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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Presidente sul-africano é criticado por ter vida luxuosa; US$ 27 milhões foram investidos na casa dele

Jacob Zuma, presidente da África do Sul

Em um par de colinas deste canto ondulado e verdejante da Zululândia, há dois conjuntos habitacionais de formas quadradas, de propriedade de patriarcas septuagenários, onde moram famílias tradicionais. Num deles se espalham organizadamente as casas de uma família de classe média, os Sithole: oito estruturas um tanto irregulares construídas a mão, uma horta e um cercado para vacas, cabras e galinhas, fruto de quatro décadas de trabalho duro e vida frugal.

Do outro lado do vale, uma propriedade de uma magnitude totalmente diferente cresceu rapidamente. Ela inclui dezenas de casas bem acabadas, construídas por empreiteiros, um heliporto, uma quadra de tênis e um campo de futebol. Um ginásio de esportes e alguns bunkers subterrâneos estão sendo construídos, de acordo com reportagens da imprensa. Estradas perfeitas, recém-pavimentadas, levam até lá, e os muros marrom-acinzentados de suas casas redondas de palha com acabamento perfeito são impecáveis apesar do cenário bucólico.
Este conjunto pertence ao homem mais poderoso do país, o presidente Jacob Zuma, e é agora objeto de várias investigações sobre como US$ 27 milhões de dinheiro do governo foram gastos em melhorias em sua residência particular, ostensivamente para segurança. Mais dezenas de milhões de dólares foram gastos nas estradas em torno do complexo e da aldeia.

"Ele não construiu nada para nós", disse a matriarca do conjunto Sithole, Phindile Sithole, lançando um olhar para a propriedade de Zuma que se espalha pelo vale. “Ele só construiu para si mesmo.”

O escândalo sobre as melhorias para a residência privada de Zuma não poderia ter vindo em pior hora para o presidente. A África do Sul enfrenta talvez sua mais grave crise desde o fim do  apartheid, uma vez que greves perturbam o setor de mineração de ouro e platina. Na terça-feira (23), a Gold Fields, uma das maiores produtoras mundiais de ouro, demitiu 8.500 trabalhadores que se recusaram a parar a greve.

Os mineiros vêm exigindo aumentos salariais consideráveis, e a agitação é emblemático do fosso que existe entre os cidadãos mais ricos e mais pobres da África do Sul, uma lacuna que só aumentou desde o fim do apartheid. Com razão ou não, instalou-se uma percepção profunda de que os líderes da luta contra o apartheid, que agora estão no comando do CNA (Congresso Nacional Africano), estão trabalhando em benefício próprio, enriquecendo a si mesmos e deixando os pobres para trás.

De fato, o CNA está comemorando o seu centenário este ano, mas para muitos sul-africanos, o slogan comemorativo da venerável organização – “100 Anos de Luta Altruísta” – parece mais uma piada cruel. No Facebook e no Twitter, circularam fotos de um carro esporte caro estampado com o slogan. Zuma também está se defendendo de desafios à sua liderança dentro do seu próprio partido à medida que potenciais rivais competem para a descarrilhar seus planos para um segundo mandato.

Zuma, que completou 70 anos este ano, veio de uma família pobre e rural zulu. Ele abandonou a escola ainda jovem e dedicou sua vida à luta contra o apartheid. Ele entrou para o Umkhonto we Sizwe, ou a Lança da Nação, braço armado do CNA, e ficou uma década na prisão em Robben Island ao lado de figuras leais à luta como Nelson Mandela e Walter Sisulu. Mas, como muitos líderes do CNA desde o fim do apartheid, ele passou a viver uma vida opulenta, apesar de nunca ter tido um trabalho altamente lucrativo.

Zuma disse que familiares pagaram a maior parte da construção de seu conjunto habitacional. Mas as dúvidas sobre suas finanças pessoais pairam há anos; uma série de acusações de corrupção contra ele foram retiradas em 2009 em meio a alegações de má conduta da promotoria.

Falando para um grupo empresarial, Zuma disse que a sua família, e não o governo, havia construído sua propriedade, e que ele não tinha ideia de que tipo de reformas de segurança estavam sendo feitas ou de quanto custavam.

“Acho que os ministros deram as respostas e se as pessoas querem ir atrás disso, elas irão”, disse Zuma, segundo a Associação de Imprensa Sul-Africana. “Eu não gostaria de comentar ou julgar, porque essas questões são tratadas pelos ministros e pelo auditor geral. Eles sabem como os orçamentos são feitos, eu não posso me tornar um especialista nisso.”

O Departamento de Obras Públicas, que está fazendo as reformas, divulgou um comunicado dizendo que o trabalho era estritamente relacionado à segurança de Zuma enquanto chefe de estado e que o governo tinha “tomado um cuidado especial para alocar despesas para entidades públicas e privadas, conforme é apropriado.” A agência não divulgou a quantia em dólares, mas agências de notícias locais citaram documentos do governo que mostram que as reformas custam US$ 27 milhões, um valor que o governo não contestou publicamente.

Palácios grandiosos já foram comuns entre os líderes africanos, um hábito que herdaram dos reis colonizadores da Europa. Mobutu Sese-Seko teve mansões opulentas espalhados pelo Zaire, como o Congo era então conhecido, teria insistido que as pistas construídas ao lado de cada uma fossem longas o bastante para acomodar o Concorde, caso ele quisesse fretar o jato supersônico para um rápido viagem de compras em Paris ou Bruxelas.

Félix Houphouët-Boigny, cujo punho de ferro com luvas de pelica governou a Costa do Marfim a partir de sua independência até sua morte, três décadas depois, construiu uma basílica maior do que a de São Pedro, em Roma, em meio a uma densa selva de sua cidade natal, como tributo à sua mãe religiosa.

Mas a África do Sul, que descartou o regime branco há menos de duas décadas, deveria ser diferente, e na maior parte tem sido. De fato, seus presidentes desfrutaram das mordomias do poder, mas dentro de alguns limites.

Nelson Mandela, o primeiro presidente do país pós-apartheid, tem os gostos refinados e ocasionalmente opulentos de um nobre, o que ele é, uma vez que faz parte da família real de seu clã Xhosa. Depois de ser libertado da prisão em 1990, ele não voltou para sua casa modesta no município negro de Soweto, em vez disso, preferiu se estabelecer em Houghton, um subúrbio rico e branco de Joanesburgo.

Mas a propriedade em seu vilarejo de Qunu, no Cabo Oriental, onde ele agora passa a maior parte do tempo, é minúscula em comparação com a propriedade de Zuma em Nkandla. O sucessor de Mandela, Thabo Mbeki, tem uma predileção por ternos de Savile Row e uísque bom, mas mora numa casa grande, embora não especialmente opulenta, em Joanesburgo.

Alguns dos vizinhos de Zuma dizem que ele conquistou o direito de viver no luxo, e que estão orgulhosos do sucesso de um filho da terra. Willow Dayena, 27, que abandonou o nono ano na escola e ganha cerca de US$ 200 por mês como motorista, disse que as conquistas de

Zuma o transformaram num modelo para os jovem e iletrados.  “Eu fui mais longe do que ele na escola”, disse, referindo-se à baixa escolaridade de Zuma. “Talvez um dia eu possa ser presidente”.

Ele disse Zuma havia feito grandes melhorias para a vida no local, mas foi vago sobre os detalhes. “Ele trouxe a eletricidade”, disse Dayena. “E banheiros.”   Alguns momentos depois, coçou a cabeça.

“Na verdade, eu não tenho certeza”, disse ele. “Acho que Mbeki que trouxe os banheiros.”

Rússia espera testar submarino com propulsão de hidrogênio antes do final de 2012


A Armada Russa planeja testar até o fim do ano o submarino B-90 Sarov dotado com o primeiro motor experimental russo de hidrogênio, informou ontem uma fonte do Ministério da Defesa da Rússia, a qual foi citada pelo jornal russo Izvestia.

No futuro, os propulsores a hidrogênio poderia ser instalados nos submarinos russos da classe Lada e Amur-1500 do Projeto 667. Atualmente os propulsores desses tipo estão instalados somente nos submarinos alemães da classe U-212 e U-214;

Os submarinos convencionais (diesel-elétricos) tradicionais utilizam baterias para alimentar os motores. Quando as baterias se esgotam, estes submarinos tem que subir à superfície para recarrega-las, o que os torna vulneráveis.

No caso de submarinos propulsados por hidrogênio, seus motores elétricos são alimentados por pilas de hidrogênio. Como resultado, isso aumenta a autonomia de navegação e se reduz a acústica do submarino, dentre outras vantagens.

No momento, a Marinha Russa dispõe apenas de um submarino do Projeto 667, o São Petersburgo, o qual passa por testes.

No que se refere ao submarino B-90 Sarov, trata-se de um modelo experimental e único submarino do Projeto 20120. Ele foi construído em 2008, desloca 4 toneladas e rotineiramente é usado em testes de novos tipos de armas.



Boeing ganha licitação indiana para o fornecimento de helicóptero de transporte militar pesados


Acima um CH-47F Chinook do Exército Americano 
A empresa americana Boeing ganhou da empresa russa Mil a concorrência para o fornecimento de helicópteros de transporte pesados para a Força Aérea Índia, escreveu no último dia 29 de outubro o jornal indiano “Times of India”.

Segundo o jornal, que cita fontes do Ministério da Defesa da Índia, a Força Aérea Indiana escolheu o Boeing CH-47F Chinook frente ao Mi-26T2 por questões econômicas. O  helicóptero americanos seria mais barato, diz o jornal.

Entretanto, uma fonte do complexo militar industrial da Rússia, disse à Ria Novosti que a Rússia ainda não recebeu nenhuma notificação oficial da Força Aérea Indiana.

Rússia construirá os primeiros helicópteros Ka-52K para os 'Mistral' em 2013

Ka-52 alça vôo do porta-helicópteros francês L9013 Mistral durante exercício naval franco-russo no ano passado

A Rússia construirá em 2013 os primeiros helicópteros embarcados Ka-52K para seus porta-helicópteros da classe Mistral, declarou no último dia 29 de outubro o chefe de desenho da empresa aeronáutica Kamov, Sergei Mikheev.

“Os primeiros Ka-52K aparecerão em 2013. Quando for entregue o  primeiro Mistral, em 2014, nossa empresa poderá montar a quantidade de helicópteros necessários”, disse Mikheev.

Mikheev disse que um Mistral pode abrigar até 16 helicópteros.

Os primeiros navios da classe Mistral, que estão sendo construídos na França para a Rússia serão entregues à Frota Russa do Pacifico entre 2014 e 2015.


O Ka-52 está armado com um canhão automático de 30mm Shipunov 2A42, mísseis guiados a laser Vikhr (Tufão), vários tipos de foguetes, incluindo os S-24.

O Ka-52 é uma modificação do Ka-50 Hokum. O desenvolvimento do Ka-52 começou em 1994 na Rússia, mas a sua produção em série só veio em 2008.

