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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

De um cameraman palestino inflexível, sai um filme aclamado sobre o conflito com Israel


Emad Burnat abraça o filho, Gibreel, ao lado do muro de separação na Cisjordânia


Emad Burnat nasceu para a terra e, como gerações de sua família nesta aldeia montanhosa na Cisjordânia, extraía um sustento modesto de seu solo rochoso. Mas há seis anos, com o nascimento de seu filho, ele ganhou uma câmera de vídeo e se transformou inesperadamente no cronista da aldeia.

Havia muito que registrar. Israel estava construindo uma barreira de separação nas terras da aldeia, que incluíam algumas de propriedade da sua família. O argumento por trás dela era impedir homens-bomba suicidas, mas a decisão confiscou grande parte da terra arável da aldeia e permitiu a expansão de um enorme assentamento israelense.

Tratores arrancaram oliveiras centenárias enquanto os colonos chegavam com casas móveis e mobília. Os aldeões ficaram no caminho; soldados os prenderam. Burnat estava lá, todo dia, filmando com sua câmera nova.

Agora, trabalhando com um cineasta israelense, Guy Davidi, Burnat pegou anos de gravações em vídeo e os transformou em uma história pessoal envolvente. O filme, “Five Broken Cameras” (cinco câmeras quebradas, em tradução livre), conquistou dois prêmios em novembro no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, incluindo o Prêmio do Público, e é um dos filmes competindo nesta semana na categoria de documentários internacionais no Festival de Cinema de Sundance.

Enquanto Bilin se transformava no ponto zero para a resistência popular palestina –manifestações semanais contavam com participação de ativistas israelenses e estrangeiros, e uma vitória parcial na Suprema Corte forçou a barreira a ser deslocada e a devolução de parte das terras– as imagens de Burnat se tornaram cruciais. Elas foram usadas não apenas por jornalistas, mas também por aqueles combatendo acusações nos tribunais militares israelenses. As acusações de agressão às vezes eram rebatidas com um refrão comum: vamos ver os vídeos de Emad.

O novo documentário intercala cenas dos aldeões combatendo a barreira com as primeiras palavras de Gibreel, o filho de Burnat (“cartucho”, “exército”), agentes secretos israelenses levando amigos e parentes, e a esposa de Burnat, Soraya, implorando para que deixasse de dar atenção para a política para estar com sua família. Ao longo de seis anos, Burnat teve cinco câmeras, cada uma delas quebrada ao longo da filmagem –entre outras coisas, pelas balas dos soldados e por um colono furioso.

No início do filme, Burnat coloca as câmeras sobre uma mesa. Elas formam os capítulos do filme e criam um tema para o desdobramento da trama –o poder do testemunho. Burnat nunca abaixa sua câmera e isso irrita seus oponentes.

“Diga para ele que se continuar filmando, eu vou quebrar os ossos dele!” um colono declara para um soldado. Burnat continua filmando. O colono se aproxima dele e, com a câmera gravando, a joga no chão, a quebrando. A tela fica preta.

“Quando filmo, eu sinto como se a câmera me protegesse”, diz Burnat em sua narração com voz suave no filme, uma sensação familiar para todos os jornalistas. “Mas é uma ilusão.”

Em uma cena, os soldados chegam à casa de Burnat (“Agora é minha vez”, ele diz para a câmera) para prendê-lo sob acusação de ter atirado pedras e atacar um soldado –acusações que ele negou e das quais foi posteriormente absolvido, segundo um porta-voz do exército. Ele filma a entrada dos soldados em sua casa e a afirmação surreal deles de que deve desligar sua câmera, porque ele está em uma “área militar fechada”. “Eu estou na minha casa”, ele responde. Ele passa três semanas na prisão e seis semanas sob prisão domiciliar. Foram necessários três anos para o caso ser arquivado.

Um subtema do filme é o ativismo dos dois principais amigos de Burnat, Adeeb e Bassem Abu Rahma, que eram primos. Bassem foi apelidado de “Phil”, a palavra em árabe para elefante. Ambos são sujeitos alegres e de grande coração à frente das manifestações. Phil foi morto em uma manifestação em 2009 e Burnat originalmente pensou em fazer o filme a respeito dele.

Mas Davidi e uma organização israelense chamada Greenhouse, que une cineastas regionais a mentores europeus e é financiada pela União Europeia, persuadiram Burnat a se colocar no centro de sua história. Foi uma decisão crucial que deu ao filme seu poder e intimidade. Mas não ocorreu naturalmente.

“Foi uma decisão difícil fazer um filme tão pessoal”, disse Burnat, 40 anos, sentado no jardim de sua casa. Gibreel, atualmente com 6 anos, e seus filhos mais velhos circulavam de um lado para outro e os prédios do assentamento Modiin Illit podiam ser vistos ao longe. “Eu me senti desconfortável sobre exibir imagens de minha esposa. Isso pode ser normal na Europa, mas aqui na Palestina você tem que responder muitas perguntas. Até o momento eu evitei exibir o filme aqui.”

Davidi, o codiretor israelense de 33 anos, chegou pela primeira vez a Bilin em 2005, para fazer um documentário sobre os operários palestinos que trabalhavam nos canteiros de obras no assentamento, e foi quando conheceu Burnat. “Nós queríamos que nosso filme fosse contido, não fosse provocador e nem combativo”, disse Davidi.

O estilo pessoal do filme não é a única coisa que atrai críticas a Burnat. Trabalhar com um cineasta israelense e receber ajuda da Greenhouse foram decisões controversas. O movimento palestino cada vez promove o boicote a tudo o que é israelense, sob a teoria de que o contato serve para “normalizar” as relações que deveriam estar congeladas até que ocorra algum progresso no término da ocupação.

“Quando exibimos o filme em Amsterdã, palestinos e outros árabes vieram até mim e perguntaram como pude trabalhar com os israelenses”, disse Burnat. “Mas desde o início, a luta por Bilin envolveu ativistas israelenses.”

A Greenhouse, que patrocinou 15 filmes e uniu 100 cineastas de Israel, Líbano, Turquia, Egito, Argélia, Jordânia, Marrocos, Tunísia e dos territórios palestinos, sabe que muitos no Oriente Médio fazem objeção ao que ela faz.

Sigal Yehuda, a diretora administrativa da Greenhouse, diz que a questão é discutida abertamente nos seminários patrocinados pelo grupo por toda a região.

“A coexistência é um dos frutos mais importantes dessa atividade”, ela disse. “Estas são pessoas inteligentes e influentes que conviveram, comeram junto e até mesmo dançaram com israelenses.”

Para Burnat, a questão da coexistência é especialmente delicada. No final de 2008, ele bateu acidentalmente com um caminhão contra a barreira de separação e ficou gravemente ferido. Uma ambulância chegou ao mesmo tempo que os soldados israelenses, que viram que o estado dele era grave e o levaram para um hospital israelense.

“Se eu tivesse sido levado para um hospital palestino”, disse Burnat, “eu provavelmente não teria sobrevivido”.

Ele ficou inconsciente por 20 dias. Três meses depois ele estava de volta filmando, com o pequeno Gibreel atrás dele.

“A única proteção que posso oferecer para ele”, diz Burnat sobre Gibreel àquela altura do filme, falando para os cronistas de toda parte, “é permitir que ele veja tudo com seus próprios olhos, para que possa confrontar quão vulnerável é a vida”.

Semanas depois, uma bomba de gás lacrimogêneo atingiu seu amigo Phil no peito, o matando.

Um comentário:

  1. Magnífico documentário deve ser este....
    Mas aonde conseguiremos ter contato com ele? no youtube só achei trailers ;/

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