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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Governo Obama e as medidas 'desajeitadas' após morte de embaixador na Líbia


Vinte e quatro horas depois que o complexo dos EUA em Benghazi foi atacado e o embaixador norte-americano assassinado, a tragédia parecia ter mais chances de ajudar a campanha do presidente Barack Obama à reeleição do que de prejudicá-lo.

A Casa Branca já gozava de mais credibilidade pública quanto à política externa do que quanto a praticamente qualquer outro assunto. Quando Mitt Romney reagiu ao ataque com uma dura crítica partidária, retratando um comunicado de imprensa enviado pela embaixada do Cairo antes que qualquer tipo de violência começasse como uma apologia da Casa Branca aos perpetradores, o caminho do presidente pareceu claro. Ele seria disciplinado e cuidadoso, mostraria raiva e firmeza, mas também frieza sob pressão, e deixaria que o efeito nacionalista fazer seu trabalho natural.

O que aconteceu, em vez disso, foi muito estranho. Tendo primeiro repudiado o pedido de desculpas da embaixada aos muçulmanos ofendidos por um filme que questionava seu profeta, o governo Obama decidiu abraçar a premissa do pedido de desculpas, e insistiu que o filme foi o ingrediente crucial da violência do aniversário de 11 de setembro.

Dias depois do ataque, quando ficou claro que a violência em Benghazi foi uma operação da Al Qaida em vez de um protesto, funcionários da Casa Branca continuaram a enfatizar a importância do vídeo “odioso” e “repugnante”, e seu suposto papel como catalisador para o que Susan Rice, embaixadora da ONU, insistiu ter sido um ataque espontâneo.

Esta narrativa foi empurrado nos programas matinais de domingo, nos talk shows de fim de noite e em coletivas de imprensa, por todos, de Rice a Hillary Clinton até o próprio presidente. Quando Obama falou na ONU logo após os atentados, o vídeo foi citado seis vezes no texto; a Al Qaida foi citada apenas uma vez.

Eventualmente, a Casa Branca deixou o vídeo fugir silenciosamente de sua retórica pública, e se concentrou novamente no terrorismo. Mas tudo o que saiu sobre Benghazi pareceu muito mais condenável porque o governo praticou uma estranha negação no início. Os alertas ignorados, as falhas na segurança, o vazamento de detalhes em reportagens e audiências do Congresso – tudo isso teria sido recebido de forma diferente se a Casa Branca não tivesse passado uma semana agindo como se tivesse algo grande a perder chamando o terrorismo de terrorismo.

O que explica essa estratégia de autodestrutiva? Uma possibilidade é que a acusação bastante repetida de Romney sobre a “turnê de desculpas” está correta, e esta Casa Branca não pode resistir ao desejo de apaziguar os inimigos quando os EUA estão sob ataque. Mas o retrato de Romney sobre Obama como Neville Chamberlain sempre foi só uma caricatura, e ninguém que assistiu à convenção democrata deve duvidar do conforto Obama ao se enrolar no manto da guerra contra o terror.

Outra possibilidade, mais plausível é que, precisamente porque a Casa Branca quer ser vista como durona em relação ao terrorismo, reluta em reconhecer a possibilidade de que não colocou a Al Qaida inteira para correr.

Mas até isso parece insuficiente para explicar o erro desajeitado da Casa Branca em Benghazi. Certamente reconhecer a persistência da Al Qaida não prejudicaria o orgulho (justificável) do governo por ter acabado com seu líder. De fato, se a organização de Osama bin Laden ainda existe, por que os norte-americanos não quereriam manter o presidente que deu a ordem em Abbottabad para que ele pudesse terminar o trabalho?

Talvez, então, a verdadeira explicação para a ansiedade da Casa Branca sobre chamar o ataque à embaixada de um ato de terror tenha menos a ver com “quem” do que com “onde”. Não se tratou de a Al Qaida atacar em qualquer lugar: foi um ataque na Líbia, um país onde a Casa Branca de Obama lançou uma intervenção militar não-exatamente-constitucional com uma ligação não exatamente clara com os interesses nacionais.

Num longo perfil de Obama publicado no mês passado pela revista "Vanity Fair", Michael Lewis sugeriu que o presidente temia as consequências de uma única vítima ainda durante a incursão na Líbia, sob pena de gerar uma narrativa sobre como “um presidente eleito para nos tirar de uma guerra num país árabe fez com que os norte-americanos fossem mortos em outro.”

Quanto mais, então, o presidente poderia temer uma narrativa sobre como a intervenção na Líbia ajudou a criar um vácuo de poder no qual grupos terroristas podem operar com impunidade? Isso claramente aconteceu perto de Mali, onde o efeito dominó da derrubada de Muamar Gadaffi ajudaram a empoderar uma filial da Al Qaida. Neste contexto, é fácil ver por que o governo esperaria que o ataque a Benghazi fosse apenas a violência espontânea da multidão em vez de um sinal da crescente presença da Al Qaida na Líbia pós-intervenção.

A única boa notícia para Obama nessa confusão é o fato de que Romney, sempre com a intenção de transmitir dureza, não atacou a decisão original de ir para a guerra na Líbia, nem conectou a própria intervenção aos avanços da Al Qaida no norte da África.

Se o candidato republicano fosse menos beligerante, a Casa Branca poderia estar enfrentando uma crítica mais abrangente e merecida – e a história não seria apenas sobre as especificidades de Benghazi, mas também sobre a possibilidade de que toda a política de Obama na região colocou interesses e vidas norte-americanos em risco.

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