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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Com incertezas na Líbia, intervenção na Síria fica cada vez mais complicada



Protestos na Síria


Desde que os protestos pró-democracia começaram na Síria, há mais de dez meses, a União Europeia aumentou a pressão sobre o regime do presidente Bashar al-Assad. Ela impôs sanções sobre as companhias de petróleo sírias. Congelou os bens de vários altos funcionários. Proibiu companhias da UE de fazer comércio com títulos da dívida síria.

Ela também proibiu que os bancos da Síria operem em países da UE ou invistam em bancos europeus. Nesta semana, ministros de exterior da UE concordaram em impor restrições de viagem e outras sobre mais 22 indivíduos e oito companhias.

Mas a luta ainda continua. De acordo com as Nações Unidas, mais de 5 mil pessoas foram assassinadas desde que as manifestações começaram em março passado. Quase 20 mil fugiram para a vizinha Turquia.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a situação na Síria “atingiu um ponto inaceitável”.

Mas o que mais pode ser feito?

“O problema é que apesar de todas as medidas dos europeus, eles não forçaram o regime sírio a assumir uma posição diferente”, disse Rime Allaf, especialista em Oriente Médio na organização de pesquisa Chatham House, sediada em Londres. “Se medidas significativamente mais rígidas não forem tomadas, acredito que nada vai mudar. A situação vai se deteriorar ainda mais. No momento, não há outros cenários realistas.”

Diante de uma situação semelhante na Líbia no ano passado, a Inglaterra, França e outros países europeus optaram por uma intervenção militar. Com a ajuda dos Estados Unidos, eles criaram uma zona anti-aérea e bombardearam as tropas do regime, o que precipitou a queda do coronel Muammar Gaddafi.

Neste mês, o Exército Livre da Síria, um grupo de desertores do exército que tenta derrubar Assad, também pediu que o Conselho de Segurança da ONU interviesse, sem sucesso. Nem Ban, nem qualquer outro líder europeu, expressou apoio à ação militar para interromper os assassinatos.

Há vários motivos pelos quais a Rússia, que há muito tempo apoia o regime de Assad, e a China – ambos membros permanentes do Conselho de Segurança – vetariam uma iniciativa como esta. Nenhum deles quer uma intervenção ao estilo da Otan na Síria.

Nem os Estados Unidos têm nenhum apetite por outra missão militar. Sem o apoio dos EUA, a União Europeia e a Otan não podem fazer nada militarmente. Na região, só o Qatar, um membro da Liga Árabe, pediu uma ação militar.

Em 15 de janeiro, o emir do Qatar, Xeique Hamad bin Khalifa al-Thani, propôs uma intervenção militar árabe para impedir a repressão por parte das forças de segurança sírias. “Algumas tropas deveriam ir para lá para interromper os assassinatos”, disse ele à rede de TV norte-americana CBS. Ele não recebeu nenhum apoio dos outros estados árabes, nem da União Europeia.

Da forma como está, a Liga Árabe está dividida quanto à Síria, e não têm nenhuma experiência de intervenção desse tipo. A ideia de árabes lutarem contra árabes teria consequências impensáveis para a região, de acordo com os analistas. Eles citam a ascensão do sectarismo no Iraque como um exemplo catastrófico.

Além disso, a Liga Árabe perdeu grande parte de sua credibilidade depois que sua missão de monitoramento na Síria não conseguiu persuadir o regime a aceitar a proposta de paz da Liga, que Damasco inicialmente aceitou. O plano vislumbrava a retirada dos tanques e tropas das cidades, a libertação de manifestantes, o acesso da imprensa e o início das conversas entre Assad e a oposição.

Então, no domingo (22), durante uma reunião de cúpula no Cairo, a Liga Árabe pediu para Assad deixar o governo, abrir o diálogo com a oposição e formar uma unidade nacional de governo. Damasco rejeitou as propostas.

Ainda que os europeus tenham excluído a opção de uma ação militar, há outras medidas que podem tomar. Fora aplicar mais sanções, eles podem incrementar a assistência humanitária e de inteligência para a oposição síria, de maneira parecida à que ajudaram os rebeldes líbios no ano passado.

A União também poderia ter como alvo os apoiadores de Assad. Sua proposta de impor uma nova série de sanções contra o Irã por causa de seu programa nuclear pode se tornar crucial para a Síria. O Irã fornece assistência militar e econômica extensiva para a Síria, e apoia o movimento militante Hezbollah. O Hezbollah se posicionou ao lado de Assad.

Por fim, a União poderia trabalhar mais de perto com a Turquia, fornecendo assistência para os refugiados, e com o Qatar.

“Algumas capitais europeias estão debatendo que a UE estabeleça algum tipo de corredor de ajuda humanitária”, diz Anthony Dworkin, um especialista em direitos humanos no Conselho Europeu de Relações Estrangeiras.

A Turquia e Qatar podem apoiar essas metidas, dizem os diplomatas. A Turquia não é novata na região. Ela tentou mediar a questão das Colinas de Golan entre a Síria e Israel depois que o último tomou a região durante a guerra de 1967 no Oriente Médio. Ela também foi um dos primeiros países a pedir que Assad renunciasse.

“Ancara se sente traída por Damasco”, diz Ozgur Unluhisarcikli, diretor do escritório turco do German Marshall Fund nos Estados Unidos. “Ancara investiu muita energia tentando persuadir Assad a renunciar, mas sem nenhum resultado.”

Mas o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, é outro que não apoia a intervenção militar. Ele considera os riscos muito altos.

Ancara está preocupada que uma intervenção traga ainda mais refugiados. Ela também poderia encorajar os curdos na Síria a buscar mais autonomia. Unluhisarcikli diz que isso poderia desencadear uma insurgência curda na Turquia, onde as tensões entre o governo e a comunidade curda já são extremamente grandes.

A missão da Otan na Líbia já foi complicada o suficiente; ainda está longe de estar certo que depois da intervenção militar e da queda do coronel Gaddafi, o país conseguirá voltar à estabilidade. A Síria é um caso bem mais intratável.

“No que diz respeito à Síria, os europeus não estão sendo coerentes, mas estão tentando fazer o máximo que podem sem uma intervenção militar”, disse Allaf da Chatham House.

Mas ela tem poucas ilusões de que isso será suficiente.

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