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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Um executor a serviço dos rebeldes conta sua história: "não existem mais leis na Síria"


A organização Human Rights Watch condenou as atrocidades cometidas por rebeldes sírios no seu reduto na cidade de Homs. Mas um membro de uma “brigada de enterro” rebelde, que executou quatro homens, degolando-os, defendeu a sua ação em uma entrevista a “Spiegel Online”. “Se nós não agirmos dessa forma, ninguém fará com que esses perpetradores paguem pelas suas ações”, disse ele.

Hussein tem uma lembrança vaga da primeira vez em que executou uma pessoa. Foi provavelmente em um cemitério no final da tarde ou durante a noite; ele não consegue se lembrar exatamente. A execução foi perpetrada sem dúvida em meados de outubro do ano passado, e o homem executado era sem dúvida xiita. Ele havia confessado o assassinato de mulheres --mulheres decentes, cujos maridos e filhos haviam participado de manifestações contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad. Por isso, os rebeldes decidiram que o homem, um soldado do exército sírio, também merecia morrer.

Hussein não se importou com o fato de o homem ter sido espancado para confessar, nem de ele ter demonstrado tanto medo da morte que começou a balbuciar orações antes de ser executado. O xiita teve o azar de ser capturado pelos rebeldes. Hussein desembainhou sua faca militar e degolou o homem, que estava de joelhos. Os seus camaradas da chamada “brigada de enterro” enterraram rapidamente o corpo sangrento na areia do cemitério que fica a oeste da área de Baba Amr, um reduto rebelde na cidade de Homs. Na época, o bairro era controlado pelos insurgentes.

A primeira execução foi um rito de passagem para Hussein. Depois disso ele tornou-se membro da brigada de enterro de Homs. Os integrantes da brigada, que é constituída por um grupo pequeno de rebeldes, matam em nome da revolução síria. Eles deixam a tortura a cargo de outros. Torturar é uma tarefa da chamada brigada de interrogatório. “Eles fazem o trabalho sujo”, explica Hussein, que atualmente está sendo tratado em um hospital na cidade libanesa de Trípoli. Ele foi ferido quando o fragmento de um projétil alojou-se nas suas costas durante a invasão de Baba Amr pelo exército sírio no início de março.

Hussein está recuperando-se no relativamente seguro Líbano até poder retornar à Síria e “voltar a trabalhar”. Ele considera aquilo que faz um serviço limpo. “A maioria dos homens é capaz de torturar, mas eles são incapazes de matar alguém de perto”, explica ele. “Eu não sei por que, mas isso não me incomoda. Foi por isso que eles me encarregaram das execuções. Essa é uma tarefa para pessoas maluca como eu”.

Antes de ingressar na Brigada Farouk, conforme é conhecida a milícia de Baba Amr, em agosto do ano passado, esse jovem de 24 anos de idade trabalhava como comerciante. “Eu sei vender de tudo, desde porcelana até iogurte”, diz ele.

Como os rebeldes perderam a inocência
A rebelião sangrenta contra o regime de Assad já dura um ano. E a história de Hussein mostra que os rebeldes já perderam toda a inocência. Existem provavelmente muitos motivos para isso. Hussein é capaz de apresentar alguns deles. “Não existem mais leis na Síria”, diz ele. “Soldados ou malfeitores contratados pelo regime matam homens, mutilam crianças e estupram as nossas mulheres. Se nós não agirmos dessa forma, ninguém fará com que esses perpetradores paguem pelas suas ações”.

Ele explica que um outro motivo para agir assim é o desejo de vingança. “Eu fui preso duas vezes. Fui torturado durante 72 horas. Eles me penduraram pelas mãos, até que as articulações dos meus ombros estalaram. Depois fui queimado com ferros quentes. É claro que eu tenho um desejo de vingança”.

A família dele também sofreu. Ele explica que perdeu três tios, todos assassinados pelo regime. “Um deles morreu juntamente com os seus cinco filhos”, conta Hussein. “Os assassinos deles não merecem piedade”.

O mais sinistro é o fato de Hussein acreditar que a violência faz simplesmente parte da natureza da sua sociedade. “As crianças na França crescem em meio à língua francesa e aprendem a falá-la com perfeição”, argumenta ele. “Já nós, sírios, crescemos em meio à língua da violência. Nós não falamos nenhuma outra língua exceto essa”.