O helicóptero é equipado com dois radares: Um para varrer o solo e outro para varrer os céus. Além disso, o helicóptero conta com um moderno sistema de mira térmica, que permite engajar alvos tanto de dia, como de noite.

A Rússia negocia junto com a França a compra de pelo menos um porta-helicópteros da classe Mistral e planeja construir outros três na Rússia com a ajuda do estaleiro francês DCNS.

O Mistral é capaz de transportar 16 helicópteros, 4 hovercraft, mais de 70 veículos blindados, incluindo 13 tanques de batalha e 450 pessoas.

Muitos militares russos e analistas da indústria questionam o sentido financeiro e militar da comprar. Alguns crêem que a Rússia simplesmente deseja ter acesso à tecnologia avançada ocidental, de um país membro da OTAN. Segundo esses, a Rússia poderia tirar vantagem dessa tecnologia em um futuro conflito com a OTAN e seus aliados.

Em abriu, o chefe do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar, Mikhail Dmitriev, disse que o acordo seria assinado antes do final do ano.

Estaleiro russo lança navio de busca e resgate Igor Belousov


Os Estaleiros do Almirantado (Admiralty Verf), de São Petersburgo, lançaram ontem o navio de salvamento “Igor Belousov”, navio esse que é construído para o Ministério da Defesa da Federação Russa.

“O navio integrara o sistema de busca e salvamento da Armada Russa. Ele será equipado com todo o que é necessário para resgatar tripulações de submarinos”, disse o comandante de Armada Russa, o almirante Viktor Viktorovich Chirkov, durante a cerimônia de batimento de quilha do navio.

Chirkov disse que o navio será incorporado à Armada Russa em 2014 e que a primeira etapa de testes será realizada nas Frotas do Báltico de do Norte da Armada Russa, bem como águas profundas do Atlântico.

“No futuro, todas as Frotas Russas deverão dispor de navios de busca e salvamento desta classe”, disse Chirkov.

O navio Igor Belousov foi posto em quilha em dezembro de 2005. Ele pode auxiliar e resgatar submarinos avariados que estiverem no fundo do mar ou que estiverem com flutuando com problemas. Ele pode fornecer oxigênio, energia elétrica e meios de resgate.

O navio mede 97 de metros, desloca mais de 5 toneladas e pode desenvolver uma velocidade de 15 nós.

[Documentário] A fuga de Hitler

Desde 1945, existem muitas teorias sobre uma possível fuga de Adolf Hitler para a Argentina em um submarino, onde muitos líderes nazistas buscaram refúgio. Centenas de depoimentos atestam a sua presença em diferentes partes do planeta. Mas como o homem mais procurado do mundo conseguiu fugir da Alemanha e se refugiar na Patagônia? Em uma investigação sem precedentes, vamos seguir os passos da fuga de Hitler para o país sul-americano, visitaremos a base de submarinos de onde supostamente partiu o ditador, e vamos para a Argentina, onde segundo a maioria das testemunhas, ele viveu de forma oculta até seus últimos dias.

Primeiro-ministro chinês contesta denúncia sobre riqueza familiar

Wen Jiabao

Dois advogados que disseram representar a família do primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, emitiram uma declaração contestando aspectos de um artigo do "The New York Times" sobre a riqueza da família, um caso raro de uma poderosa família política chinesa respondendo diretamente a um artigo na imprensa estrangeira.

A declaração, publicada no "The South China Morning Post" no domingo, disse: "As chamadas 'riquezas escondidas' dos membros da família de Wen Jiabao na reportagem do 'The New York Times' não existem".

Após criticar vários pontos no artigo, a declaração insinuou a possibilidade de processar o jornal. "Nós continuaremos fornecendo esclarecimentos sobre as reportagens falsas do 'The New York Times', e nos reservamos o direito de fazê-lo responder legalmente", disse a declaração.

A declaração publicada no "The Post", um jornal de Hong Kong, não foi obtida diretamente pelo "The Times".

A declaração não foi uma ampla negação do artigo. A declaração reconheceu claramente que alguns parentes são ativos no mundo dos negócios e que são "responsáveis por seus próprios negócios".

Apesar de a declaração contestar que a mãe de Wen possui bens, ela não falou sobre o cálculo no artigo de que a família controla ativos no valor de pelo menos US$ 2,7 bilhões (Aproximadamente R$ 5,4 bi). Eileen Murphy, uma porta-voz do "The Times", expressou confiança no artigo.

"Nós defendemos nossa história, da qual estamos incrivelmente orgulhosos e é um exemplo do jornalismo investigativo de qualidade pelo qual o 'Times' é conhecido", ela escreveu em um e-mail.

A declaração representa uma medida incomum para a família de um alto líder chinês. Quando a "Bloomberg News" publicou um artigo no final de junho, descrevendo os imóveis e outros ativos de propriedade da família do vice-presidente Xi Jinping, sua família não emitiu uma declaração pública.

A declaração publicada no "The Post" foi atribuída a Bai Tao, um sócio do escritório de advocacia Jun He, e Wang Weidong, um sócio da filial em Pequim do escritório de advocacia Grandall.

Ninguém respondeu aos telefonemas aos escritórios de ambos os advogados no domingo, nem Wang respondeu imediatamente a um e-mail.

A declaração negou um caso citado no artigo do "Times", descrevendo como um investimento em nome da mãe de Wen, Yang Zhiyun, rendeu US$ 120 milhões (aproximadamente R$ 243 mi) há cinco anos. "A mãe de Wen Jiabao, exceto pelo salário/pensão que recebe de acordo com a lei, nunca teve renda ou ativos", disse a declaração.

O artigo do "Times" citou "registros corporativos e regulatórios" como fonte da reportagem sobre Yang e disse que o número da identidade dela aparece em documentos mostrando participação em uma seguradora.

O registro de empresas analisado pelo "Times" mostrou que, em 2007, a mãe de 90 anos do primeiro-ministro tinha US$ 120 milhões em ações da Png An por meio de veículos de investimento. Sua assinatura e sua carteira de identidade emitida pelo governo estavam incluídas no documento, que foi obtido por meio de requerimentos de regulação do governo.

A declaração também disse que alguns membros da família de Wen não estavam envolvidos no mundo dos negócios, enquanto outros "realizavam atividades de negócios, mas não realizaram nenhuma atividade ilegal. Eles não são acionistas de empresas". A declaração também disse que Wen não esteve envolvido nessas atividades. "Wen Jiabao nunca exerceu qualquer papel nos negócios de seus parentes, muito menos permitiu que as atividades de negócios de seus parentes tivessem qualquer influência em sua formulação e execução de políticas".

O artigo do "Times" nunca alegou qualquer atividade ilegal, e apontou que Wen aparentemente não tinha acumulado ativos. O artigo também disse que não há evidência de que Wen interveio pessoalmente para ajudar os investimentos de parentes.

O artigo apontou que como primeiro-ministro de um país onde o Estado exerce um grande papel na economia, Wen supervisionou muitos funcionários do governo cujas decisões poderiam ter tido um grande papel na sorte de empresas e investidores.

Hong Lei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, criticou o artigo durante um briefing, dizendo que ele "mancha a China e tem segundas intenções".

O "Times" postou o artigo em inglês na última sexta-feira (26), e em chinês três horas depois, após a tradução das edições finais em inglês. O governo chinês bloqueou rapidamente o acesso aos sites em chinês e em inglês do "The New York Times" pelos computadores no país, antes do artigo ser postado em chinês.

Mas, mesmo assim, muitas pessoas na China parecer ter usado redes virtuais privadas para ler o artigo.

Suspeita de enriquecimento de primeiro-ministro chinês fragiliza imagem de Partido Comunista

Wen Jiabao

Para a maioria dos chineses, ele é simplesmente "Wen yeye", ou "vovô Wen". Em dez anos de mandato, o primeiro-ministro e número três do PCC (Partido Comunista Chinês), Wen Jiabao, ganhou esse apelido carinhoso por mostrar sua preocupação com os mais pobres.

A imagem foi polida pela propaganda de um regime comunista nos discursos, ainda que na prática os herdeiros de Mao tenham adotado o capitalismo há mais de trinta anos e produzido uma economia híbrida, onde as empresas públicas têm um papel de primeiro plano.

Não há um Ano Novo chinês em que o afável Wen Jiabao, vestido com uma jaqueta simples, não coma pastéis com os operários imigrantes, cuja força de trabalho explica em grande parte o sucesso do milagre chinês.

Não há um local de desastre natural aonde ele não tenha ido para demonstrar compaixão pelas vítimas. Como durante o terremoto de Sichuan, em 2008, onde ele conduziu as operações de resgate e... aumentou sua popularidade.

Wen também se distinguiu por seus discursos anticorrupção. Em 2007, ele havia pedido aos altos dirigentes que "se certificassem de que os membros de suas famílias, seus amigos e seus subordinados próximos não abusassem da influência governamental".

Uma missão difícil: uma reportagem detalhada do "New York Times" sobre a fortuna acumulada por seus parentes - a bagatela de US$ 2,7 bilhões (aproximadamente R$ 5,4 bi)- , entre eles sua mulher, Zhang Beili, apelidada de "a rainha dos diamantes" em razão de seu controle sobre esse comércio, dá um golpe nessa bela imagem.

Publicada no final da semana passado, a reportagem confirma aquilo que muitos suspeitavam: a família aproveitou a posição de "vovô Wen" para fazer negócios. Embora dois advogados da família Wen tenham tentado um contra-ataque, no domingo (28), o efeito político a menos de quinze dias do 18º congresso do PCC é devastador. Este verá o início da mudança de direção e, sobretudo, a saída do presidente Hu Jintao e de Wen Jiabao até março de 2013.

Muitos filhos da "nobreza vermelha" chinesa entraram na esfera econômica, levados pelos "trinta anos gloriosos" que a economia do país acaba de viver. Esse nepotismo fragiliza um pouco mais um PCC que deverá enfrentar protestos crescentes e reduzir as desigualdades cada vez mais profundas na sociedade chinesa.

As lutas de poder reveladas pelo caso Bo Xilai - um dos mais populares dirigentes chineses, que acaba de ser excluído das esferas dirigentes e está aguardando seu julgamento - também são explicadas por batalhas para preservar os interesses das diferentes "famílias dominantes".

Antes de ser vencido por Mao, o dirigente nacionalista Chiang Kai-shek havia resumido bem o dilema que os próximos dirigentes deverão enfrentar: "Se eu luto contra a corrupção, perco o partido, mas se não luto, perco o país".

Por que a China atrai?

Pequim, capital da China

A poluição é sufocante, o trânsito congestionado e os problemas com alimentos variam de brotos de feijão tóxicos ao uso de óleo de sarjeta nos restaurantes. Sem contar que este Estado de partido único tem um histórico ruim de direitos humanos e nenhuma liberdade de imprensa. Então, por qual motivo a China está se transformando rapidamente em um dos locais mais desejáveis para os estrangeiros viverem?

