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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Isolando-se cada vez mais dos vizinhos árabes, Israel se transforma em uma fortaleza murada


Muro israelense na Cisjordânia (uma piada!)

Os blocos de cimento vão se encaixando uns nos outros como peças de dominó. Em algumas semanas estará pronto este trecho do muro de concreto com que Israel quer reforçar sua fronteira norte e proteger-se de possíveis ataques procedentes do Líbano.

Com essa nova barreira, Israel fica quase todo murado; isolado fisicamente de seus vizinhos ao norte, sul e oeste. Aço, cimento e arame farpado são o cartão de visita que Israel oferece a seus vizinhos --Síria, Jordânia, Líbano e Egito--, ocupados em revoluções internas de potenciais consequências externas. Israel lhes mostra a face mais assustadora de um país forte por fora e temeroso por dentro. A chamada Primavera Árabe só fez exacerbar esse nervosismo e acelerar a construção de um muro na fronteira com o Egito.

Do outro lado da fronteira norte, no lado libanês, alguns curiosos sobem em um edifício para olhar como avançam as obras. A base do exército israelense está praticamente colada a Kfar Kila, um povoado libanês no qual junto da bandeira nacional ondula outra, a do arqui-inimigo Hizbollah, o partido-milícia xiita. Esta semana, o líder máximo do Hizbollah, Hasan Nasralah, voltou a ameaçar Israel com um ataque no caso de uma nova incursão por parte de seu vizinho do sul. No verão de 2006 Israel realizou uma intensa campanha de bombardeios no Líbano que deixou 1.200 mortos em pouco mais de um mês.

Uma das casas de Kfar Kila está praticamente colada à cerca coberta de plástico laranja que até agora marcava a fronteira. Uma patrulha da Unifil, composta em parte por espanhóis, também controla as obras contra qualquer fagulha que possa saltar devido à nova manobra israelense. "Estamos muito próximos e trata-se de reduzir a tensão. Às vezes nos atiram pedras. Quando o muro estiver construído não haverá qualquer contato, nem nos veremos", explica o comandante Eran, responsável pelo exército israelense na obra de Metula. Ele também detalha que o muro medirá de 5 a 7 metros de altura e terá cerca de 1 quilômetro de comprimento.

No último verão, um incidente de fronteira esteve prestes a incendiar esta região. Cinco pessoas morreram depois que a poda de uma árvore junto da fronteira provocou um tiroteio entre os exércitos israelense e libanês. A ideia, dizem agora os militares israelenses, é evitar que se repitam incidentes desse tipo. O novo muro não cobre entretanto todo o limite, tenta separar os núcleos urbanos de um lado e outro da fronteira, e por isso não resolve situações como a do último verão.

O caso de Metula é apenas uma peça de um quebra-cabeça muito mais amplo, de uma extensa trama de barreiras. O Muro com maiúscula é evidentemente o que rodeia os territórios palestinos e confisca 12% do território da Cisjordânia. Essa serpente de concreto, cuja construção começou em 2002 e cujo traçado foi declarado ilegal pelo Tribunal de Justiça de Haia dois anos depois, é uma obra faraônica, da qual ainda falta construir cerca de um terço.

Israel levantou esse muro em um momento em que os homens e mulheres-bombas palestinos explodiam ônibus e mercados, no que ficou conhecido como a segunda Intifada. Sucessivos governos israelenses afirmam que o muro --eles preferem chamá-lo de cerca, já que em alguns trechos é de concreto e em outros de arame-- foi chave na diminuição dos ataques palestinos, praticamente inexistentes hoje.

Os políticos palestinos, entretanto, afirmam que o fim dos atentados obedece a uma decisão política das autoridades da Cisjordânia de manter as facções armadas sob controle e dar uma oportunidade à resistência não violenta e à diplomacia. Os palestinos comuns acrescentam que o muro e sua rede de pontos de controle correspondente dificultam o livre movimento das pessoas, mas também que quem quer cruzar encontra uma maneira de fazê-lo. Prova disso são as hordas de trabalhadores sem documentos que todas as semanas saltam apavorados o muro para voltar a saltá-lo uma semana depois, já com as diárias ganhas.

O muro da Cisjordânia é o mais conhecido, mas não o único. Também há a barreira de dezenas de quilômetros que cerca a Faixa de Gaza, onde qualquer um que se atreva a aproximar-se pelo lado palestino corre o sério risco de receber um tiro. Com essa barreira Israel quer impedir a entrada e saída de supostos terroristas da Faixa, governada com punho de ferro pelo movimento islâmico Hamas. Mas, para o tipo de ataques realizados pelos grupos armados de Gaza --lançamento de foguetes artesanais--, os muros e barreiras não representam obstáculo.

O que separa Israel do Egito é uma nova obra batizada de "relógio de areia", que medirá cerca de 240 quilômetros e cuja conclusão está prevista para o final do ano. Vai separar o deserto do Sinai do de Neguev. Haverá trechos que serão uma parede de aço e outros que serão uma cerca eletrificada. A ideia é impedir a entrada de africanos sem papéis que encontraram na fronteira sul de Israel a porta para uma economia do Primeiro Mundo.

A barreira também pretende impedir a entrada de supostos terroristas procedentes do Sinai egípcio, uma zona em que reina o caos e na qual a autoridade de um governo egípcio em transição não se faz sentir. A construção avança em marcha forçada.

Na semana passada o exército percebeu, entretanto, que a nova barreira é mais permeável do que pensava e de que cercar o deserto é quase como pôr diques no mar. Um grupo de supostos criminosos armados com serras elétricas cortou a cerca e o arame farpado e entrou em Israel através do Egito. Apesar de os infiltrados serem supostos criminosos de baixa periculosidade, o exército insistiu que o perigo era que o vazadouro poderia ser utilizado no futuro por verdadeiros terroristas.

Para completar o cerco nacional, Isabel pretende construir um muro na fronteira com a Jordânia, outro país árabe, junto com o Egito, com o qual Israel tem assinado um acordo de paz. A ideia é novamente impedir a entrada de trabalhadores sem documentos, segundo anunciou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, há alguns meses.

"De forma muito irracional, Israel está fazendo o possível na última década para não ser aceito no Oriente Médio e para depois se queixar de todos os perigos e riscos e cercar-se de muros. Eu não tenho nada contra os muros, mas Israel deveria se abrir para a região", afirmou há pouco Gideon Levy, colunista do jornal israelense "Haaretz" na rede Al-Jazira.

Yigal Palmor, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, afirma que a proliferação de barreiras "não é um projeto político, mas obedece a circunstâncias concretas", e dá como exemplo a transição política no Egito e o caos que reina no Sinai.

Yosi Alpher, analista israelense e coeditor da página de informação regional Bitterlemons, também pensa que as infraestruturas correspondem a ameaças concretas, mas explica que, no caso do muro da Cisjordânia, há um motivo político. "A agenda oculta de Israel é apropriar-se de terrenos palestinos e marcar as fronteiras do novo Estado." No caso egípcio, considera que a instabilidade do país após a Primavera Árabe foi o catalisador.

Alpher lembra que "outros países, inclusive a Espanha, têm cercas para proteger-se da entrada de imigrantes". É verdade que os muros não caíram em muitas partes do mundo. O caso israelense, porém, é diferente, porque se encontra murado quase em sua totalidade e cada vez mais isolado na região. "Sim, é verdade que, se olharmos o mapa, estamos cercados", diz Alpher.

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