Mas apesar das justificativas alegadas pelos rebeldes para a prática desse tipo de justiça com as próprias mãos, as ações de Hussein fazem parte daquilo que a organização não governamental Human Rights Watch condenou na última terça-feira como sendo “sérias violações dos direitos humanos” por parte dos rebeldes sírios.

Nos corredores do hospital em Trípoli, Hussein e os seus camaradas feridos falam abertamente a respeito do fato de eles, da mesma forma que as tropas do regime de Assad, torturarem e matarem. Eles acham que as críticas por parte dos ativistas dos direitos humanos são injustas: “Nós, rebeldes, estamos tentando defender o povo. Estamos lutando contra assassinos. Quando nós os pegamos, temos que agir com dureza”, diz um combatente, cujo nome de guerra é Abu Rami.

Sistema de justiça alternativo
No decorrer do ano passado, Homs transformou-se na capital não oficial da revolução. Até algumas semanas atrás, os rebeldes controlavam bairros inteiros da cidade, especialmente o distrito de Baba Amr. Mas a área foi invadida por tropas do governo no início de março. O combate entre os rebeldes e as forças governamentais deslocou-se agora para o distrito vizinho de Khalidiya.

Segundo Abu Rami e Hussein, o sistema de justiça alternativo que os rebeldes implantaram em Homs no outono passado continua em vigor. “Quando nós capturamos apoiadores do regime, eles são submetidos a uma corte marcial”, dizem eles. O comandante dos rebeldes de Homs, Abu Mohammed, preside o tribunal. Ele é assessorado por abu Hussein, o chefe do comitê coordenador. “Às vezes um número ainda maior de homens atua como júri”, diz Hussein.

A brigada de interrogatório relata as confissões feitas pelos acusados. Muitas vezes os suspeitos trazem nos seus telefones celulares vídeos que mostram atrocidades sendo cometidas contra insurgentes, dizem os homens. “Em tal situação, a culpa deles é confirmada rapidamente”. Caso haja uma condenação, os prisioneiros são entregues à brigada de enterro de Hussein, que os leva para jardins ou para o cemitério. E Hussein vai com o grupo, acompanhado da sua faca.

Até hoje, Hussein cortou a garganta de quatro homens. No grupo de carrascos de Homs, ele é o que tem menos experiência --e ele parece sentir-se quase que culpado por isso. “Eu fui ferido quatro vezes nos últimos sete meses”, justifica-se Hussein. “Fiquei fora de ação durante muito tempo”. Além disso, ele também tem que desempenhar outras tarefas. “Eu opero uma metralhadora pesada, uma BKC russa. Naturalmente eu matei muito mais gente com essa arma. Mas apenas quatro com a faca”. Mas ele diz que essa situação mudará em breve. “Eu espero poder sair do hospital na semana que vem e retornar a Homs. Então esses cachorros verão o que é bom”.

“Às vezes nós absolvemos pessoas”
Os rebeldes de Homs começaram a executar pessoas em agosto do ano passado, pouco depois que o conflito no país começou a aumentar de intensidade, diz Abu Rami, o camarada de Hussein. Usando uma calça de moletom Adidas, ele se parece com qualquer outro convalescente que está no hospital. Mas Abu Rami é um membro graduado da milícia de Homs. Os outros sírios que estão na enfermaria o cumprimentam respeitosamente e prestam muita atenção às suas palavras.

“Desde o verão do ano passado nós executamos pouco menos de 150 homens, o que representa cerca de 20% dos nossos prisioneiros”, diz Abu Rami. De acordo com Rami, os prisioneiros que não são condenados à morte são trocados por prisioneiros rebeldes ou manifestantes que encontram-se detidos. Mas os executores de Homs têm estado mais ocupados com membros do seu próprio grupo do que com prisioneiros de guerra. “Quando pegamos um espião sunita ou um cidadão que traiu a revolução, nós agimos rapidamente”, diz o combatente.

Segundo Abu Rami, a brigada de enterro de Hussein executou entre 200 e 250 traidores desde o início da rebelião. Ele repele qualquer dúvida quanto à possibilidade de que essas pessoas não fossem de fato culpadas e de que elas não tenham recebido um julgamento justo. “Nós nos empenhamos bastante em conduzir investigações rigorosas”, afirma Abu Rami. “Às vezes nós também absolvemos pessoas”.
“Independentemente de tudo o mais, toda revolução tem simplesmente uma natureza sanguinária”, explica Abu Rami. “A Síria não é um país para pessoas sensíveis”.

Um comentário:

  1. esses pseudo revolucionarios, são ratos marionetes da OTAN.

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