A resposta é dinheiro. Neste mês, a China ficou em 7º lugar no levantamento anual Expat Explorer Economics de 2012 do HSBC, em comparação ao 19º lugar no ano passado. O levantamento mede a renda disponível, qualidade de vida e os desafios de criar filhos no exterior (para os quais não há dados disponíveis para a China), entre outras coisas, conversando com estrangeiros de quatro continentes. Quase metade dos estrangeiros entrevistados tinha a expectativa de que ganharia mais na China. Eles não ficaram desapontados. Para 64%, houve uma melhoria acentuada no status financeiro do seu lar após chegarem ao país.  

As pessoas atentas à pesquisa podem ser executivos bem remunerados. Mas também há jovens se mudando para a China, levados pelo desemprego em casa e atraídos pelas oportunidades de trabalho e viagem na Ásia, somadas aos custos de vida mais baixos. Eu faço parte desse grupo.

Em 2009, eu me formei no principal curso de pós-graduação em jornalismo do Reino Unido e me deparei com uma recessão. Era difícil encontrar emprego, algo agravado pela turbulência no setor de mídia. Naquele ano, me ofereceram um estágio na revista “Time Out” em Pequim, que eu aceitei. A decisão foi simples: a China parecia o futuro. A Europa, apesar de toda sua beleza, história e cultura, está emperrada. O desemprego era, e continua sendo, desesperador. Foi a decisão certa; meu estágio logo se transformou em um emprego em tempo integral.

Eu não sou a única. Pelo menos quatro amigos do mesmo programa de jornalismo acabaram trabalhando na China em algum momento nos últimos três anos –ajudados, é claro, por um país que continuamente produz algumas das melhores histórias.

Meus amigos europeus trabalham em arquitetura, organizações sem fins lucrativos, moda, finanças e cinema. De forma bizarra, apesar de toda sua censura, a China é um ambiente no qual tipos criativos, de arte a design, parecem prosperar. Acima de tudo, a China oferece não apenas trabalho, mas uma chance de saltar alguns degraus na carreira.

Veja o exemplo do meu colega de quarto espanhol (que não quis que eu usasse seu nome). Ele veio de Barcelona para Pequim em outubro do ano passado, após ser demitido de seu emprego de pesquisa de mercado depois de seis anos. Aos 34 anos, ele decidiu recomeçar em um país de 1,3 bilhão de habitantes, onde ele só conhecia uma pessoa.

Após um ano de bicos enquanto ele vivia de suas economias, meu amigo agora tem um emprego em Xangai em uma empresa estrangeira. Ele se sente afortunado: ele não apenas encontrou trabalho, mas também responsabilidades que nunca lhe dariam em casa. Ele está muito melhor do que estaria se tivesse permanecido na Espanha, onde os jovens foram reduzidos a revirar as latas de lixo à procura de comida.

É claro, os mais de 1 milhão de estrangeiros que vivem na China são muito mais diversos do que executivos bem remunerados e europeus excessivamente qualificados fugindo da recessão. Comerciantes da África estão chegando à cidade de Cantão, no sul, em grande número; muitos russos trabalham no nordeste do país; sul-coreanos correspondem a uma grande parcela da população estrangeira em Pequim. Os estrangeiros que entram na China aumentaram em 10% ao ano desde 2000, segundo o vice-ministro da segurança pública.

A vida para os estrangeiros europeus assistindo de longe o colapso da economia de seus países de origem é agridoce. Miguel Espigado, um professor de língua e literatura espanhola na Universidade de Pequim, chegou à China em 2008, à procura de “aventura, dinheiro, uma experiência cultural e exótica”. Quatro anos depois, ele sente que não pode voltar para casa na Espanha, pois haveria pouco o que fazer lá.

Para mim, viver na China vale a pena pela energia, otimismo e espírito empreendedor que vem com o crescimento da economia. Isso também se espalha para a vida fora do trabalho. Apesar de suas rebarbas, Pequim está a caminho de se transformar em uma cidade internacional.

Aqui é possível comer em restaurantes franceses elegantes ou experimentar a culinária local, como os sabores florais delicados de Yunnan, no sul, por apenas US$ 8 por pessoa. Os brasileiros que conheço balançam a cabeça espantados com a baixa criminalidade. Os táxis, apesar de cada vez mais difíceis de encontrar, continuam baratos, e viajar pelo país –para o vasto e fascinante interior da China– é sempre um prazer.

Hoje, a poluição atingiu o nível de “perigoso”. Um manto de fumaça cinza cobre a cidade; eu mal consigo ver o outro lado da rua. Para alguns veteranos na China, os riscos à saúde somados ao poder sempre presente do Partido Comunista no dia a dia é suficiente para fazê-los voltar para casa. Quanto a mim, eu vou ficar onde os empregos estão.

O contágio da crise na Síria

Carro-bomba explode em Beirute, capital do Líbano 

Em 16 de fevereiro de 2005, dezenas de milhares de pessoas acompanhavam o cortejo fúnebre do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri para ser enterrado em uma enorme mesquita no centro de Beirute. Entre os presentes reinava a unanimidade: o presidente sírio, Bashar Assad, era o responsável pelo magnicídio. Foram muito frequentes no Líbano os assassinatos de líderes sectários, ministros e inclusive presidentes eleitos (Bachir Gemayel, 1982), e a maioria nunca foi esclarecida judicialmente. Como dificilmente se resolverá o de Wissam al Hassan, principal responsável pelas investigações que envolveram o regime de Damasco e seu aliado Hizbollah no assassinato de Hariri. Não é muito relevante. Mediem ou não os tribunais, as seitas que se decantam pelo bloco ocidental - os sunitas tendo à frente Saad Hariri, filho do magnata; os drusos e parte dos cristãos - já ditaram a sentença: a Síria é a responsável.

Ninguém duvida de que Damasco continua exercendo grande influência no Líbano. E ninguém estranharia que seus serviços de inteligência - ou seus partidos-milícias satélites no Líbano - teriam colocado o explosivo que no dia 19  matou Al Hassan. Os sírios também atribuíram à Arábia Saudita - o grande patrono e protetor da família Hariri e financiador dos rebeldes que lutam contra Assad - o atentado que acabou com a cúpula militar síria neste verão em Damasco. Como acusam Riyad de promover a frente antissíria à qual aderiam com entusiasmo Catar e Turquia, e que completam as capitais ocidentais, que contrabalançam assim o apoio dos russos e o ainda mais decidido dos iranianos a Damasco. Os caciques sectários libaneses nunca precisaram de muitos estímulos para se entregar à violência, mas o Líbano também nunca se livrou de que as potências estrangeiras travem em seu território guerras de transcendência regional.

Comentava em 2005 um bom amigo de Rafik Hariri que a mulher do ex-chefe de governo advertiu o então presidente francês, Jacques Chirac, sobre os efeitos de aprovar uma resolução na ONU para forçar a retirada das tropas sírias do Líbano depois de três décadas de tutela. Nazik Audeh não pensava nas consequências políticas. Temia pela vida de seu marido. O Conselho de Segurança aprovou a resolução 1559, apadrinhada por Paris e Washington, em setembro de 2004 e os soldados de Damasco tiveram que voltar com seu equipamentos em poucos meses. Em 14 de fevereiro de 2005 Hariri entrava na Corniche de Beirute quando uma explosão descomunal matou o dirigente e cerca de 20 membros de sua comitiva. Wissam al Hassan foi enterrado no dia 21 junto à tumba de Hariri.

Não há antídoto a que possam recorrer as diferentes seitas libanesas para se proteger da extensão do conflito que açoita a nação vizinha. Os laços econômicos, políticos, familiares, tribais entre os dois países - a Síria considerou historicamente o Líbano como parte integral de seu território - são profundos demais. O Líbano sofreu erupções terroristas e séries de assassinatos políticos durante as décadas em que o implacável regime manteve a estabilidade na Síria. Agora, com o país mergulhado no caos, o contágio se prevê inescapável. O assassinato do funcionário Hassan é uma tentativa  para estender o conflito ao Líbano? Faz parte desse conflito que todas as potências jogam no Líbano? Talvez as duas coisas.

Militares espanhóis auxiliam soldados afegãos contra grupo extremista


No mercado de Moqur, o mulá do batalhão do Exército afegão tenta tranquilizar os comerciantes, temerosos de que a aparente calma que se respira desapareça quando os soldados espanhóis forem embora, no início de 2013.

“Os talibãs não virão porque nós estamos aqui”, disse o capelão, com uniforme e insígnia de comandante.

“Mas vocês não tem aviões nem helicópteros”, responde o vendedor. “Temos canhões. Vocês não tem com que se preocupar”, insiste o religioso militar.

Em aparência, a patrulha dos soldados espanhóis é um passeio relaxado a pé, que inclui visitas a duas aldeias vizinhas. Mas a operação foi minuciosamente preparada. As peças de artilharia de calibre 122 do exército afegão apontam para a área onde a patrulha está sendo feita, assim como morteiros do contingente espanhol. Um helicóptero médico está em alerta caso tenha que evacuar algum ferido e a patrulha até dispõe, durante uma hora, da cobertura dos aviões de combate da Otan. Um Raven – semelhante a um aparato de aeromodelismo – sobrevoa a área vigiando-a. Não existe lugar para imprevistos. Ou talvez exista.

O comandante Alberto Fajardo descobre horrorizado que a coluna de militares afegãos com a qual os espanhóis devem se encontrar errou o caminho e que não há forma de avisá-los porque as transmissões não funcionam. O tenente coronel encarregado do “kandak” (batalhão) do exército afegão dá uma bronca monumental. “É preciso testar as transmissões um dia antes. Isso não pode voltar a acontecer. Nós jogamos com a vida, um dia vamos levar um tiro. Se o oficial no comando das transmissões é um incompetente, precisamos tirá-lo do posto”, diz Fajardo. Seu interlocutor aguenta o sermão sem perder o sorriso.

Como muitos comandantes do novo exército afegão, o tenente coronel é um profissional militar que combateu contra os muhajedeen durante o regime pró-soviético de Nayibulah. Agora leva um fusil M-16 e viaja numa Humvee norte-ameriana, mas é difícil para ele esquecer as táticas que aprendeu em sua juventude: política de terra queimada e destruição de núcleos rurais para privar os insurgentes de seu meio natural. Justo o contrário do que os militares espanhóis tentam inculcar-lhe agora: aproximar-se da população, ganhar seu coração.

Por isso, se fazem acompanhar por militares afegãos quando vão para as escolas distribuir brinquedos ou quando se reúnem com os líderes de uma aldeia para tomar nota de suas necessidades: água, grãos, cobertas para aguentar o inverno que se antecipa duríssimo. Mas, como disse um refrão local, “os afegãos não se vendem, só se alugam”. A lealdade têm data de vencimento.

