a Coreia do Sul, porque desejam estabelecer um padrão absoluto para impedir a proliferação de armas nucleares”, disse William Tobey, um membro sênior do Centro Belfer para Ciência a Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard. “Apesar de Seul não representar uma ameaça, um padrão duro e ágil será o baluarte mais forte contra a proliferação de armas por outros Estados.”

Além disso, disse Tobey, “qualquer esperança de coibir o programa de armas nucleares da Coreia do Norte deve implicar em restrições semelhantes à Coreia do Sul”.

Mas na Coreia do Sul, muitos acreditam que viveram sob esta restrição americana por tempo demais. Agora é o momento, eles dizem, de o presidente Lee Myung-bak usar sua suposta amizade com o presidente Barack Obama para obter o que o futuro econômico de seu país exige.

“Nossa aliança, rotulada como estando mais forte do que nunca, deve ser sólida não apenas nominalmente, mas deve produzir frutos sólidos”, disse Song Min-soon, um ex-ministro das Relações Exteriores que atualmente é um legislador da oposição.

 As negociações “servirão como um teste importante” de como os Estados Unidos desejam ser estimados pelos sul-coreanos, disse Song. “Se eles pressionarem demais a Coreia do Sul, isso poderia provocar um sentimento antiamericano” e “pedidos por uma soberania nuclear”, ele disse.

A Coreia do Norte fabricou suas bombas nucleares com plutônio obtido a partir do reprocessamento de combustível nuclear usado. Na semana passada, ela disse que também fez rápido progresso no enriquecimento de urânio.

A Coreia do Sul também quer reprocessar o combustível usado de seus 21 reatores, mas para fins pacíficos, ela diz. O reprocessamento permitiria uma redução de seu lixo nuclear armazenado e criaria combustível para uma nova geração de reatores.

O tempo de Seul está se esgotando: suas piscinas de resfriamento onde o combustível usado é armazenado estão ficando lotadas. E em um país pequeno, a construção de um novo depósito central para lixo nuclear é uma quase impossibilidade política, especialmente após o desastre em Fukushima, no Japão.

A Coreia do Sul também deseja enriquecer urânio para fazer combustível para seus reatores, que geram 36% da eletricidade do país. Ela atualmente importa todo seu urânio enriquecido. Seul diz que a capacidade de completar um “ciclo completo”, do enriquecimento à reciclagem, é central para suas metas de atender 60% de suas necessidades de eletricidade com energia nuclear até 2030 e se tornar uma exportadora global de reatores nucleares.

Seu maior obstáculo é o tratado que atualmente está sendo renegociado. Em 1972, quando Washington concordou em transferir material, equipamento e conhecimento técnico nuclear para a Coreia do Sul, ele exigiu que Seul se comprometesse com as regras de não proliferação, que incluem uma proibição ao enriquecimento e reprocessamento.

Ao longo dos anos, a Coreia do Sul pediu repetidas vezes para Washington rever o pacto, que foi emendado pela última vez em 1974. Como o tratado expira em 2014, ambos os lados finalmente se sentaram em outubro de 2010 para iniciar negociações. Na terça-feira começa a quarta rodada de negociações e ambos os lados se mantêm em silêncio a respeito de progressos.

“Nós queremos um acordo sucessor que amplie o nível de cooperação entre os Estados Unidos e a República da Coreia na área de energia nuclear civil e que reflita a crescente importância da República da Coreia na arena global de energia nuclear”, disse o negociador-chefe americano, Robert J. Einhorn, em uma coletiva de imprensa em Seul, usando o nome formal da Coreia do Sul.

Seu par sul-coreano, Park Ro-byug, disse que os aliados estão negociando “em que amplitude e com que métodos” seus desejos conflitantes podem ser conciliados.

Segundo analistas de ambos os países, as opções em discussão incluem a construção de uma usina de enriquecimento na Coreia do Sul, mas desde que fique sob controle multinacional, e o envio do combustível usado da Coreia do Sul para ser reprocessado em outro país. Essas alternativas deixam algumas questões sem resposta, incluindo o que seria feito com o plutônio resultante – a Coreia do Sul, naturalmente, gostaria que fosse trazido de volta.

