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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

EUA assumem postura rígida em relação à China

O presidente dos EUA, Barack Obama, cumprimenta o presidente chinês Hu Jintao durante um jantar na Casa Branca, Washington, EUA

A paciência de Barack Obama com a China vem se esgotando há meses. E em novembro de 2010, o presidente norte-americano se demostrou farto. Num encontro com o presidente chinês, Hu Jintao, em Seul, na Coreia do Sul, Obama alertou que se a China não se esforçasse para coibir o comportamento beligerante da Coreia do Norte, ele teria de tomar medidas para proteger seu país da ameaça de um ataque de míssil nuclear.

Pela primeira vez, em meia dúzia de encontros formais, Obama pareceu conseguir transmitir sua mensagem para o imperturbável e rígido líder chinês. Hu deixou de lado seus pontos e pediu que Obama esclarecesse o que queria dizer, de acordo com duas pessoas que estavam na sala. A resposta do presidente incluiu uma dica clara de que os Estados Unidos teriam que enviar navios de guerra para os mares da China, um passo certamente contrário aos chineses, cada vez mais nacionalistas.

“Obama afastou o véu”, disse Jeffrey A. Bader, conselheiro-chefe do presidente sobre a China na época, que acrescentou que o aviso de Obama levou o presidente chinês a enviar um diplomata sênior para pressionar o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Il.

A troca tensa foi um ponto de virada na complexa relação do presidente com a China, disseram Bader e outros funcionários, uma jornada que começou com a esperança de conciliação mas que caiu na desilusão depois que os chineses começaram a mostrar sua força em questões militares e comerciais de provaram ser um parceiro truculento numa série de termas globais.

Enquanto Obama concorre à reeleição, sua linha mais dura em relação à China está se mostrando em várias frentes. A Casa Branca entrou com dois grandes processos contra a China nos últimos três meses na Organização Mundial do Comércio, ambos movidos por Obama para os trabalhadores do setor automobilístico em Rust Belt. No mesmo dia da última ação comercial, o secretário de Defesa Leon E. Panetta anunciou planos em Tóquio para ajudar o Japão a lançar um novo sistema de defesa antimíssil, o que levantou suspeitas em Pequim.

Com Mitt Romney acusando Obama de não se erguer o suficiente diante dos líderes chineses, a China de repente se tornou um ponto de interesse da campanha presidencial, um que compreende tanto preocupações com a segurança e a economia e que coloca a prova a administração que o presidente fez deste complexo relacionamento.

O alerta direto de Obama em Seul foi um presságio do que pode terminar como a iniciativa de política externa mais consequente de sua presidência: a mudança do foco dos EUA dos campos de batalha no Iraque e Afeganistão para o Anel Pacífico, onde os Estados Unidos fizeram alianças com o Japão e a Coreia do Sul, abriram a porta para Myanmar e enviaram fuzileiros para a Austrália.

Enquanto o novo foco irritou aliados na Europa, a emergência de um contrapeso para uma China em ascensão foi recebida com entusiasmo na Ásia. “Várias vezes ouvi líderes – quer dizer, estou falando dos mais altos líderes – dizerem essencialmente: 'Que bom. Obrigado. Estou muito contente por vocês estarem aqui. Nós estávamos preocupados com os EUA'”, disse numa entrevista a secretária de Estado Hillary Clinton, que desempenhou um papel significativo ao moldar a abordagem do presidente em relação à China.

A virada de Obama na Ásia não era exatamente o que ele tinha em mente quando assumiu o governo. A mudança emergiu de forma irregular, depois de um primeiro ano no qual os críticos, incluindo auxiliares do presidente, concluíram que os Estados Unidos estavam sendo muito suaves em relação à China. Em entrevistas, uma dúzia de funcionários atuais e antigos do governo descreveram uma Casa Branca que teve dificuldades para encontrar o tom certo com os chineses.

De sua decisão de não se encontrar com o Dalai Lama em 2009 até sua primeira viagem bastante restrita à China, o presidente acomodou os líderes chineses na esperança de que a atitude se traduziriam em boa vontade em questões como a mudança climática ou o programa nuclear iraniano. Não foi o que aconteceu. A China desdenhou os Estados Unidos nos parâmetros para a mudança climática, arrastou os pés nos esforços de pressionar o Irã e começou a importunar seus vizinhos com reivindicações territoriais no Mar do Sul da China.

Este último desenvolvimento, em particular, persuadiu o governo de que a época de acomodar os chineses havia chegado ao fim.
“Com certeza acho que testemos o limite de onde se pode chegar com a China através do engajamento positivo”, disse Benjamin J. Rhodes, vice-conselheiro nacional de segurança. “Nós tivemos que fortalecer nossa linha no segundo ano, e foi o que fizemos.”