Têm razão o comerciante do mercado. Até agora a Otan vem conseguindo conter a pressão dos talebãs graças à superioridade aérea. Quando uma patrulha se vê em apuros, aviões de combate ou helicópteros de ataque vão em seu auxílio e põem os agressores em fuga. Ainda assim não conseguiram derrotar a insurgência, só mantê-la distanciada das cidades e das principais vias de comunicação. O mesmo que os soviéticos antes de se retirar.

Quando uma unidade do Exército afegão se vê atacada, também pede apoio aéreo. Não o faz diretamente, mas sim através dos mentores designados para cada unidade; entre eles os espanhóis. Mas os afegãos carecem de controladores sobre o terreno para guiar os bombardeios até seus alvos (TACP) e a Otan desconfia de seu escasso cuidado com os danos colaterais, assim os aviões raramente disparam. Preferem passar algumas vezes para enganar.

Depois dos IED (artefatos explosivos improvisados, na sigla em inglês), os talibãs infiltrados no Exército são a principal ameaça para as tropas internacionais. Mais de meia centena de baixas até agora este ano. Na terminologia da Otan, eles se denominam “green on blue” (“verde no azul”), cada um que interprete como quiser. Os espanhóis tiveram um deles quando, em agosto de 2010, o motorista do chefe de polícia matou dois guardas civis e um intérprete em Qala-i-Naw.

O capitão Modesto Munhoz é um dos membros do exército afegão em Moqur. Sua tarefa exige que ele trabalhe lado a lado com os militares afegãos. Eles não podem entrar armados nas bases da Otan, embora ele possa fazê-lo nos quarteis afegãos. Além disso, ele sempre leva escolta e se ele suspeita de algum militar afegão, imediatamente o transfere. Mas nada garante que algum de seus subalternos não se revolte contra ele um dia. Sua fórmula: “confiar na intuição, estabelecer vínculos pessoais com eles, mostrar-se respeitoso em relação aos costumes e não ficar muito obcecado.”

Se a Otan chegou ao Afeganistão com o propósito de instaurar um regime aceitável pelos ocidentais, faz tempo que renunciou a isso. Em Moqur, as viúvas e órfãos do acicente deo Yak-42 (em que morreram 62 militares espanhóis) financiaram a construção de um colégio, que abriu suas portas em 2006 para meninos e meninas. Hoje só é frequentado por rapazes. O subtenente Ángel Ortega não reconhece que seja uma concessão aos talebãs. “É preferível que a escola continue aberta e, por fim, talvez as meninas voltem a estudar”. Se a transição para a Otan está perto do fim, para os afegãos está apenas começando.

O lugar da Catalunha na Espanha

Em protestos em favor da independência da Catalunha eis que surge uma faixa com o seguinte dizer em catalão: "Catalunha, novo estado da Europa"

Depois de ter-se empoleirado na onda independentista que se tornou visível na Diada, a CiU e seu candidato, Artur Mas, tentam dominá-la com um programa que já não abarca somente a próxima legislatura, mas até 2020, data em que o presidente da Generalitat e candidato à reeleição situa o horizonte de uma Catalunha convertida em um novo Estado europeu. O prazo prolongado pode ter a ver com um primeiro reconhecimento nacionalista das dificuldades que sua aventura encontrará para que a Catalunha seja admitida, simplesmente, como um Estado na Europa.

A correspondência conhecida agora entre o secretário de Estado para a UE, Íñigo Méndez de Vigo, e a vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding, joga água fria nas pretensões do nacionalismo. Diante da reivindicação do alto cargo do governo espanhol, no sentido de que a UE "não pode reconhecer uma declaração unilateral de independência de uma parte de um Estado membro" e de que, no caso hipotético de que ocorresse essa separação, o novo Estado teria de "solicitar sua adesão como qualquer outro postulante", a vice-presidente da Comissão Europeia responde: "Concordo plenamente com a análise do quadro constitucional europeu que desenvolve em sua carta". Não cabe portanto jogar com os eleitores para fazê-los acreditar que a UE acolheria uma parte desgarrada unilateralmente da Espanha.

Os dirigentes da CiU pretendiam contornar todo tipo de explicação sobre o mau equilíbrio econômico, financeiro e social da gestão desenvolvida pelo governo da Generalitat, pelo simples expediente de culpar a Espanha pelos problemas e prometer um futuro idílico dentro da Europa, mas o percurso dessa ideia é bem mais tortuoso.

De fato, o programa da CiU para 25 de novembro evita as palavras "independência", "separatismo" ou "secessão", e se limita a falar em "Estado próprio", fórmula que poderia servir tanto para uma saída federal como para a independência plena. A proposta se acumula a outras complicadas para o resto da Espanha, mas de índole supostamente construtiva diante dos eleitores catalães, como são a edificação de estruturas estatais (agência tributária, seguridade social) ou a co-oficialidade do idioma castelhano, de repente avaliado como um ativo de primeira ordem. Com esse discurso, Mas busca uma maioria absoluta parlamentar que lhe dê mãos livres, e depois se verá como se administra a continuidade do processo.

Enquanto o PSC (sem o apoio do PSOE) defende o direito a decidir em um referendo legal e a CiU se propõe a promover uma consulta "para que o povo da Catalunha possa determinar livre e democraticamente seu futuro coletivo", Mariano Rajoy redescobre o conceito da "Espanha plural", tão caro em seu momento a José Luiz Rodríguez Zapatero. A pré-campanha catalã se caracteriza por uma confusão considerável, quando necessita é de clareza.

Exército alemão treina soldados somalis

Soldados Alemães em Kunduz, Afeganistão 

Soldados alemães participam de uma missão da UE em Uganda, treinando soldados somalis para ajudar a levar a paz a seu país destruído pela guerra. Uma visita ao acampamento mostra como é difícil transformar recrutas inexperientes em combatentes leais e efetivos. Nem mesmo Bruxelas está convencida da utilidade da missão.

O soldado alemão está agachado na savana de Uganda enquanto 30 pares de olhos acompanham a caneta em sua mão. Ele escreve os comandos mais importantes em uma placa metálica, uma vez em inglês e outra em somali: "Atenção" e "Fogo".
Seus músculos tremem sob a pele dos braços tatuados, e mosquitos zumbem ao redor de sua cabeça raspada. Faz calor na savana, mas nuvens de chuva se acumulam no horizonte. "Então vamos", murmura Ralph Westermann, um sargento das forças armadas da Alemanha, a Bundeswehr.

Nesse dia ele vai levar os 30 homens, todos recrutas da Somália, em uma patrulha pelo mato. Ele vai treiná-los para que não disparem aleatoriamente com seus fuzis AK-47. Vai lhes dizer que muitas vezes é melhor mudar o gatilho para semiautomático, mirar e disparar. Os próximos 30 recrutas chegarão amanhã. Esse foi o trabalho de Westermann nos últimos três meses.

O sargento Westermann, 42, gosta de lutar boxe e levantar pesos, e é um dos 19 soldados alemães que trabalham no oeste de Uganda. Sua missão é dar uma espinha dorsal ao exército somali. Para esse fim, a UE os enviou para Bihanga, no sudoeste de Uganda, juntamente com 65 soldados de outros 12 países europeus. Se a missão ficasse estacionada na Somália, os recrutas seriam mortos mais rapidamente do que se poderia treiná-los. Também seria perigoso demais para os treinadores. Por isso o acampamento fica em Uganda.

O programa se chama Missão de Treinamento da União Europeia - Somália (EUTM-Somalia, em inglês). Os soldados europeus estão treinando 551 recrutas somalis que chegaram à Uganda em julho. Esse é o quarto curso de treinamento da missão. "Nos primeiros três meses, praticamente todos eles ainda são civis", diz Westermann. Eles voltarão para a Somália e para a guerra no final do ano. Se Westermann os treinar bem, terão uma chance de sobreviver e poderão até ajudar a resolver um problema que perturba o mundo há mais de 20 anos.

Milícias vêm lutando entre si no Chifre da África desde 1991, quando o ditador somali Mohamed Siad Barre foi obrigado a fugir. A violência e o caos no país não são apenas causados pelos piratas que constantemente sequestram navios, mas também pelo grupo terrorista islâmico al-Shabab, que coopera com a Al Qaeda.

O governo de Mogadício é a única esperança de uma paz duradoura. Cerca de 10 mil soldados, a maioria deles de Uganda, protegem políticos somalis e expulsaram a al-Shabab da capital. Há cerca de duas semanas, tropas do Quênia expulsaram os islâmicos da cidade portuária de Kismayo.

Mas os quenianos e os ugandenses são estrangeiros, e mesmo que eles vençam não serão capazes de manter o controle do país em longo prazo. O exército do governo é um grupo desolado, que consiste teoricamente em 10 mil soldados muito mal treinados e equipados. Eles são melhores em morrer do que em lutar. Europeus como Westermann estão em Uganda para mudar isso.

Chegar a Bihanga envolve um percurso terrível de sete horas a oeste de Kampala, a capital de Uganda, em uma estrada que se transforma em estrada rural e depois em uma trilha de terra, até que a única maneira de avançar é com veículos todo-terreno. A estrada passa por aldeias de choças de barro, cercadas por depósitos de lixo que queimam e rebanhos de cabras semisselvagens. De vez em quando há uma placa de metal, aparentemente no meio do nada, que diz: "Escola de Treinamento Bihanga".

Mais de mil pessoas vivem em Bihanga. O acampamento foi construído pelos governantes coloniais britânicos e mais tarde tomado pelo exército ugandense. Quando os europeus chegaram, há dois anos, livraram-se das velhas tendas e construíram longos dormitórios com telhas de lata, de acordo com os padrões ocidentais.

Enquanto os soldados europeus ficam nesses quartéis, os de Uganda vivem com suas famílias em choças próximas, que são separadas do acampamento europeu por uma cerca. Galinhas e cabras correm livremente entre as cabanas. O trabalho dos soldados ugandenses é oferecer segurança para o acampamento e acomodações para os somalis.

Oito recrutas mulheres somalis estão abrigadas em uma cerca, onde são mantidas separadas dos  homens. Elas provavelmente vão causar sensação em sua terra muçulmana, mas a Somália precisa que elas revistem mulheres nos postos de controle para garantir que não estão usando cintos explosivos.

O sol fustiga incansavelmente, mas o sargento Westermann está usando botas de combate e uniforme. Há muitos perigos na área de treinamento de seis quilômetros quadrados. O capim alto esconde cobras e aranhas venenosas; os mosquitos podem transmitir malária. Há um obituário pregado à parede no refeitório, de uma freira italiana que morreu de febre no ano passado. Depois há o calor constante e as tempestades tropicais, especialmente agora que começou a temporada de chuvas.

Nada disso incomoda Westermann. Enquanto a maioria dos soldados de países europeus se recusa a voltar para um segundo período, Westermann foi voluntário, dizendo que queria ver como o acampamento havia ficado. "Pelo menos agora temos casas sólidas", ele diz. "Nós moramos em tendas em 2010, o que não era nada agradável na temporada de chuvas."

