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quarta-feira, 14 de março de 2012

A sombra de Muammar Gaddafi sobre Sarkozy


Presidente da França, Nicolas Sarkozy (esq), recebe o líder da Líbia, Muammar Gaddafi, em Paris, em 2007
As suspeitas de que o deposto coronel Muammar Gaddafi tenha financiado a campanha eleitoral que em 2007 levou Nicolas Sarkozy ao Palácio do Eliseu não são novas. Em 2011, apenas dois dias antes do início dos bombardeios da Otan sobre a Líbia, Saif el Islam, o filho mais poderoso do coronel, afirmou à rede Euronews que o presidente francês tinha de devolver a Trípoli o dinheiro que o regime lhe enviou para ajudá-lo a ganhar as eleições.

O jornal digital Mediapart revelou um documento secreto, vazado de um processo judicial, que sugere que o regime líbio transferiu 50 milhões de euros para duas contas secretas de líderes do partido de Sarkozy, graças a gestões realizadas pelo traficante de armas Ziad Takieddine. Sarkozy limitou-se na segunda-feira (12) à noite a qualificar de "grotescas" as acusações.

O site dirigido por Edwy Plenel, ex-diretor do jornal "Le Monde", afirma que Takieddine, um personagem obscuro envolvido no caso Karachi (o suposto financiamento ilegal da campanha do ex-primeiro-ministro Édouard Balladur), organizou em 2005 uma visita oficial de Sarkozy a Trípoli quando este era ministro do Interior, com seus colaboradores Brice Hortefeux e Claude Guéant.

Hortefeux, vice-presidente da União por um Movimento Popular (UMP), foi o sucessor de Sarkozy como ministro do Interior quando este chegou ao Eliseu, enquanto Guéant, que era então chefe de Gabinete de Sarkozy, acabou sucedendo a Hortefeux.

A investigação da Mediapart revela que a nota que supostamente compromete Sarkozy e a UMP foi entregue aos policiais que investigam Takieddine por uma testemunha chamada Jean-Charles Brisard, antigo colaborador de Balladur e hoje diretor de uma agência de detetives privados. O documento contém as iniciais de Nicolas Sarkozy e de Brice Hortefeux e inclui referências a uma conta na Suíça da irmã de Jean-François Copé, secretário-geral da UMP, e uma suposta empresa de Hortefeux com sede no Panamá. A nota é encabeçada por essas palavras: "modalidades fin [de financiamento] campanha NS+BH concedidas durante a visita à Líbia de 6-10-2005". E no final afirma: "financiamento campanha completamente acertado".

Hortefeux confirmou à Mediapart que viajou a Trípoli com Sarkozy em 6 de outubro de 2005, mas salientou que "jamais se tratou da questão do financiamento político, nem de perto nem de longe". Sobre a misteriosa sociedade panamenha que supostamente lhe pertence, Hortefeux afirma: "não sei o que é".

Segundo a Mediapart, aquela viagem oficial de Sarkozy à Líbia foi minuciosamente organizada pelo mediador franco-libanês Ziad Takieddine, segundo atestam algumas das numerosas notas que este enviou a Guéant entre 2003 e 2008. Muitas cópias desses arquivos foram tiradas do computador e entregues à Justiça pela ex-mulher de Takieddine. Em 12 de outubro de 2011, o mediador confirmou ao juiz Renaud van Ruymbeke que suas notas pessoais sobre Síria, Arábia Saudita, Líbia e Líbano "eram reais" e "foram enviadas" por ele mesmo "a Guéant para que as transmitisse ao ministro [Nicolas Sarkozy], a quem chamava de chefe".

A reportagem da Mediapart confirma também que, em 2005, Takieddine viajou 11 vezes a Trípoli, onde se encontrou com Saif el Islam, o poderoso filho de Gaddafi que liderou a comunicação do regime durante a guerra e agora se encontra detido na Líbia. O intermediário resumiu suas impressões dessas viagens em uma dúzia de notas que enviou ao gabinete de Sarkozy.

Takieddine esteve presente em Trípoli nas visitas de Guéant, Sarkozy e Hortefeux, afirma a Mediapart, e antes de uma viagem de Guéant enviou em 6 de setembro de 2005 a seguinte nota ao número 2 de Sarkozy: "A visita de preparação é pouco habitual. Deve manter um caráter secreto. Será preferível que CG [Claude Guéant] se desloque sozinho e que a viagem se efetue sem fanfarras. A outra vantagem: assim estará mais à vontade para evocar o outro tema importante, da forma mais direta".

