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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Washington quer antecipar o pós-Assad na Síria


Imagem de Bashar al-Assad é queimada durante confronto entre insurgentes e forças leais ao regime do ditador sírio, em Aleppo, nesta segunda-feira (23)

Bashar al-Assad cometeria um “erro trágico” se usasse suas armas químicas e teria de “prestar contas”, declarou o presidente americano Barack Obama, na última segunda-feira (23). Foi sua reação ao anúncio de um porta-voz sírio, segundo o qual o regime recorreria a isso caso fosse alvo de uma “agressão do exterior”.

Longe de tranquilizar, essas declarações, que confirmam pela primeira vez a existência de tal arsenal, foram vistas como o anúncio de uma escalada do perigo. “Mesmo que Assad esteja blefando, a administração americana não pode ignorar a ameaça”, diz Bruce Riedel, 30 anos de CIA e ex-conselheiro de quatro presidentes americanos, hoje analista do grupo de reflexão de Washington, a Brookings Institution.

Mas a administração Obama continua dividida quanto à interpretação dos sinais recebidos.

De um lado, surge a impressão de que o regime está vacilando, uma vez que os insurgentes estão conseguindo chegar até Damasco. Está “claro que Assad vem perdendo o controle”, disse no domingo um oficial do departamento de Estado. Ganha força a ideia de que um colapso repentino da ditadura, à maneira tunisiana ou egípcia, pode ser considerado. Mas outros acreditam que, dentro do regime, certos elementos, sobretudo entre a minoria alauíta, não cederão em nada caso se sintam acuados.

Logo, Washington precisa se preparar para “uma guerra longa e ainda mais feroz”, observa Robert Malley, diretor do programa para o Oriente Médio do International Crisis Group (ICG) e ex-conselheiro do presidente Bill Clinton. Uma opção reforçada por aquilo que Susan Rice, a representante americana na ONU, chamou (no dia 19) de “falência completa” do Conselho de Segurança, após três vetos da Rússia e da China que puseram fim à esperança de uma transição “suave” em Damasco.

Agora, diz Riedel, a diplomacia americana está obcecada pelo temor de ver a Síria mergulhando em um caos, inclusive após a queda do ditador, ainda mais “feio e perigoso” do que aquele que está sendo presenciado.

Ameaças imediatas
Washington teme uma extensão do conflito até dois elos fracos, o Líbano e a Jordânia, que poderá desencadear nesses países um afluxo repentino de um grande número de refugiados. Outra ameaça dramática considerada: as consequências do caso das armas químicas.

Os mais altos dignitários americanos passaram recentemente por Israel: Tom Donilon, conselheiro do presidente para segurança nacional, esteve ali várias vezes; Hillary Clinton esteve lá uma semana atrás; e o secretário da Defesa, Leon Panetta, está sendo esperado no país. Todos pediram ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu que ele se mantenha afastado da Síria. Mas, diz Riedel, “se armas químicas chegarem até o Hezbollah libanês, os israelenses poderão reagir e a situação na região se tornará explosiva.”

Temores do longo prazo
Uma implantação síria da Al-Qaeda, no modelo iemenita atual, é considerada ainda pouco ativa por Washington; mas uma deterioração da situação só poderia beneficiá-la.

Em compensação, os riscos de massacres inter-étnicos em massa e de desmembramento da Síria “preocupam enormemente” o departamento de Estado, segundo Robert Malley, para quem “uma possível divisão de fato da Síria faz parte da geografia do conflito”. As tendências centrífugas, ele afirma, vão em duas direções: primeiro, “a cartografia dos massacres registrados pelo ICG revela” uma vontade alauíta de criar uma zona protegida ao longo da faixa costeira.

Segundo, a minoria curda está desenvolvendo uma propensão autonomista “à maneira iraquiana” que bateria de frente com um futuro governo sírio de dominância árabe sunita. Um desmantelamento da Síria que surgiu da divisão colonial do Oriente Médio após a Primeira Guerra Mundial poderia “abrir um capítulo completamente novo para toda a região”, ele diz acreditar.

Ações in loco
Até o momento, os Estados Unidos forneceram um apoio logístico às forças insurgentes (como as imagens de satélite dos deslocamentos das tropas). Eles pediram ao Iraque para proibir que aviões iranianos suspeitos de trazer armas a Damasco sobrevoem seu território e ao Egito para que feche o Canal de Suez aos navios iranianos que estejam transportando combustível. Isso, sem grande sucesso, reconhecem.

Para os fornecimentos de armas aos insurgentes, Washington depende de seus intermediários regionais, a Turquia e o Qatar, em primeiro lugar. Recusando qualquer engajamento na “linha de frente”, eles vão “agora pisar no acelerador”, declarou no sábado ao jornal “The New York Times” um alto diplomata.

Ação diplomática
Assim que a diplomacia americana passou de uma estratégia de acordo internacional para a de um “regime change” [troca de regime] na Síria, ela vem se debruçando sobre um “plano de estabilização para o Dia D”, diz Salman Shaikh, um ex-diplomata qatariano membro do Saban Center for Middle-East Policy em Doha.

Só que agora os Estados Unidos estão desconfiados dos opositores do exílio, como os do Conselho Nacional Sírio, vistos como distantes das realidades locais. Washington insiste na organização de uma “oposição pluralista” que dê lugar aos combatentes internos.

O departamento de Estado está tentando realizar no final do mês uma reunião geral dos opositores, talvez na Bulgária, onde seriam discutidas as questões do pós-Assad: a preservação da unidade territorial do país, a proteção das minorias, o caso específico dos curdos.

Mas sua realização ainda não está certa. Temendo que essa perspectiva se revele pouco realista ou tardia demais, diplomatas americanos estão dando preferência à criação de uma futura força de “estabilização” capaz de intervir, uma vez derrubada a ditadura. E sob tutela de quem? Para Washington, o ideal seria uma força sob liderança turca que recebesse um apoio aberto da Liga Árabe. “É difícil fazer com que ela admita, mas não impossível”, acredita um diplomata.

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