Ele pode enfrentar o calor e os perigos naturais, mas a confusão de línguas no acampamento é um problema, especialmente porque o inglês não é exatamente seu ponto forte. É um desafio explicar o que ele espera de seus recrutas somalis para o intérprete queniano e os soldados ugandenses.

Todos os dias Westermann sente que muito do que ele diz se perde em consequência das barreiras linguísticas entre alemão, inglês, suahili e somali. Nem tudo o que ele diz é compreendido, mesmo quando repete as ordens seis ou sete vezes. Ele já aprendeu um pouco de somali. Sabe dizer "depressa, depressa", frase que usa com frequência. E que tal "obrigado"? Ele não sabe dizer isso, mas diz que não importa. "Não a usamos muito aqui", diz, enquanto desaparece no mato.

Seus recrutas acabam de se mudar quando começa uma confusão bem perto dali. O estouro de uma granada de mão ecoa pelos morros ao redor. O recruta somali Mohamed Sadiq invade uma casa com seu rifle de assalto pronto. Ele vê uma figura de papelão na entrada e dispara três vezes contra ela. Depois ele e dois outros recrutas vasculham os quartos. Cerca de meio minuto depois um dos homens grita no rádio: "Edifício controlado". Os passarinhos voltam a cantar em pouco tempo.

Sadiq, 22, quer lutar pela Somália, por seus amigos e por sua família. Tudo o que ele sabe é guerra. "Meu país é tão perigoso que eu preciso de todo o treinamento que conseguir", ele diz. Por enquanto há cartuchos de festim no magazine de seu rifle de assalto. Mas em três meses Sadiq espera estar usando munição de verdade. Ele não estará mais no acampamento, mas em uma das muitas frentes da Somália, com seus colegas de infantaria. Como uma dessas frentes poderá ser uma área urbana, ele também recebe treinamento diário em combate de casa em casa. No jargão militar, chama-se Fibua, do inglês "fighting in built-up areas".

Para ser capaz de treinar os recrutas em condições realistas, os treinadores mandaram construir duas ruas que poderiam estar em Mogadício ou Kismayo. Soldados portugueses batizaram uma delas de avenida da Liberdade, como a principal via de Lisboa.
Não há telhados em muitos prédios, o que permite que os treinadores os examinem de cima para determinar quem estaria morto e quem teria ganhado cada exercício. O capitão Ricardo Jorge Silva, um oficial português, não está satisfeito com o grupo de Sadiq. "Isso foi devagar demais!", ele grita. "Pense na sequência que discutimos. Dominar a área, depois passar imediatamente para o próximo quarto. Sem interrupção. Façam tudo de novo." O intérprete queniano traduz o que ele diz, a unidade volta à posição inicial e a próxima granada de exercício explode.

As coisas estão mais tranquilas para os outros alemães do acampamento, os operadores de rádio. Enquanto Westermann, como um dos três sargentos de treinamento, se arrasta entre o capim, Michael Wellmann ensina seus recrutas o alfabeto do rádio. Abdullahi Abditon está parado ao seu lado junto do quadro-negro. O somali de 20 anos está sendo treinado para mais tarde treinar outros operadores de rádio na Somália. Seis de seus colegas recrutas estão debruçados sobre mesas aprendendo códigos e palavras-chaves. "Como você reconhece um amigo ou inimigo durante a transmissão de rádio?", pergunta o treinador.

"O grupo é tão pequeno porque só reunimos os melhores alunos da classe", diz Wellmann. "As primeiras cinco ou seis semanas são duras. Em alguns casos temos de começar ensinando a ler as horas. Você começa a ver progresso depois disso."

A noite cai rapidamente nos trópicos, e por volta das 19h de repente fica escuro lá fora. O refeitório tem mesas de pingue-pongue e de pebolim, e fotos do porto de Hamburgo penduradas nas paredes. As telas de laptops brilham nas salas individuais. "É importante que a Internet funcione, ou o clima pode mudar rapidamente para pior no campo. Afinal, é a conexão mais importante com nossas famílias", diz o major Sascha Repoki.

Um especialista em logística, Repoki é o oficial alemão mais graduado no acampamento. Ele diz que toda garrafa de água, cada caixa de cereais para o café da manhã e cada lápis tem de ser transportado para lá. Não há sequer água para os chuveiros no acampamento, e um caminhão tanque passa pelo posto de controle na entrada para entregá-la todas as manhãs. "Se uma cadeira quebra, temos de encomendar outra em Kampala", diz Repoki.

Jornalista do "Der Spiegel" relata regime islâmico que aterroriza norte de Mali


Há meses que um regime islâmico vem aterrorizando o norte de Mali. Centenas de milhares de habitantes já fugiram da região, e os que ficaram para trás sofrem a cada dia com novas formas de crueldade. Um repórter do "Spiegel" documenta uma viagem de duas semanas pela região, que a Europa teme que possa se tornar a próxima Somália.

O norte de Mali é virtualmente inacessível para os jornalistas atualmente. A sharia está em vigor desde a última primavera, quando fundamentalistas assumiram o controle de uma grande parte do país, que até então era considerado modelo. Os fundamentalistas apedrejam os adúlteros, amputam membros e reprimem toda oposição. Eles destruíram túmulos em Timbuktu reconhecidos como sítio de herança mundial pela Unesco.

Apesar dos riscos, Paul Hyacinthe Mben, 39, um funcionário do "Spiegel" e jornalista na capital de Bamako, que ainda não está sob controle islâmico, aventurou-se para o norte de Mali. Antes da viajar, passou semanas negociando um salvo conduto com os líderes islâmicos. Em troca, foi obrigado a aceitar certas condições. Durante sua estadia de quase três semanas no norte, ele teve que aceitar o código islâmico de vestimenta, assim como se submeter a uma série de revistas e interrogatórios. Mesmo assim, ele nunca revelou aos islamitas onde estava dormindo e nunca ficou no mesmo lugar por mais de um dia. Ele estava constantemente com medo de ser sequestrado. Ele mal tinha voltado a Bamako quando soube que sete homens armados o seguiram no norte, com a meta de levá-lo preso.

Um ponto de revista da polícia islâmica na estrada para Gao marca o início da região controlada pelos novos governantes do norte de Mali. Adolescentes com Kalashnikovs estão na barreira, de pernas abertas. O mais velho fica repetindo as mesmas instruções em um megafone: "Cigarro é proibido; CDs são proibidos; rádios, câmeras ou joias são proibidos". Uma repetição infinita de proibições, uma lista de tudo que é "haram", ou impuro, com a qual se inicia esta viagem para o norte. Os homens vigiam em nome do profeta Maomé.

Com gestos arrogantes, eles param os poucos ônibus interestaduais que ainda vêm do sul de Mali. Um dos homens entra no veículo com a arma a postos, e inspeciona o ônibus andando pelo corredor e verificando se todo mundo está cumprindo as normas islâmicas: as mulheres e homens estão sentados em locais separados? As mulheres estão usando o “hijab”? E os homens estão usando calças até os tornozelos, do tipo que os muçulmanos radicais acreditam que o profeta preferia? Agora são obrigatórias em Gao.

O motorista e os passageiros se submetem ao procedimento em silêncio. Quando termina, o inspetor sai pela porta de trás, ainda carregando sua Kalashnikov, e grita "Salam alaikum", o cumprimento comumente usado no mundo muçulmano. O ônibus foi liberado.

Uma nação dividida
Mali é um país dividido desde abril, quando os islâmicos assumiram o controle de uma região no norte maior que a França, enquanto o Sul ainda é administrado por um governo incapaz de se defender.

Nesta primavera, as forças do grupo étnico tuaregue expulsaram o Exército de Mali das regiões ao norte do país em poucas semanas. Eles proclamaram a nação tuaregue de Azawad, que nenhum Estado do mundo reconheceu.

Então vieram os islâmicos armados até os dentes, com o que sobrou do arsenal do antigo regime de Gaddafi na vizinha Líbia. Os islâmicos também têm conexões com os combatentes da Al Qaeda que, por alguns anos, encontraram porto-seguro na região do Magreb, do norte da África, e nos países da zona de Sahel, ao Sul do deserto do Saara.

Os tuaregues que não se uniram aos islâmicos foram expulsos. As fachadas das casas em Gao ainda demonstram os traços da luta pelo poder entre os dois grupos, inclusive buracos de tiros e paredes enegrecidas e destruídas. O mundo agora está profundamente preocupado que Mali possa se tornar outra Somália ou Afeganistão.

Em princípio, o Conselho de Segurança da ONU já aprovou o envio de tropas internacionais contra o norte. A União Europeia decidiu enviar assessores militares, e os EUA estão até considerando o uso de sondas não tripuladas para combater os líderes islâmicos. O norte de Mali, a menos de cinco horas de voo de Paris, não pode se tornar um novo canteiro de terroristas ou uma segunda Somália, diz o ministro de relações exteriores alemão, Guido Westerwelle. Sua colega norte-americana, a secretária de Estado Hillary Clinton, acredita que os islâmicos em Mali estavam por trás do ataque que levou à morte do embaixador americano na cidade de Benghazi, na Líbia, há sete semanas.

Um lugar sem vida
Gao, uma cidade de 100.000 habitantes, se tornou um lugar sem vida desde que os islâmicos assumiram o poder. O lugar era um ponto de parada para turistas a caminho de Timbuktu, mas agora as barracas em torno da estrada desapareceram; bares e restaurantes foram lacrados e a música é proibida. Os novos mandantes proclamam seu credo em cartazes pregados nas esquinas, escritos em árabe contra um fundo preto: "Não há Deus que não Alá, e Maomé é seu mensageiro".

Para piorar as coisas, a coleta de lixo foi suspensa, e o lixo fica apodrecendo nas ruas a uma temperatura de 40 ºC. Em torno de 400 mil pessoas já fugiram dos islâmicos. A maior parte dos que partiram eram da faixa mais educada da força de trabalho, como engenheiros que mantinham a usina elétrica e o fornecimento de água em operação. As organizações de ajuda humanitária internacionais se foram, assim como os representantes do governo que estavam em vias de implementar um novo programa de construção de estradas.

"Gao é uma cidade morta", diz Allassane Amadou Touré, mecânico, enquanto bebe seu chá à sombra. Ele está desempregado, como muitos na cidade, e diz que a produção econômica de Gao "caiu em 85%" desde a primavera.

A polícia islâmica tornou-se a maior empregadora da cidade. Ironicamente, sua sede fica na rua Washington, no centro de Gao. Dali, os membros da polícia armada, que na maior parte é jovens quase crianças, são enviados para os bairros para imprimirem sobre os moradores o que é considerado "haram" e o que é "halal", ou puro.