Washington e Seul também estão discutindo um estudo conjunto de 10 anos de novas opções de gestão do lixo nuclear, incluindo uma tecnologia chamada piroprocessamento, em uma tentativa de determinar qual seria a mais segura, a mais economicamente viável e a mais resistente à proliferação.

“O mais prudente seria estender o acordo atual de uma forma que tivesse o mínimo possível de mudanças, para que obtivesse uma aprovação rápida pelo Congresso americano”, disse Sharon Squassoni, diretora do Programa de Prevenção de Proliferação do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Washington nunca aceitou abrir mão de uma proibição ao reprocessamento e enriquecimento para qualquer país que já não tivesse essa capacidade, disse Squassoni. Se abrir uma exceção para a Coreia do Sul, ela disse, isso levantaria uma “questão imensa” no Congresso.

“Esse, eu acredito, é o obstáculo”, ela disse. “A Coreia do Sul concordaria em uma extensão do atual acordo, que provavelmente diria: ‘Vamos rever isto ao final do estudo conjunto?’”

 A indústria nuclear sul-coreana, cuja prioridade é exportar reatores, parece relativamente despreocupada em como o urânio enriquecido é obtido, desde que esteja assegurado o fornecimento do combustível a longo prazo. Mas os cientistas nucleares daqui argumentam que a Coreia do Sul deve obter essas tecnologias sensíveis. Eles dizem que a capacidade do “ciclo do combustível” a ajudaria a competir com outros exportadores de reatores, como a França e a Rússia, que também podem fornecer aos clientes enriquecimento e reprocessamento comercial.

 Em relação à energia nuclear, a Coreia do Sul deseja ser tratada pelos Estados Unidos não como uma aliada menor, mas como uma “jogadora global” e “parceira de negócios”. (A Westinghouse Electric faz parte de um consórcio liderado por sul-coreanos que tem um contrato de US$ 20 bilhões para construção de quatro reatores para os Emirados Árabes Unidos.) O país será anfitrião em março de um encontro sobre segurança nuclear mundial em uma tentativa de demonstrar seu compromisso com a não proliferação.

Mas especialistas nucleares americanos dizem que Washington vê um papel muito diferente na não proliferação para a Coreia do Sul.

“A Coreia do Sul é vista como um exemplo” para os países que Washington espera que utilizem a energia nuclear sem recorrer ao enriquecimento ou reciclagem, disse Miles A. Pomper, pesquisador sênior do Instituto Monterey de Estudos Internacionais, na Califórnia. “A Coreia do Sul ficaria melhor se permanecesse no mesmo trajeto, em vez de seguir o exemplo da Coreia do Norte.”

A Coreia do Sul pode ter suspeitas americanas persistentes para dispersar. Ela realizou um breve programa de armas nucleares no início dos anos 70. Em 2004, ela reconheceu que seus cientistas se envolveram em reprocessamento em 1982 e enriquecimento em 2000, sem notificarem o governo. Neste ano, alguns colunistas conservadores e ativistas pediram à Coreia do Sul para que considerasse ter armas nucleares, já que provavelmente os norte-coreanos não abandonarão as deles.

Seul diz que não fará isso. Mas a opinião pública às vezes é a favor dessa opção - especialmente nas ocasiões em que os americanos são vistos como autoritários ou hesitantes em seu compromisso com a defesa da Coreia do Sul. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Asan para Estudos de Políticas em março, com as tensões ainda altas devido ao ataque da Coreia do Norte a uma ilha sul-coreana no ano passado, quase 69% dos entrevistados apoiavam o desenvolvimento de armas nucleares.

Washington deseja que a Coreia do Sul cumpra um acordo de 1992 que assinou com a Coreia do Norte, que proíbe o enriquecimento e reprocessamento, apesar das atividades da Coreia do Norte desde então terem tornado o acordo obsoleto. Lee Byong-chul, um membro sênior do Instituto para a Paz e Cooperação em Seul, acusou Washington de desconfiança prejudicial contra um aliado leal e desprezo por seus interesses de soberania nacional.

“Nós devemos nos divorciar do acordo de 1992”, ele disse. “Ao mesmo tempo, para que os americanos não tenham nenhuma dúvida, nós devemos declarar que nunca nos casaremos com uma arma nuclear.”

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