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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Nações emergentes lutam por poder no FMI


Christine Lagarde
A União Europeia gostaria que o Fundo Monetário Internacional fornecesse bilhões em fundos adicionais para ajudar a aliviar a crise da dívida. Contudo, uma série de economias emergentes está resistindo a isso, acusando o Ocidente de abuso de seu poder dentro da organização e de criar um "Fundo Monetário do Atlântico Norte".

Quando o ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, membro da União Democrática Cristã (CDU), partir para Washington nesta quinta-feira (19) para a reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, ele está levando muito estoicismo e satisfação.

"Fizemos nosso dever de casa", diz o ministro das finanças, lançando elogios a si mesmo e a seus colegas da zona do euro. Recentemente, houve poucas ocasiões nas quais ele se sentiu tão bem em seu caminho para uma reunião internacional financeira tão importante, acrescenta Schäuble.

Há uma razão para a satisfação de Schäuble, ou seja, as decisões mais recentes alcançadas pelo Euro Group, composto de ministros das finanças dos 17 membros da união monetária. Em uma reunião em Copenhague há duas semanas, o grupo concordou em expandir os fundos de resgate do euro. Sob o novo arranjo, os europeus tornarão disponíveis $ 800 bilhões de euros, ou mais de US$ 1 trilhão, para ajudar Estados membros em dificuldades.

Por meses, a diretora do FMI, Christine Lagarde, incentivou Schäuble e seus colegas a aumentaram o tamanho das proteções do euro. Ela prometeu que, se eles aumentassem seus fundos de resgate para US$ 1 trilhão, o FMI forneceria uma quantia igual para um fundo de resgate mundial. Mas na última quinta-feira (12), ela reduziu um pouco as expectativas do fundo, porque os piores temores não se materializaram.

Europa espera maior contribuição do FMI
Agora que os europeus fizeram sua parte, eles esperam mais dinheiro de Washington. Schäuble e seus colegas ministros da fazenda europeus chegarão à capital dos EUA acreditando que não há mais obstáculos para um maior compromisso do FMI. Mas suas esperanças podem ser vãs.

A perspectiva de maior assistência financeira não é nem de longe garantida. Muitos dos 187 Estados membros do FMI estão ficando cada vez mais ressentidos com a noção de merecimento do velho continente. E muitos políticos de partes mais pobres do mundo se ressentem dos ricos europeus por serem tão adeptos a ajudarem a si mesmos.

O que causa particular repulsa aos representantes das economias emergentes é o fato de o FMI ter dado mais dinheiro para os países europeus em dificuldades do que para a crise financeira na Rússia, Coreia do Sul e México combinadas. Só a ajuda para a Grécia é 23 vezes maior do que a própria contribuição de capital da Grécia ao fundo. Nunca antes em sua história de 60 anos, o fundo foi tão generoso com uma ajuda a um país necessitado.

Para o grupo de economias emergentes conhecido como Brics -Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul- a generosidade do FMI é prova que os velhos poderes industriais da Europa e da América do Norte ainda veem a organização de Washington como uma loja de self-service. É de se esperar um duro combate com esses países em torno da nova ajuda à Europa.

Uma luta pelo poder de dar as cartas
A reunião na capital norte-americana no final desta semana também será um duelo. Ele envolverá mais do que a questão de como o mundo deve sair da crise no curto prazo. A controvérsia da ajuda adicional para a Europa é meramente um sintoma de conflitos muito mais profundos. Na realidade, está sendo travada uma luta pelo poder entre os antigos países industrializados e as economias emergentes prósperas sobre quem dará as cartas, no futuro, em uma das instituições mais importantes da globalização.

Para os Brics, a participação do FMI no segundo pacote de resgate para a Grécia e a renovação das linhas de crédito disponíveis para o FMI, com as quais a nova ajuda deve ser patrocinada, são ocasiões bem vindas para demonstração de força. No longo prazo, seu objetivo é rever sua importância relativa dentro dos corpos decisórios do fundo, de forma que reflita sua maior importância na economia mundial. Uma dura batalha é praticamente garantida para os próximos anos.

Em uma reunião em Nova Déli, na Índia, há duas semanas, os líderes dos Brics formularam a estratégia que seguirão na reunião de primavera em Washington. Eles concordaram que é "imperativo" que seus países tenham um papel mais importante no FMI e que sua importância econômica crescente seja refletida em sua presença e poder de voto dentro dos corpos de decisão da organização.

Eles também enviaram uma advertência para a Europa, qual seja, que os esforços de aumentar as capacidade de empréstimo do fundo só terão sucesso se as reformas que já foram aprovadas forem implementadas.

As economias emergentes vêm lutando para terem mais influência no FMI há anos e, em 2010, os poderes industriais estabelecidos finalmente cederam a essa demanda. Até agora, contudo, a prática de fato furou todos os principais planos.

Ainda não foi determinado quando entrará em vigor o aumento da participação do capital da China e de outras economias emergentes acordado na época. E ainda não está claro quando os europeus vão cumprir sua promessa de ceder dois assentos no conselho executivo do FMI, o principal corpo decisório, onde são evidentemente super representados.

"Os Europeus não estão nos acomodando"
"Os europeus querem nossa ajuda, mas não estão nos acomodando em termos da reforma do FMI", diz Paulo Nogueira Batista, 57, representante do Brasil e de oito outros países latino-americanos no Conselho Executivo do FMI. "Isso realmente é muito estranho".