Punições medonhas
Até recentemente, as sentenças dos tribunais da sharia também eram executadas na rua Washington, mas agora a polícia islâmica ficou mais cuidadosa. Desde que uma multidão revoltada conseguiu resgatar pessoas que tinham sido condenadas, mãos e pés agora estão sendo cortados em segredo.

A justiça islâmica usa uma antiga base militar fora da cidade para executar suas punições medonhas. Uma de suas vítimas é Alhassane Boncana Maiga, que foi considerado culpado de roubar gado. Quatro guardas arrastaram Maiga, que vestia uma túnica branca, para uma sala escura, e o amarraram a uma cadeira, deixando apenas uma mão livre. Um médico dá à vítima uma injeção para a dor.

Depois, Omar Ben Said, que é o principal carrasco, puxa uma faca da bainha. "Em nome de Deus, o mais gracioso, o mais misericordioso", ele diz e pega a mão do condenado e começa a cortá-la, enquanto o sangue esguicha. O esforço se torna mais difícil quando Said atinge o osso e demora mais de três minutos até a mão cair no balde. O carrasco pega o celular, chama seu superior e diz: "O homem foi punido".

Maiga manteve os olhos fechados o tempo todo, sem gritar. Os homens o levam para outra sala, onde seu braço é atado, e depois de 15 minutos é solto e tropeça para a rua. "Sou inocente", diz. "O que devo fazer agora? Não posso mais trabalhar".

Poucos dias depois, Maiga está morto, provavelmente por excessiva perda de sangue ou por uma infecção.

Um mandante por trás do terror islâmico
Um dos cérebros por trás do terror islâmico em Mali é lyad Ag Ghali. Ele mora em Kidal, a 320 km a nordeste de Gao, em uma casa opulenta perto do aeroporto, que agora está fechado. Um homem baixo com uma barba longa e óculos escuros, Ag Ghali vive cercado de um bando de homens altamente armados, do grupo Ansar Dine, ou "Defensores da Fé".

O Ansar Dine é uma nova organização. Até o ano passado, Ag Ghali era conhecido como principal separatista tuaregue. Ele oscilava entre procurar dialogar com Barnako e declarar um Estado Tuaregue independente. Ag Ghali tinha fama de fumar e beber, mas também era considerado pouco confiável, e os rebeldes tuaregues o marginalizaram politicamente em novembro último. Provavelmente, este foi o momento em que Ag Ghali descobriu o islamismo.

Dali em diante, em vez de convocar uma nação tuaregue, ele promoveu a sharia, dizendo: "Todos aqueles que não andam pelo caminho de Alá são infiéis". Sua mudança assegurou-lhe o apoio da Al Qaeda e de outros extremistas do Magreb.

Seu grupo também está envolvido no tráfico de drogas no Saara. Carteis sul-americanos enviam cocaína por navio até Guiné-Bissau na África Ocidental. Dali, as drogas viajam para o norte por terra, transportadas -em troca de uma boa parte dos lucros- por rebeldes, revolucionários e bandidos, como os combatentes do Ansar Dine. Os sequestros são outra fonte de renda para os "Defensores da Fé". Quando a ONU aprovou o emprego de tropas no norte de Mali, em meados de outubro, o Ansar Dine ameaçou matar reféns franceses sob seu controle.

Ag Ghali tem pouco a dizer ao visitante. "Bem vindo à cidade islâmica de Kidal", diz ele, antes de embarcar em sua SUV e sair correndo, seguido por seu séquito.

Polícia islâmica em toda parte
Mas Kidal de fato não é nada acolhedora. Metade de seus moradores fugiu para a Mauritânia ou Níger e a polícia islâmica patrulha as ruas montada em caminhonetes. O mercado está fechado, e as mulheres não podem mais andar sozinhas na cidade.

Os homens receberam instruções para deixarem a barba crescer. Os que não obedecem ao chamado dos muezins à prece são chicoteados ou presos por três dias. É proibido ouvir rádio, e os novos governantes simplesmente serraram as antenas parabólicas dos telhados das casas.

Yacouba Mahamane Maiga está dormindo sob uma árvore. Ele está usando uma camiseta desbotada e short. Ele foi um dos homens mais ricos da cidade antes de os islâmicos chegarem a Kidal.

"Não aguento mais nada disso", diz ele, com um punho fechado apontado na direção dos garotos com Kalashnikovs. Antes da tomada do poder, sua empresa de construção acabara de ser contratada para construir uma nova prisão e uma novo tribunal, dois contratos do governo no valor de milhões. Maiga investiu US$ 1,9 milhão (em torno de R$ 4 milhões) em novos tratores e guindastes.

Mas não houve construção em Kidal desde que os islâmicos chegaram, e Maiga é forçado a ficar de lado enquanto seu país desmorona. Suas máquinas estão cobertas de areia do deserto, e seus funcionários fugiram. "Trabalhei com essas mãos minha vida toda", diz ele.  "Esses salafistas estúpidos". Ele se recusa a levá-los a sério e não é enganado por sua pretensa fé. Ele os chama de bandidos, não de agentes da guerra santa.

Críticas em público podem ser perigosas. A polícia islâmica está em toda parte, mais ainda assim Maiga não faz mais esforços para esconder sua revolta. Há mais de 20 grupos étnicos em Mali e, até agora, muçulmanos, cristão se animistas coexistiram em paz. A religião sempre foi questão privada, diz Maiga. Ele está convencido que os islâmicos não têm apoio popular e ele diz que os moradores de Kidal estão cansados de serem empurrados por adolescentes.

Empurrados por adolescentes
Maimouna Wallet Zeidane, 27, é uma das pessoas que estão tentando organizar a resistência que está surgindo em toda parte. Quando ainda era permitido, ela era muito atlética e dividia um apartamento de dois quartos com seu namorado no bairro de Etambar.

Agora, ela mora sozinha. Os capangas do Ansar Dine queriam cortar as mãos do namorado dela porque estavam morando juntos. Desde então, ele fugiu para a Argélia. "Estamos em 2012. Como eles podem nos jogar de volta para os tempos do profeta?", pergunta Zeidane.

Em casa, ela usa jeans e camiseta, mas se usasse essas roupas fora de casa seria acoitada com uma vareta. Ela espalha pela sala folhas grandes e começa a escrever cartazes. Um deles diz: "Islâmicos = traficantes de drogas".

Alguém bate na porta, e ela rapidamente esconde os papéis. "Se a polícia islâmica encontra isso aqui, eles queimam o prédio". Ela coloca um véu sobre a cabeça e abre a porta, somente uma fresta, a princípio. Depois, abre totalmente, e três mulheres, suas colegas de campanha, entram no apartamento. Elas dizem ser as "amazonas de Kidal". O grupo consiste de 250 mulheres e cresce a cada manifestação, dizem elas.

Elas voltarão às ruas em alguns dias, segurando seus cartazes, no meio da cidade islâmica de Kidal. Elas poderão ser açoitadas, pelo menos 40 chibatadas com uma vara ou chicote, e levadas à prisão.

Mas Zeidane está determinada a assumir o risco. Os islâmicos destruíram a vida dela, e ela não tem mais medo dos homens de barba e armas. "Eles deveriam queimar todos no inferno", diz ela.

Um Exército de uma pessoa só


São pessoas como Malala Yousafzai que farão a diferença no Afeganistão, não os trilhões de dólares dos Estados Unidos

Imran Khan, jogador de críquete que se transformou em político no Paquistão, conseguiu algo quase impossível no fim de semana. Primeiro, por sua causa, chegamos a nos simpatizar, pelo menos por um momento efêmero, com o presidente afegão Hamid Karzai. Em segundo lugar, numa única jogada publicitária desastrada, ele desviou a atenção da notável história da reação de seu país e do mundo à covarde tentativa do Taleban de assassinar Malala Yousafzai, a corajosa garota que teve a coragem de denunciar as medidas do grupo radical para impedir a educação de meninas.

Após uma visita ao hospital em que Malala se encontrava e numa nítida tentativa para tirar proveito da preocupação com a sorte da menina observada em todo o país, ele usou a ocasião para justificar as atividades do Taleban no Afeganistão como uma "jihad legítima". "Quem luta por sua liberdade está combatendo uma jihad", declarou Khan, segundo o jornal britânico The Guardian, que supostamente seria uma frase do Alcorão. "As pessoas que lutam no Afeganistão contra a ocupação estrangeira estão combatendo uma jihad."

O ministério do Exterior afegão condenou imediatamente os comentários feitos por ele. A razão pela qual Khan escolheu esse momento particular para defender o Taleban suscita profundas dúvidas sobre a capacidade de discernimento desse homem que claramente ambiciona governar seu país algum dia. Pior, a situação se torna mais desagradável em razão de sua recusa anterior de citar o Taleban pelo nome como os agressores de Malala, aparentemente por temor de que isso colocasse seus partidários em risco.

Por toda a parte, a difícil situação de Malala provocou uma reação impressionante que culminou, no fim de semana passado, com a sua transferência para um hospital especializado na Grã-Bretanha, graças à cooperação dos governos paquistanês, britânico e dos Emirados Árabes Unidos.

Dezenas de milhares de paquistaneses se concentraram no domingo numa praça em Karachi para protestar contra a tentativa de assassinato da garota e expressar seu apoio a ela e a sua causa. Os clérigos locais declaram que o ataque contra Malala é "contrário aos princípios do Islã".

"A tentativa contra a vida de Malala não foi apenas uma agressão contra uma menina indefesa, mas um ataque contra ela e o direito de todas as meninas a um futuro não limitado pelo preconceito e a opressão. Seus agressores devem ser denunciados e levados à Justiça. Malala enfrentou corajosamente os extremistas que tentavam proibir as meninas de frequentar uma escola. Devemos ser solidários com ela promovendo a tolerância e o respeito", afirmou o xeque Mohamed bin Zayed al-Nahyan, de Abu Dabi, em comunicado à imprensa emitido por seu governo.

Em um artigo no site Daily Beast, o ex-primeiro ministro britânico Gordon Brown, que encabeça uma iniciativa global para promover o ensino para meninas afegãs, escreveu: "A frase 'eu sou Malala', que vimos em camisetas, cartazes e websites, foi adotada pelos jovens por toda parte, desafiando corajosamente o Taleban e afirmando o direito de todas as meninas à educação."

O jornalista paquistanês Owais Tohid nos deu uma explicação da razão pela qual Malala tornou-se essa figura galvanizadora num artigo para o Christian Science Monitor, publicado na semana passada. Ele se encontrou com ela para conversar sobre seus protestos contra a tentativa do Taleban de suprimir o ensino para meninas no Vale do Swat e também sobre suas postagens anônimas num blog falando da violência que observava em torno dela.

"Queria gritar, berrar e dizer para o mundo o que estávamos passando. Mas não era possível. O Taleban me mataria. E a meu pai e minha família. Eu morreria sem deixar uma marca. Então, decidi escrever com um nome diferente. Deu certo e o meu vale foi libertado", disse ela.