Outra nota, datada de 22 de setembro de 2005, fala de um "tête-à-tête" de Sarkozy "com o líder", documenta a entrega dos currículos de "NS e BH" a Gaddafi e dá conta dos avanços na negociação de várias operações de segurança e armas. Outros documentos de Takieddine reunidos pela polícia contêm cartas de Sarkozy (10 de setembro de 2005), Guéant (23 de setembro) e Hortefeux (15 de novembro) dirigidas às autoridades líbias.

Em sua declaração do ano passado à Euronews, Saif el Islam acusou Sarkozy de ter financiado sua campanha eleitoral com fundos líbios e acrescentou: "A primeira coisa que pedimos a esse palhaço é que devolva o dinheiro ao povo líbio. Concordamos em lhe dar ajuda em troca de que trabalhasse pelo povo líbio, mas nos decepcionou. Temos todos os detalhes, as contas bancárias, os documentos e as transferências. Mostraremos tudo proximamente". Dois dias depois começaram as operações bélicas contra Gaddafi. Naquele mesmo mês de março de 2011, Takieddine foi detido no Aeroporto Charles de Gaulle em Paris, quando acabava de chegar de Trípoli. Levava consigo 1,5 milhão de euros.

Discurso de Sarkozy provoca críticas na França e em Bruxelas
Uma enxurrada de críticas e ironias fustigou na segunda-feira (12) o discurso eleitoral ultranacionalista de Nicolas Sarkozy do domingo passado em Villepinte, no qual o presidente se atribuiu todo o mérito pela salvação da Europa e do euro e lançou um duplo ultimato, ao ameaçar fechar as fronteiras se a UE não melhorar em 12 meses o controle da imigração e ao exigir medidas protecionistas.

O discurso populista de Sarkozy parece dar frutos: uma pesquisa da Ifop Fiducial, publicada na segunda-feira por "Paris Match", o situa pela primeira vez na liderança, com 28,5% das intenções de voto, contra 27% de Hollande no primeiro turno. No segundo turno, porém, o socialista ganharia com 54,5%, contra 45,5% do atual presidente.

Mas opositores e analistas salientaram que Sarkozy esqueceu de explicar seu programa e ofereceu "um exercício de amnésia", "um gesto desesperado ao eleitorado de extrema direita", "uma improvisada e dispersa acumulação de contradições que só demonstram seu medo de perder" .

Seu rival máximo, o socialista François Hollande disse que, depois de salvar a Europa, Sarkozy "transformou a Europa em seu bode expiatório" e lhe agradeceu que tenha questionado vários tratados em vigor porque isso "legitima" seu desejo de melhorar o pacto fiscal. Do centro, o candidato François Bayrou qualificou de "insensata" a possibilidade de fechar o espaço Schengen; e a extrema direita de Marine Le Pen comentou que Sarkozy "não tem a menor intenção de fechar as fronteiras".

O jornal "Le Monde" salientou o paradoxo de que Sarkozy prega melhor do que atua, ao lembrar que seu ministro do Interior, Claude Guéant, não participou de uma reunião decisiva sobre as novas regras de Schengen realizada em Bruxelas em 8 de março. A revisão está em fase avançada e seu objetivo é buscar um maior "governo político", justamente o que Sarkozy exigiu. O debate começou em junho de 2011, quando a França fechou a passagem ferroviária com a Itália para impedir a entrada de centenas de tunisianos que fugiam de Lampedusa.

O segundo grande assunto agitado por Sarkozy foi o mercado único, o livre comércio e a deslocalização de empresas. Reclamou uma volta de parafuso protecionista, atacou novamente a "tecnocracia" de Bruxelas e disse que "as negociações comerciais da Europa devem ser decididas pelos chefes de Estado e de governo. A Comissão deve tomar nota". De fato já o faz, porque só negocia sob o mandato do Conselho. Em Bruxelas, um alto funcionário europeu citado pelo jornal "Libération" despachou assim as declarações de Sarkozy: "Pura gesticulação eleitoreira".

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