O economista brasileiro é uma espécie de líder dos Brics no Conselho Executivo do FMI. Ele não faz segredo de seu cepticismo em relação às decisões tomadas em março em Copenhague. Os europeus deram "menos do que o prometido" aos fundos de resgate, diz ele. De fato, cerca de $ 300 bilhões de euros dos $ 800 bilhões já tinham sido reservados para esse fim. "Esse processo é muito pouco transparente", diz Nogueira Batista.

Não é de surpreender que Nogueira Batista e seus colegas estejam hesitantes no que concerne o aumento da ajuda do FMI. Ele ressalta que seu governo ainda não tomou decisões finais, e que ele não pode antecipar tais decisões. "Não acho que pode-se dar por garantida a aprovação na reunião de primavera", diz ele. É bem possível, acrescenta, que a decisão não seja alcançada até a reunião do G-20, em junho.

Os países dos Brics estão tentando ganhar tempo. Eles querem demonstrar seu poder e seus objetivos que são amplos. Eles querem mudar as participações nos votos dentro do FMI em seu favor e romper o tradicional domínio dos Europeus na diretoria da organização.

"O fundo não reflete mais a realidade do século 21", diz Nogueira Batista. "Os países do euro estão abusando de seu poder dentro do FMI", acrescenta, observando que dinheiro demais e, portanto, risco demais está concentrado na Europa. Na realidade, diz Nogueira Batista, o FMI não merece o título de Fundo Monetário Internacional há um bom tempo. "O que temos hoje é um fundo monetário do Atlântico Norte".


Uma aliança frágil
A discussão em torno da renovação dos fundos também oferece aos poderes emergentes a chance de provocar uma cisão entre americanos e europeus, que tradicionalmente se mantiveram juntos na maior parte das questões, inclusive na seleção de um novo diretor do FMI.

Desta vez, contudo, a aliança parece frágil. Os americanos não estão dispostos a fornecer fundos adicionais para o fundo de resgate mundial e também estão impedindo a implementação das reformas. O presidente norte-americano, Barack Obama, não ousa pedir ao Congresso dos EUA que aprove mais fundos para o FMI antes das eleições presidenciais de novembro.

O governo dos EUA se retira
"A Europa tem a capacidade de resolver seus problemas. O FMI não pode substituir uma proteção robusta da zona do euro", diz o secretário do Tesouro, Timothy Geithner.

Essa atitude permanece. "O governo americano está essencialmente se retirando e esperando que não haja mais desastres neste ano", dizem funcionários do FMI.

Obama está tomando cuidado para não se expor à acusação de estar gastando o dinheiro do contribuinte americano. Além disso, o único superpoder que resta muitas vezes tem uma tendência a desenvolver um cepticismo em relação às organizações internacionais. Grande parte da cooperação internacional não é compatível com a imagem do país de poder hegemônico.

Os republicanos nos EUA também estão usando a crise da dívida no velho mundo para reforçar sua alegação que o modelo econômico europeu, supostamente socialista, fracassou. "A Europa não funciona na Europa e não funciona aqui", teria dito o provável oponente de Obama, Mitt Romney repetidamente em eventos de campanha, em um esforço para atacar Obama, que teria planos de introduzir nos EUA um modelo econômico ao estilo europeu.

Um país, porém, se beneficia com a contenção norte-americana: a China. As autoridades da segunda maior economia do mundo observaram com satisfação enquanto os americanos se retiraram do jogo. Qualquer perda de influência da velha potência hegemônica é boa para a China.

Com as maiores reservas de moeda estrangeira do mundo a sua disposição, os chineses não têm dificuldades em prover fundos para o FMI e, diferentemente de Obama, eles não precisam levar em conta os desejos de parlamentares recalcitrantes.

Sentimentos conflitantes em Berlim
O governo em Berlim vê a contenção americana com sentimentos conflitantes. "É lastimável que os EUA não estejam fazendo sua própria contribuição", dizem autoridades do Ministério das Finanças da Alemanha. Ainda assim, a equipe do ministro Schäuble não abandonou suas esperanças. "Estamos otimistas que o aumento de recursos será aprovado na reunião de primavera e que os Brics também participarão".

O governo alemão não está disposto a aceitar um acordo com as economias emergentes, sob o qual a Europa receberia mais ajuda e as economias emergentes receberiam maior poder no FMI. "Não há relação direta entre o atual aumento de recursos e maiores reformas do FMI", dizem as autoridades alemãs. Além disso, acrescenta, as economias emergentes não poderão impedir as resoluções no longo prazo, porque não têm a maioria necessária para tanto.

Os europeus também estão apostando no interesse dos Brics. Os europeus não são os únicos países que se beneficiariam de fundos adicionais, porque estariam disponíveis a todos os Estados membros. Isso certamente parece necessário, segundo estudos do FMI que mostram que a crise do euro afeta até as partes mais remotas do mundo. Em suas projeções, os especialistas de Lagarde concluem que o colapso de um país como a Espanha ou a Itália também teria um sério impacto sobre países na América Latina e Ásia. Os europeus admitem que os Brics, determinados a evitar esses tremores em seu próprio quintal, vão por fim apoiar o aumento de recursos do FMI.

Enquanto isso, os europeus reduziram suas expectativas em termos da ajuda do FMI. Eles abandonaram a meta de mobilizar US$ 1 trilhão. Se o aumento de recursos for de apenas US$ 800 bilhões, dizem os negociadores, também será "um bom resultado".

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