Involuntariamente, é claro, os deploráveis comentários de Khan evidenciam o poder de Malala e o vigoroso apoio que ela está despertando. A frase "quem luta por sua liberdade está travando uma jihad" aplica-se muito mais diretamente a ela do que aos bandidos do Taleban que desvirtuaram o Islã para justificar a violência e a repressão - tanto no Vale do Swat como no Afeganistão.

E também repercute de modo incômodo na discussão sobre o envolvimento dos EUA na região, que voltou à baila novamente no debate dos candidatos à vice-presidência, há duas semanas. Independentemente de seu convincente desempenho, o vice-presidente, Joe Biden, deixou clara a trágica inutilidade do envolvimento americano no Afeganistão ao enfatizar que os Estados Unidos sairão do país em 2014 de qualquer maneira. O que significa dizer que o objetivo de Washington é sair do país independentemente das consequências.

Não importa que o governo deixado ali pelos americanos seja fraco e corrupto e as forças afegãs que treinamos não irão oferecer nenhuma segurança para o país. Partimos, apesar das mais de 2 mil vidas perdidas e das centenas de bilhões de dólares gastos, com pouca coisa para mostrar além das cabeças de Osama bin Laden e de alguns dos seus sequazes. O Taleban sabe disso e só está aguardando o momento oportuno. Embora seu ressurgimento seja péssimo para o Afeganistão, certamente será muito pior para as mulheres afegãs.

Não erramos em deixar o país. O Exército dos Estados Unidos já deveria ter partido há muito tempo. Devíamos ter entrado no Afeganistão apenas para caçar e matar os responsáveis e facilitadores dos atentados de 11 de setembro de 2001. E não nos envolvermos na inútil tarefa de construir uma nação num país montanhoso, sem acesso para o mar e a milhares de quilômetros de distância.

No entanto, assim foi feito e a grande pergunta no Afeganistão, no Paquistão e no Oriente Médio é esta: "E agora?" Qual deve ser a estratégia política dos Estados Unidos após nossos fracassos nessa parte atribulada e fraturada do mundo? Que estratégias políticas vamos adotar se não temos mais apetite por guerras?

Curiosamente, essas questões ainda devem ser levantadas nos debates. Em vez de uma conversa simplista e sem profundidade sobre como ser mais forte ou mais duro e de que maneira podemos matar mais bandidos, vamos elevar mais nossos valores. Da Tunísia ao Paquistão, essa é uma região que se encontra no meio de uma profunda convulsão social e não temos ainda um novo conceito, nenhuma política coerente que possa ser comunicada ao povo americano ou ao mundo.

Como observou um diplomata americana, há duas semanas, além do assessor para a segurança nacional, Tom Donilon, ele não saberá para quem telefonar se precisar contatar alguém do alto escalão do governo que acorde diariamente com a exclusiva responsabilidade de resolver esses problemas complexos e interligados.

Contudo, talvez haja uma resposta. Naturalmente, os Estados Unidos terão de se envolver. Vamos de ter de continuar nossos ataques contra os maus elementos que nos ameaçam periodicamente e teremos de usar nossa influência econômica e diplomática da melhor maneira possível para apoiar aqueles que, nessa região, compartilham dos nossos objetivos.

Contudo, talvez a lição de Malala e a resposta a ela seja similar à de Neda, a mártir simbólica da Revolução Verde do Irã, ou à dos jovens líderes da Praça Tahrir, no Egito. E também, apesar dos programas políticos e das filosofias muito diferentes, semelhante à lição oferecida pelos líderes dos Emirados Árabes Unidos, enviando um avião ambulância para o Paquistão, ou pelos países do Golfo, agindo em conjunto com a Turquia contra Bashar Assad na Síria.

Pode ser que a resposta à pergunta dos diplomatas árabes seja esta: Por que estão nos chamando? Talvez seja hora de entender que a resposta para os problemas desses Estados, regiões e povos interconectados será dada por eles. Não serão exatamente as transformações que esperaríamos ou mesmo aquelas que os povos da região mais necessitam. Não serão transformações sistemáticas. E ocorrerão grandes retrocessos. No entanto, somente mudanças concebidas localmente é que criarão raízes.

Apesar de todas as evidências de que a corrupção, a intolerância e a violência arraigadas continuam, precisamos reconhecer também que as "Malalas" vêm proliferando, ganhando força e moldando o debate de uma maneira que, até o momento, pensávamos ser impossível. Nós, no Ocidente, podemos ajudá-las. Mesmo que nossas tropas deixem o Afeganistão, é crucial não fugirmos dessas responsabilidades.

Na verdade, a maior homenagem que podermos prestar aos nossos soldados é fazer tudo o que for possível para apoiar as iniciativas em favor das mulheres da região, em favor da educação, da tolerância, em favor da criação de oportunidades reais que sejam criadas na região para todos. E temos de reconhecer que, em alguns casos, nosso apoio ou intervenção, quando bem-intencionados, podem não contribuir para algum avanço.

Precisaremos ter estratégias, paciência e tolerância com relação aos avanços irregulares. Encontrar aliados confiáveis entre os ativistas e líderes mais moderados da região para criarmos juntos uma nova aliança que não seja liderada por potências estrangeiras, mas apoiadas por elas.

No entanto, precisamos também reconhecer que Malala, Neda e as milhares de pessoas da Praça Tahrir ou aquelas que se reuniram em Karachi fizeram mais para mudar para melhor essa parte do mundo do que os nossos trilhões de dólares, nossos sacrifícios e nossas Forças Armadas reunidas. Se apreendermos essa lição, então, os nossos esforços não terão sido totalmente em vão, como também o futuro dessa região atribulada poderá ser um pouco melhor.

Reflexos de um pacto com as Farc


As pequenas rachaduras nas paredes brancas da casa de blocos de concreto de Victor Salas contam a história recente da violência da guerrilha nesta cidadezinha do sudoeste da Colômbia. Toda vez que um carro-bomba explode perto da delegacia, a várias quadras de distância, ou uma granada é lançada numa loja vizinha, aparece uma nova rachadura. As trincas estão em toda a casa, que antes não tinha nenhuma.

Corinto é uma das cidades mais atingidas pelo recrudescimento dos ataques das Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia (Farc). Agora, uma negociação pode pôr fim a cerca de 50 anos da luta entre o governo colombiano e o que começou como um levante de camponeses de inspiração marxista, mas que deixou dezenas de milhares de mortos e milhões de refugiados.

Muitos analistas consideram o momento a maior chance de paz da Colômbia na história do conflito. Três outras tentativas feitas nos últimos 30 anos acabaram em derramamento de sangue e violência. Mas o novo balanço de forças - com um governo dotado de maior legitimidade e o movimento rebelde consideravelmente enfraquecido - levou as duas partes a elaborar um programa concreto de cinco pontos. O programa inclui a discussão do desarmamento e a possibilidade de participação política dos guerrilheiros desmobilizados.

O otimismo que cerca as conversações, iniciadas em Oslo e posteriormente transferidas para Havana, não significa que as negociações avançarão sem dificuldades. Observadores estão preocupados com questões de Justiça transitória, com a participação da sociedade colombiana, e com a possibilidade de que, dada a persistência dos combates, o processo seja fadado ao fracasso.

Pela primeira vez, as conversações de paz têm como objetivo fundamental o fim dos combates, e não tentar solucionar os problemas do país. Nas conversações anteriores, a pauta era muito ampla, incluía desde a distribuição da renda ao sistema de saúde, a educação e a política externa.

Durante a atual negociação, as vítimas das Farc, principalmente antigos reféns, exigem ser ouvidas. "Nenhum negociador do governo sofreu com a guerra e todos eles acabarão concedendo indultos em nosso nome", disse Sigifredo López, um político que permaneceu sete anos em poder dos guerrilheiros até 2009.

O sequestro foi um dos recursos criminosos típicos das Farc. Em fevereiro, elas renunciaram publicamente a essa prática e declararam não ter mais reféns. Mas centenas ainda exigem saber o paradeiro de parentes que afirmam ter sido levados pelos guerrilheiros.

Silvia Serna não tem dúvidas de que a Frente 26 das Farc está com seu filho Edson Paez. Ele foi sequestrado em setembro de 2011, e mesmo depois que ela se encontrou com um comandante das Farc para negociar a libertação do filho, e pagou cerca de US$ 110 mil, diz que ele continua preso.

As negociações terão de discutir questões de Justiça e de que maneira os líderes e os combatentes do movimento pagarão pelos delitos. Além do sequestro, os crimes incluem instalação de minas terrestres, estupro, recrutamento forçado, deslocamentos e massacres. Embora 77% dos colombianos apoiem o processo de paz, 78% afirmam que querem ver os membros das Farc pagar pelos crimes com a cadeia. Uma emenda constitucional aprovada em julho estabelece um sistema de Justiça transitória que se aplicaria às Farc no caso de um acordo de desmobilização. Isso permitiria a aplicação de sanções alternativas aos rebeldes, além da prisão.

Marta Cecilia Herrera, cujas filhas gêmeas de 27 anos foram levadas com dois genros pelas Farc em 1997, diz que pode perdoar a guerrilha, desde que saiba a verdade. "Eles poderão devolvê-los para mim vivos ou mortos, mas quero saber o que fizeram com eles".

General da Força Aérea síria é morto por rebeldes


Exército Livre da Síria assume a autoria

Um general da Força Aérea da Síria foi morto num subúrbio da capital Damasco, de acordo com a televisão estatal do país.

Sua morte foi confirmada pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos. O ataque foi classificado como "terrorista" pela emissora.

Abdullah Mahmoud al Khalidi foi morto no subúrbio de Rukn al Din. A televisão estatal não deu mais informações sobre o caso e disse que a morte do militar é mais um dos atos da "campanha de ataques contra os interesses nacionais".

O Exército Livre da Síria, o maior e mais organizado dos grupos rebeldes, assumiu a autoria do atentado, acrescentando que tinha matado também um outro oficial da Força Aérea na mesma ação.

Al Khalidi está entre os mortos mais famosos e poderosos do conflito na Síria. Antes dele, em julho, os rebeldes já haviam matado o ministro da Defesa, Assef Shawkat, cunhado do ditador Bashar Assad.

Segundo a emissora síria, o general era um "especialista em sua disciplina", era casado e tinha quatro filhos.

FIM DA TRÉGUA
Nos últimos dias, a ONU (Organização das Nações Unidas) havia tentado mediar um acordo entre as forças do regime e as milícias insurgentes sobre um cessar-fogo. A justificativa era o feriado muçulmano de Eid al Adha, um dos mais importantes do islamismo. Os dois lados tiveram reações controversas quanto à proposta. O regime e boa parte dos rebeldes aceitaram, mas prometeram revidar em caso de sofrer ataques.

Anteontem, o enviado especial da ONU ao país, Lakhdar Brahimi, admitiu que o pacto tinha fracassado. Estima-se que ao menos 175 tenham morrido no período em que supostamente a trégua aconteceria.

