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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Lyudmila Kalinina: A "Dama de Ferro" das Tropas Blindadas Russas

Quando Lyudmila Kalinina, coronel-engenheira das Tropas Blindadas Soviéticas, completou 95 anos, ela foi ao museu de blindados da cidade de Kubinka, a oeste de Moscou, para se despedir de seus carros de combate. Ali ela deu um beijo em um tanque T-40, um T-70 e um T-34.

Lyudmila Kalinina

A farda da coronel Kalinina pesa cerca de 7 kg, pois ela é enfeitada por 9 ordens e 55 medalhas. No entanto, Lyudmila Kalinina, do alto dos seus 96 anos de idade, segue bailando em ocasiões especiais a dança vigorosa russa, o kazachok. Tampouco se nega a tomar um copinho de conhaque ou de vodka, odeia falar de saúde e, é capaz de passar horas falando de carros de combate. E, segundo confessa, também segue sonhando com a patente de general.

“Não olhe se estou magra: se te bato, cairás em seguida, uma vez que meus braços seguem tendo força”, disse a coronel piscando para a câmera. “Com mulheres não me pego”, diz olhando para a correspondente russa.

Lyudmila Kalinina é conhecida na Associação Veteranos de Guerra de Moscou como a “avó das tropas blindadas” e tratam de ajudá-la como podem. Os jornalistas dizem que uma mulher como Lyudmila Kalinina não necessita de guardiões e a chamam de “A Dama de Ferro das Tropas Blindadas”. Durante a guerra, no front chamavam Lyudmila Kalinina de “Lyudmil”, uma forma masculina inexistente em seu nome “Lyudmila”.


Não se aceita mulheres 

Lyudmila Kalinina nasceu no século passado, em 8 de setembro de 1915, em Ufa, uma cidade russa nos Montes Urais. Depois que seus país se mudaram para Moscou, Kalinina tinha 13 anos de idade e passou a trabalhar como aprendiz de ajustador da famosa Fábrica de Automóveis Likhachov (Zavod imeni Likhachova) de Moscou.

De dia trabalhava, de noite estudava na escola de obreiros, como faziam milhares de jovens da União Soviética. Com 18 anos de idade, Kalinina obteve a qualificação profissional de ajustador.

Naquela época, uma comissão da Academia Militar das Tropas Blindadas visitou a fábrica para selecionar os jovens que estudariam na faculdade de engenharia.

“Todos, é claro é, ficaram surpreendidos: meus pais, meu irmão mais velho, quando eu anunciei que também queria estudar na Academia Militar”, recorda Kalinina.

Kalinina superou todas as provas físicas e de conhecimento, mas na hora de completar o grupo de jovens que marcharia para o acampamento para fazer o curso preparatório, não chegou formar parte dele. “Mas tarde soube que no ano de 1934, a direção da Academia recebeu uma ordem do Kremlin para não admitir mulheres”, conta Kalinina com o semblante triste.


Uma chegada mágica

Passado uma semana após ter recebido a negativa da Academia Militar, o diretor da fábrica em que Kalinina trabalhava, Ivan Alekseevich Likhachev, surpreendeu a jovem Kalinina ao vê-la chorando atrás das máquinas. Ao saber do infortúnio de Kalinina, Likhachev pegou sua mão e levo-a ao seu escritório.

“Ele chamou diretamente o comissário político da Academia Militar e lhe disse o que se passava, como podiam fazer chorar uma jovem tão vibrante, membro do Komsomol (a organização juvenil do Partido Comunista da União Soviética)”, recorda Kalinina.

Depois da “prensa” do diretor da empresa, Kalinina pôde ingressar na Academia sendo a segunda garota entre 160 alunos.


“Barbeados como ela”

No acampamento preparatório receberam formação militar: lhes fora ensinado disparar um fuzil, formar filas, marchar e etc. A preparação física era muito importante. Kalinina teve que se esforçar para seguir o ritmo. Recorda com um sorriso como um dos oficiais a colocava como exemplo para os demais alunos. “Quero vocês com as botas e os pescoços limpos e bem barbeados como os dela”, dizia o comandante aos garotos em fila.

