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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Urânio e petróleo da Groelândia atraem interesse chinês e fazem ilha pensar em independência

Novo complexo habitacional em Nuuk, Groenlândia. As potências mundiais estão cada vez mais competindo por influência política e posição econômica no local, além de disputa por exploração de matérias-primas

A Groenlândia pode muito bem se desenvolver em uma grande exportadora de urânio. No sul da ilha, os depósitos de terras raras estão entre os maiores do mundo. Imensas reservas de petróleo e gás estão escondidas além da costa.

E sim, a London Mining, uma empresa de mineração britânica, e o governo autônomo da Groenlândia estão atraindo investidores chineses para investirem US$ 2 bilhões em uma mina de minério de ferro próxima da camada de gelo da ilha, a cerca de 175 quilômetros ao norte de Nuuk, a capital.

Mas vamos permanecer calmos enquanto discutimos essas perspectivas. Já há a especulação por parte de centros de estudos e comentaristas sobre como bases militares chinesas e a rápida independência da Groenlândia da Dinamarca são desdobramentos desses projetos industriais.

Essa especulação está longe de ser de ajuda. A Groenlândia e sua população de 57 mil habitantes estão se preparando para as transições difíceis e para o afluxo potencial de trabalhadores estrangeiros, mas não é o fim do mundo. O investimento chinês pode fornecer às empresas estatais chinesas uma influência política sobre a pequena e economicamente fraca autoridade autônoma, mas aqueles que tomam as decisões em Nuuk estão cientes desses riscos. Eles estão pesando os prós e contras dos investimentos chineses, assim como fazem outros governos.

A população da Groenlândia pode ser pequena, mas a Groenlândia é uma democracia e permanece firmemente dentro do Reino da Dinamarca e da esfera de segurança da Otan e dos Estados Unidos.

A confusão para muitos observadores provavelmente vem de uma leitura equivocada da relação da Groenlândia com a Dinamarca e da questão do Ártico. Oito Estados têm território no Ártico, onde abundam riquezas agora acessíveis. Os inuit, índios, lapões e outros povos do norte da Rússia têm voz ativa, enquanto uma série de Estados não árticos, incluindo a China, Cingapura e Índia, também anseiam por influência. A China agora busca ser um Estado "próximo do Ártico" com interesse nas novas rotas de transporte árticas, no petróleo, minerais e na mudança climática.

Desde o acordo de autonomia de 2009, a Groenlândia tem buscado as oportunidades resultantes. A Groenlândia é pobre e o tamanho do subsídio anual por Copenhague, que atualmente cobre metade do orçamento da Groenlândia, foi congelado em 2009. Novas fontes de renda são altamente necessárias.

Os políticos da Groenlândia fizeram visitas à China e à Coreia do Sul, assim como convidaram investimentos de outros países. A indústria global do petróleo foi cortejada de forma bem-sucedida.

Enquanto isso, um processo de redação da Constituição teve início em Nuuk e medidas foram tomadas para envio de diplomatas de Nuuk para as capitais estrangeiras. Em janeiro, o partido do governo, Inuit Ataqatigiit, confirmou que a independência da Groenlândia da Dinamarca continua sendo seu principal objetivo político. Logo depois disso, eleições foram convocadas para 12 de março. Não é de se estranhar que observadores de fora estejam confusos.

Mas a Groenlândia não deverá declarar independência tão cedo. Foram precisos 30 anos para ela chegar a um governo autônomo. Pergunte a qualquer político em Nuuk quando deverá ocorrer a independência –como fizemos repetidamente– e a resposta será vaga, longa e indicando que daqui a 40 ou 50 anos. A independência é uma visão nutrida por séculos, mas as opiniões diferem, e para a maioria na Groenlândia há assuntos mais urgentes. Pobreza, saúde e educação, para citar algumas poucas.

Além disso, a independência para muitas pessoas na Groenlândia não envolve romper os laços práticos e sociais com a Dinamarca. A maioria das famílias na Groenlândia tem laços familiares estreitos com a Dinamarca; 10% da população vive na Dinamarca, onde estudam, trabalham ou são tratados nos hospitais gratuitamente. Três séculos de comércio, casamentos e visitas reais têm peso.

A verdadeira questão para muitos hoje é como conciliar a independência formal com a manutenção desses laços. Quando, em raras ocasiões, os detalhes da independência são discutidos, o foco é na soberania, na capacidade de conduzir sua própria política externa e no direito de falar sem restrições, mas não no rompimento dos elos cotidianos com a Dinamarca.

A Groenlândia reconhece a estabilidade proporcionada pelo status da Dinamarca como membro confiável da comunidade internacional, por sua economia sólida e por sua Marinha, que fornece proteção à soberania da Groenlândia, controle da pesca e operações de busca e resgate em seu vasto território. Essa é a realidade: complexa, não escrita e confusa.

Agora, quando e em que base legal qualquer futuro arranjo entre a Groenlândia e a Dinamarca poderá ser moldado, ninguém sabe. Há tempo de sobra para pensarem em algo inteligente.

A força do atual arranjo é o que permite transformações fluidas para benefício mútuo de ambas as nações. As operações cotidianas são frequentemente temperadas com dificuldades –a Dinamarca e a Groenlândia estão atualmente brigando em torno da possível mineração de urânio e do afluxo potencial de talvez 3 mil trabalhadores chineses.

Mas essas distrações serão superadas. A Groenlândia permanece no curso, mesmo que o caminho à frente pareça acidentado.


*Martin Breum, um jornalista da " Danish Broadcasting Corporation", é autor de "When the Ice Disappears", sobre o papel da Dinamarca no Ártico moderno. Jorgen Chemnitz é um fotógrafo e colunista político em Nuuk

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