O conflito na Síria, no qual rebeldes tentam remover Assad do poder, já dura 19 meses.

Cerca de 30 mil pessoas foram mortas como consequência da crise.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

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Rússia exibe as novidades de sua indústria bélica na INTERPOLITEX-2012

O contato dos jihadistas franceses no Paquistão


Considerado pelos serviços europeus de inteligência como o pivô do recrutamento jihadista vindo da Europa, Moez Garsallaoui teria sido morto, no dia 10 de outubro, durante um ataque de avião não tripulado americano ao vilarejo de Mir Ali, no Waziristão do Norte, uma das sete agências tribais do Paquistão.

Segundo a Justiça francesa antiterrorista, esse belga-tunisiano coordenava, desde 2008, as redes jihadistas europeias. Depois, à medida que essas redes foram desmanteladas, ele tinha por função receber no local, nas zonas tribais, os candidatos muitas vezes isolados no jihad.

Segundo uma fonte na procuradoria de Paris, testemunhos colhidos no processo e considerados “confiáveis” atestam que ele teria cuidado de “pelo menos seis franceses” no Waziristão do Norte. A essa estimativa é preciso somar o caso de Mohamed Merah, que ele teria encontrado durante sua passagem pela região.

“Entre todos os exemplos que conhecemos,” afirma esse mesmo membro da procuradoria, “Merah foi aquele que menos tempo permaneceu no local, entre dez e doze dias, pouco demais para receber um treinamento”.

Já os serviços de inteligência franceses confirmam a duração de sua estada e não negam “a possibilidade de um contato físico” entre os dois homens. No entanto, eles afirmam que os e-mails enviados por Merah nessa região, cujas cópias foram encaminhadas por seus homólogos americanos, negam que tenha havido qualquer diálogo com Garsallaoui por esse meio.

Este último também teria recebido Naamen Meziche, 42, um franco-argelino jihadista consumado, atualmente detido no Paquistão depois de ser preso quando tentava sair do país na direção da Somália.

Garsallaoui não administrava somente os franceses. Ele cuidava dos islamitas estrangeiros que vinham até a região, uma tarefa que também cabia ao Movimento Islâmico do Uzbequistão (MIU), um grupo afiliado à Al Qaeda.

Essa organização interna lembra que não basta para os futuros recrutas virem até as zonas tribais para entrar nas células combatentes ou nos campos de treinamento. A Al Qaeda instaurou regras de segurança rígidas para evitar infiltrações de informantes que permitam a CIA orientar seus ataques de aviões não tripulados. Dos 38 tiros realizados por esses aparelhos sem pilotos sobre solo paquistanês, desde janeiro, 17 atingiram o Waziristão do Norte e dois o Waziristão do Sul.

Segundo a Justiça francesa, os franceses que residem nessa zona podem ser “tratados com violência” se não inspirarem confiança. Segundo um magistrado, “uma recomendação junto a uma figura como Garsallaoui mudava notavelmente a recepção reservada aos aprendizes de jihadistas, mas depois é preciso convencer, do contrário pode-se ficar varrendo durante um ano”.

Esses jovens franceses que vão por conta própria até áreas complicadas nem sempre chegam ao seu destino. No início de 2011, dois franceses, Charaf Din, 25, e Ahmed Ibzaal , 23, foram presos em Lahore assim que desceram do avião. Mas a morte de Garsallaoui, que não foi confirmada ao “Le Monde” por um alto representante dos serviços secretos militares paquistaneses  em Islamabad, fazia parte do trabalho de erradicação das tropas da Al Qaeda na região pela CIA que se acelerou desde a morte de seu líder, Osama Bin Laden, no dia 2 de maio de 2011.

Segundo o relatório de 2010 do serviço de inteligência da confederação suíça, Garsallaoui,  no dia 9 de setembro de 2011, em 2007 estava vivendo na cidade de Düdingen, no cantão de Friburgo, onde ele recebia auxílio social. Ele é casado com a viúva de um dos assassinos do comandante Ahmed Shah Massoud.

Ele foi condenado no mesmo ano a uma pena leve “por propagação de ideias jihadistas”. Seu website divulgava cenas de decapitação de reféns em mãos de grupos afiliados à Al Qaeda e publicava reivindicações de atentados. Pouco tempo depois, ele partiu para zonas tribais.

Desentendimento de Merkel e Hollande abre uma nova relação de forças na União Europeia

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande

A última cúpula de Bruxelas deixou uma impressão clara: a Alemanha e a França não se entendem. A linguagem corporal da chanceler Angela Merkel e do presidente François Hollande, caminhando juntos por um corredor e movendo a cabeça em claro sinal de desacordo, afugenta para sempre o fantasma do falecido Merkozy. A Alemanha e a França chegaram à cúpula da união bancária sem propostas comuns e a queda de braço terminou com a imposição do critério alemão. “Frau Nein” [Sra. Não] adiou por 12 meses a supervisão dos bancos europeus e, junto com ela, a recapitalização direta das entidades com problemas. Nem uma concessão antes das eleições alemãs de setembro de 2013.

A França, a Itália e a Espanha esperavam ter pronta a união bancária para o dia 1º de janeiro deste ano. Não houve como. Seria esta a ruptura do eixo Paris-Berlim? Não, dizem em ambos os lados do Reno. Na verdade, a relação entre as duas maiores economias da zona do euro tem sido muito tensa desde que Hollande assumiu o poder, depois de ser amplamente menosprezado por Merkel. Mas, embora esteja mais tensa que antes, também está mais aberta e sincera, dizem. E isso, afirmam todas as fontes consultadas, longe de ser ruim, favorece a transparência, o debate e a democracia na União Europeia.

O eurodeputado franco-alemão Daniel Cohn-Bendit, líder dos Verdes e habitual ponte entre os dois países, é um dos que acreditam que hoje a Europa está mais rica e plural do que antes, com a entrada de Hollande e a saída de Sarkozy. “A França procura parceiros como a Itália e a Espanha para romper o ponto de vista unidirecional da Alemanha, e essa é justamente a realidade política da Europa hoje em dia”, comentou Cohn-Bendit para o semanário alemão “Die Zeit”. “Um país não pode decidir tudo junto com outro, como acontecia antes”, adverte. “Agora as decisões são mais globais, têm grandes maiorias por trás”.

Na era Merkozy, o presidente francês e a chanceler alemã se reuniam antes de cada cúpula para formular propostas conjuntas nas quais a posição alemã costumava pesar muito mais. Na semana passada, o cabo de guerra ficou mais evidente do que nunca e a encenação se abriu para o envolvimento dos respectivos aliados: o Sul-Sul (mais a Irlanda) no caso francês e, no caso alemão, os vizinhos do Norte com classificação AAA: Holanda, Áustria e Finlândia.

Hollande, que alguns chamam de “O inefável”, sabe bem que não é fácil dobrar a vontade da chanceler. Aproximou-se de Madri e em uma menor medida de Roma para fazer pressão. Essa estratégia busca – e conseguiu, em alguns momentos – demover Merkel de suas posições. Vista a partir do Palácio do Eliseu, a última cúpula não foi sequer uma derrota, ainda que a França tenha perdido a batalha para recapitalizar diretamente o banco espanhol, coisa que vinha tentando desde que chegou ao cargo porque a França acredita que a estabilidade do sistema bancário de seu principal parceiro comercial – a Espanha – será um marco na crise da dívida e porque teme que se o mal-estar se prolongar em Madri poderá ser contaminada pela crise.

“Tudo isso é verdade, mas é preciso ver as coisas na perspectiva certa”, tenta relativizar um alto funcionário do governo francês que pediu anonimato. “É verdade que não foi instaurada a união bancária tão rápido quanto queríamos, mas o fundamental é que se conseguiu um acordo e que Hollande reorientou a política europeia na direção do crescimento. A cúpula de junho foi um avanço importantíssimo, o maior em muitos anos. Hoje estamos muito melhor do que estávamos em maio”.

Paris cita entre as conquistas após a saída de Sarkozy a Taxa Tobin, impulsionada pelo ex-líder conservador e que hoje é quase uma realidade em dez países, também graças à pressão dos socialdemocratas alemães sobre Merkel. Se a Alemanha quer mais união política, será somente em troca de mais solidariedade para com os Estados mais pobres, mutualizando a dívida emitindo eurobonds ou com um fundo de amortização. Os alemães responderam com propostas maximalistas de harmonização fiscal, como a ampliação das atribuições do comissário econômica para que possa vetar os pressupostos nacionais. Ambos sabem que, por enquanto, o outro recusará essas grandes apostas.  

Durante a era Merkozy, Merkel se acostumou a deixar que a França se vangloriasse como negociadora, merecidamente ou não. Diante da Europa, a Alemanha precisa do Eliseu como contrapeso intelectual de uma preponderância cada vez mais evidente. Por isso, Berlim insiste oficialmente para que o eixo com Paris continue vivo e tão saudável como sempre. Em off, as críticas veladas à “estagnação” econômica francesa denotam certa arrogância de aluno excepcional, mas responsável.

Parece duvidoso que a filosofia inventada por Hollande para a Europa, a integração solidária, possa abrir um caminho a curto prazo. O mesmo funcionário francês citado opina que “a relação com Berlim não mudou de forma substancial, já que um país precisa do outro”, e embora haja diferenças “o fundamental é que continuamos chegando a acordos que permitem a Europa progredir”. Mas também reconhece que, em certos momentos, Paris se pergunta se Merkel tem ciência do "sofrimento” vivido pelos países do Sul. “Entendemos que estão olhando de seu ponto de vista, mas eles não podem ignorar o que está acontecendo, porque a economia alemã está começando a notar os efeitos. Além disso sabem as tensões que isso pode provocar. Mas logo respondem segundo sua história, sua cultura, e, às vezes, também segundo seu cronograma eleitoral”.

O que ninguém nega é que hoje as cartas estão na mesa e o ar está se renovando. Depois de cinco meses no cargo e de meia dúzia de encontros cara a cara com Merkel, Hollande convocou na semana passada a imprensa internacional para tentar se antecipar à chanceler antes da cúpula. Ele até descobriu o truque do ministro da Fazenda alemão, Wolfgang Schäuble:  recorre à retórica do federalismo europeu como cortina de fumaça – ou chantagem – para não resolver o que a França, a Espanha e a Itália consideram “questões urgentes”. Hollande supõe que a Merkel não se importa que a tenham pego, e a sensação em Paris é de que a chanceler agirá em total liberdade enquanto puder, pelo menos até as eleições gerais do próximo ano.

Mas, em geral, as coisas entre Berlim e Paris continuam iguais. “Não houve nenhuma ruptura, somente diferenças de critério”, afirmam fontes francesas para tentar baixar as tensões. Quando se insiste muito, em Berlim falam em “inexperiência” de “alguns” líderes europeus, sem especificar, e alertam sobre a frágil situação de uma França fechada para reformas.