Depois de concluir os estudos, Kalinina obteve um destino no Estado-Maior do distrito militar de Moscou. Ali conheceu Boris Pavlovich Kalinin, que chegaria a ser seu segundo marido. Kalinina não gosta de falar de seu primeiro esposo, Ivan Fedotovich Starshinov, um Cavaleiro da Ordem de Lenin.


Toda a vida em posição de combate

Ivan Fedotovich Starshinov trabalhou como Kalinina na fábrica de automóveis. Era mais velho que ela, e carregava consigo sempre a Ordem de Lenin, a maior condecoração da URSS à época e queria Kalinina desmedidamente, segundo confessa a própria Kalinina.

“Quando ele pediu minha mão, eu aceitei”, recorda Kalinina. “Eu tinha muito respeito por ele, mas não o amava. Logo foi submetido a represálias e nos divorciamos. Com Boris Pavlovich Kalinin tudo foi diferente. Eu já era maior, e nos queríamos muito, com paixão, com nas novelas”, ri Kalinina.

Em seu casamento com Boris Pavlovich Kalinin, ela não teve filhos biológicos. Ao terminar a guerra, adotaram uma criança de seis meses, também de nome Lyudimila. Sua filha morreu há poucos anos, assim como Boris. Kalinina sofre muito com a solidão, mas se mantém firme como uma verdadeira coronel: “A vida nunca me encheu de alegrias. Nem antes da guerra, nem durante a mesma, nem depois. Sempre me senti como se estivesse em posição de combate.


Testando carros de combate

Antes de começar a Segunda Guerra Mundial Lyudmila Kalinina trabalhou testando os carros de combate. Recorda com especial emoção os testes do carro de combate leve T-40, em 1940.

“Fiz 3.500 km por terras pantanosas, esburacadas e caminhos intransitáveis detrás dos comandos. Cruzei o Dniepr e o Dniestr. Para mover a alavanca para a esquerda ou direita, tive que aplicar a mesma força para levantar 40 kg”, explica a coronel.

Quando passava por um povoado, Kalinina aproveitou para tomar um banho e ficou surpresa ao despir-se – tinha uma grande hematoma pelo seu corpo.

Em junho de 1941, Kalinina e Kalinin foram à Costa do Mar Negro apenas para desfrutar de uma praia por alguns dias. No dia 22 começou a Grande Guerra Patriótica colocando fim as suas férias e ambos tiveram que voltar à Moscou com Urgência.


Quatro mil carros de combates reparados

A guerra, cruel e terrível durou 4 anos. Kalinina foi enviada para o front do Sul para organizar a evacuação dos carros de combate danificados para retaguarda e reparar os carros de combate em campo. Conhece com perfeição o som dos bombardeiros e ataques e confessa francamente que se gasta o medo da guerra.

“Durante a guerra reparei 4.000 carros de combate, só dos nossos, porque houve momento que repararmos também os carros de combate inimigos para usá-los contra os fascistas”, explica Kalinina, que encabeçava a divisão de reparação e de evacuação de carros de combate dos fronts do Sul e do Cáucaso do Norte.

No final da guerra, a coronel Kalinina já dirigia uma planta móvel de reparação de material blindado tendo sob seu comando cerca de 2.000 homens.

Em quando o homem mais importante de sua vida, Boris Kalinin, não pôde vê-lo com frequência durante a guerra, Kalinina trocava cartas e esperava com paciência o momento do reencontro.


De olhos fechados

E houve o reencontro. Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, Kalinina e Kalinin viveram juntos por quase meio século. Em 1945, justo depois da guerra, foram trabalhar juntos nos serviços de inteligência.

“Trabalhamos nos EUA e na Alemanha. Uma de nossas tarefas era o recrutamento de profissionais. Mas não posso dizer”, ri Lyudmila Kalinina.

Até agora domina com perfeição o inglês e o alemão e recorda perfeitamente como conduzir um carro de combate. “Não poderia comandar um carro de combate moderno, estão cheios de dispositivos eletrônicos. Necessitaria de algumas aulas para fazê-lo (conduzir um carro moderno). Mas os T-40, T-70 e T-34 os conduziram com os olhos fechados”, comenta a Dama de Ferro.


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