No centro do debate interno sobre a China estava um presidente que, apesar de ter nascido no Havaí e passado a infância na Indonésia, foi menos enganado pela história e cultura da China do que muitos de seus antecessores foram, disseram auxiliares. Uma vez no governo, eles disseram que Obama passou a ver a China primeiramente sob um prisma econômico. Ele está irritado com a recusa da China de jogar de acordo com as regras no comércio e frustrado com a falta de influência dos EUA para fazer algo a respeito.

Nos encontros, Obama gostava de cutucar dois de seus conselheiros, Bader e Lawrence H. Summers, que ajudaram a negociar a entrada da China na Organização Mundial do Comércio durante o governo de Bill Clinton. “Vocês revelaram muita coisa?”, perguntava, de acordo com um auxiliar sênior, que descreveu isso como uma “piada corrente”.

Em certa medida, o aprendizado de Obama em relação à China foi semelhante à sua abertura inicial em relação ao Irã: uma esperança de que velhos adversários colocassem de lado suas diferenças, seguido por um reconhecimento chocante da realidade e pela adoção final de uma abordagem de realpolitik. A diferença, argumentam oficiais, é que nesse caso a linha mais dura não levou ao impasse mais sim a uma troca construtiva com um país disposto entrar em atrito com os Estados Unidos.

“Apesar de tudo, a China se tornou um ator cada vez mais responsável em relação ao Irã”, disse James B. Steinberg, ex-secretário geral de estado que fez várias viagens a Pequim para expressar preocupações dos EUA. “Apesar de alguma hesitação, eles desempenharam um papel positivo em restringir a Coreia do Norte em tempos de crise.”

A agenda do presidente, entretanto, levanta muitas questões. Com cortes profundos pairando sobre o orçamento militar, críticos questionam se os Estados Unidos têm dinheiro para sustentar suas palavras. O Pentágono, preocupado com o Afeganistão e Iraque, fez pouco para planejar a transferência de tropas ou navios – tão pouco, na verdade, que um comandante da marinha foi chamado pela Casa Branca para seu primeiro encontro depois que Obama já havia anunciado a estratégia.

A mudança dos EUA para leste deixou os chineses profundamente desconfiados em relação aos motivos dos EUA, e alguns analistas na China argumentam que os Estados Unidos estão tentando cercar o país. Com toda a conversa de toma-lá-dá-cá, os chineses rejeitaram Hillary Clinton durante sua visita recente a Pequim quando ela levantou a questão das disputas no Mar do Sul da China.

“Os chineses sentem-se um tanto chicoteados”, disse Michael J. Green, um estrategista de Ásia no governo de George W. Bush que agora está no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais. “A esperança e mudança do primeiro ano, seguida pelo resposta negativa e a pressão do segundo, tudo isso, para os chineses, parece uma incoerência e imprevisibilidade grosseiras.”

Não surpreende muito que Obama olhe para o Oriente. A Ásia do presidente, entretanto, não está na defesa varrida pelo vento da Grande Mulhara da China, mas no clima tropical de Cingapura e Indonésia. Ele se identifica mais com os ritmos lânguidos de Jacarta, dizem auxiliares, do que com a energia barulhenta de Xangai.

Um conselheiro sênior se lembra de um café da manhã numa reunião de cúpula em Toronto em 2010 que Obama tomou com o presidente Susilo Bambang Yudhoyono da Indonésia, que foi tão relaxado e tranquilo que depois o hiperativo chefe de gabinete do presidente, Rahm Emanuel, disse a ele: “Agora eu sei o que é o seu lado asiático”.

Apesar de suas preferências, Obama estava determinado a não antagonizar com a China quando concorreu à presidência em 2008. Diferente de Bill Clinton, que referiu-se aos líderes chineses como os “açougueiros de Pequim” em 1992, Obama disse pouco sobre a China, e sua pouca história em política externa deixava poucas pistas para os chineses o medirem.

“Tentamos apresentá-lo como o primeiro presidente Ásia-Pacífico”, disse Jon M. Huntsman Jr., que serviu como embaixador na China de 2009 a 2011, antes renunciar para concorrer à nomeação republicana à presidência. Huntsman disse que em trocas com funcionários chineses, Obama era altamente eficiente. “Mas os chineses estavam perplexos com o presidente Obama”, disse ele. “De onde ele vinha? O que ele pensava? Ele continuava sendo um pouco indecifrável.”

