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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Obama volta à realpolitik de Henry Kissinger

Quando Henry Kissinger estava no auge de seu poder, a mídia dos EUA apelidou o então conselheiro de segurança nacional do presidente Richard Nixon de "o verdadeiro presidente". Na época, ele estava viajando ao redor do mundo num ritmo tão alucinante que os jornalistas especularam que devia haver cinco Kissingers (quatro dublês e um real). Naquela época, um repórter perguntou a ele: por que os norte-americanos estão tão fascinado por um jovem de Fürth, na Alemanha, que fugiu dos nazistas aos 15 anos de idade?

Kissinger respondeu: "Eu sempre agi sozinho. Os norte-americanos gostam imensamente disso. Os norte-americanos gostam do caubói que lidera o comboio de trem, cavalgando sozinho à frente."

Na Universidade de Harvard, o imigrante alemão escreveu sua tese sobre o estadista austríaco Clemens von Metternich. Com 388 páginas, a tese fez com que a universidade estabelecesse um limite para o número de páginas. Sua teoria era de que, embora Metternich possa ter destruído temporariamente os primórdios do liberalismo na Europa do século 19 com a ajuda de sua diplomacia secreta, ele também preservou o equilíbrio de poderes.

Kissinger, que celebra seu 90º aniversário em 27 de maio, tem mais em comum com Metternich do que gostaria de admitir, depois de ter deixado sua marca na história com uma série de ações diplomáticas frias. Ele balanceou o frágil equilíbrio do terror entre as potências nucleares da Guerra Fria. E, para seu crédito, as negociações secretas de Kissinger com os vietnamitas comunistas do Norte garantiram a retirada relativamente ordenada das tropas americanas do Vietnã.

Kissinger garantiu a China de Mao como um parceiro estratégico e praticou a realpolitik de Bismarck na América Latina. No sistema de Kissinger, a agitação era mais perigosa do que a injustiça, e um equilíbrio funcional do poder era mais importante do que os direitos humanos.

Suas políticas, no entanto, colidiram muitas vezes com a auto-imagem dos Estados Unidos. O país gosta de acreditar que pode salvar o mundo, quando não reinventá-lo de fato. Mas também quer ser amado, um desejo Kissinger não podia nem queria atender.

Realismo sem escrúpulos morais
Antes de retirada de Washington do Vietnã, Kissinger, junto com o presidente Nixon, bombardearam o Camboja praticamente de volta à Idade da Pedra. Ele também resistiu ao fim precoce da guerra por um longo tempo, e escreveu para Nixon: "a retirada de tropas norte-americanas será como oferecer amendoim torrado para o público americano: quanto mais soldados voltarem para casa, mais será exigido."

Kissinger apoiou o general chileno Augusto Pinochet, que ajudou a realizar uma recuperação econômica, mas Pinochet também provou ser um ditador brutal. A diplomacia de Kissinger abriu a China, mas também tornou as políticas do Partido Comunista de Pequim socialmente aceitáveis. Ele ainda admira abertamente o que considera como a sabedoria da China atual.

Por conta de tal realismo sem escrúpulos morais, ele foi repreendido até mesmo nos Estados Unidos como um monstro manipulador com sotaque alemão, e até mesmo como um criminoso de guerra que "mente da mesma forma que as pessoas respiram", como escreveu o jornalista investigativo Seymour Hersh.

Depois de Nixon, os presidentes norte-americanos, em vez de citar o interesse nacional, preferiram mais uma vez invocar a missão conferida por Deus aos EUA, principalmente o ex-presidente George W. Bush e seus neoconservadores. Eles até quiseram libertar o mundo do "eixo do mal". Mas os neo-cons são passado, enquanto o realismo de Kissinger, nascido no século 19, continua válido, como o presidente Barack Obama, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, demonstra hoje.

Durante a campanha eleitoral, o candidato democrata Obama se retratou como um "cidadão do mundo" idealista. Mas mal chegou ao poder e começou a seguir a máxima de que os idealistas fazem ótimos discursos, enquanto os realistas moldam a política.

Desta forma, o presidente se transformou num juiz solitário que pessoalmente aprova qual islamista deve ser morto com um ataque teleguiado em algum lugar do mundo. Ele inaugurou uma nova era de conflito com investimentos pesados na "guerra cibernética". E Obama processa os traidores de segredos de Estado de forma ainda mais implacável do que qualquer um dos seus antecessores.

O presidente reconheceu que a guerra friamente que os norte-americanos cansados da guerra preferem o progresso em seu país ao progresso em outras parte do mundo. Este é um dos motivos pelos quais ele ameaçou o ditador sírio Bashar Assad, mas fez pouca coisa em termos de ação concreta. Não muito diferente da abordagem de Kissinger no Chile, Obama faz vista grossa enquanto os aliados dos Estados Unidos, Bahrain e Arábia Saudita, subjugam seu povo, ou quando a China persegue dissidentes. O escritor norte-americano Jacob Heilbrunn chama essa abordagem de "neo-Kissingerismo", e observa: "Obama pode até começar a falar sobre assuntos internacionais com um sotaque alemão."

Kissinger é um realista com uma fraqueza: ele é vaidoso, e nunca foi indiferente à forma como as pessoas se sentem em relação a ele. Ele deve ficar com inveja ao ver que Obama é tão popular em muitas partes do mundo, apesar de suas ações a sangue frio. Mas à medida que completa 90 anos, Kissinger provavelmente aprecia a ideia de que o presidente se parece com ele cada dia mais.

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