Com o presidente concentrado em prioridades com o Afeganistão e o Irã nos primeiros dias de seu governo, outros funcionários correram para se posicionar em relação à China. Thomas E. Donilon, que mais tarde se tornou conselheiro de segurança nacional, falou de um “reequilíbrio” para a Ásia a partir do Oriente Médio. Hillary Clinton, ansiosa para reafirmar o papel do Departamento de Estado na China, fez sua primeira viagem para lá.

Antes de aterrissar em Pequim, entretanto, Clinton pareceu deixar de lado o tema dos direitos humanos, dizendo que ela não via sentido em realizar protestos pró-forma com os chineses em troca de respostas previsíveis. (Ela logo mudou de direção.)

Depois, alguns meses mais tarde, Obama recusou-se a encontrar com o Dalai Lama quando este visitou os Estados Unidos. O ponto não era o encontro, mas o momento – em outubro de 2009, um mês antes de Obama fazer sua primeira viagem como presidente a Pequim.

Funcionários envolvidos na decisão agora expressam arrependimento por não terem levado o encontro adiante. “Não consideramos a forma como as pessoas em Washington estabelecem testes”, disse Bader. “Talvez devêssemos ter concordado.”

As coisas não melhoraram na viagem de Obama, que os chineses encenaram, não permitindo nenhuma pergunta depois de uma coletiva conjunta de imprensa com Hu. Funcionários da Casa Branca disseram que a viagem foi mais bem- sucedida do que sugeria a coletiva, mas eles não contestam que a impressão que ficou foi a de uma potência em ascensão – dona de US$ 1 trilhão da dívida norte-americana – empurrando os Estados Unidos encurralado.

Nem todo o primeiro ano de Obama foi conciliatório. Em setembro de 2009, ele impôs uma tarifa sobre a China por fazer dumping de pneus no mercado norte-americano. O governo também manteve a pressão sobre os chineses para revalorizar sua moeda, o renmimbi, embora não tenha chamado a China de manipuladora de moeda. Isso mostrou o que ex-auxiliares descreveram como o lado “Chicago” de Obama, que vê a China como uma ameaça para os empregos norte-americanos.

Um auxiliar se lembra de informar o presidente no início de janeiro de 2011 antes de uma visita de Hu sobre uma série de questões diplomáticas e de direitos humanos. Impacientemente, Obama disse: “a única coisa com a qual as pessoas se preocupam são as questões econômicas”.

Para um presidente com simpatias no sudeste asiático, entretanto, as tensões quanto ao Mar do Sul da China são difíceis de ignorar. Num encontro em maio de 2010, o mais alto funcionário de política externa da China, Daí Bingguo, disse à secretária de Estado norte-americana que Pequim reconhecia vastos trechos do mar, que compartilha com o Vietnã, as Filipinas e outros vizinhos, como território seu. As implicações econômicas são grandes, dados os recursos que estão embaixo da superfície.

“A China estava numa ofensiva de sedução e havia de fato conseguido amenizar os temores de seus vizinhos e mostrar comedimento”, disse Clinton. “E daí acho que os chineses começaram a mostrar sua força.” A Casa Branca decidiu estabelecer um limite. Dois meses mais tarde, Clinton, trabalhando com Bader e Kurt M. Campbell, o secretário assistente para Leste da Ásia no Departamento de Estado, fizeram uma surpresa.

Num encontro de cúpula em Hanói, Vietnã, ela declarou que os Estados Unidos estavam interessados em resolver as disputas pelo mar. A China ficou furiosa, enquanto o Vietnã e as Filipinas sentiram que tinham um poderoso novo apoio. Com a China envolvida na transição de liderança, Pequim agora soa como um partido sitiado. Durante um almoço com Donilon em Pequim recentemente, o ministro de relações exteriores da China, Yang Jiechi, reclamou de ser pressionado por conta do Mar do Sul da China.

“Países grandes podem ser importunados por países pequenos”, disse Yang, de acordo com um auxiliar sênior que estava na sala.
Mas a China mostra poucos sinais de voltar atrás. Ela entrou com um processos na Organização Mundial do Comércio contra os Estados Unidos no mesmo dia da última ação de Obama. E quando Panetta se encontrou com o presumível próximo líder da China, Xi Jinping, ouviu bastante sobre uma disputa territorial envolvendo ilhas minúsculas disputadas pelo Japão e pela China.

Olhando para trás, alguns ex-funcionários argumentam que não foi Obama que mudou, mas os chineses. “As pessoas dizem que nós fomos assaltados pela realidade”, disse Bader. “Não, os chineses se comportaram diferente em 2010, e o que fizemos foi refletir seu comportamento.”

Um comentário:

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    os chineses deixaram de ser ..."um dragão de papel"...
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    XTREME

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